Entre velas e memórias: afinal, por que comemoramos o aniversário?
Tem gente que diz que aniversário é só mais um dia. Discordo. É um rito — com direito à expectativa de como será o seu momento. Uma estratégia que a humanidade inventou para lembrar que estamos vivos e, de quebra, que estamos ficando mais velhos. É universal: do Egito Antigo, onde faraós celebravam não o nascimento, mas a coroação, à Grécia, onde se acendiam velas para homenagear a deusa Ártemis (sim, as velas no bolo não são invenção nossa).
Este texto não trata de ciência nem de decifrar ritos, mas de opinião e sentimento. Para mim, aniversário é aquela espera silenciosa que começa semanas antes. Não é só sobre bolo ou presente (ok, também é um pouco). É sobre sentir-se protagonista de um dia só seu, mesmo que, no fundo, você divida essa data com milhões de outras pessoas no mundo.
É também sobre abraços, mensagens nas redes sociais e, se tiver sorte, alguns “parabéns” ditos no tom certo, com afeto legítimo que toca diferente. E, por outro lado, entender que é natural que alguém que esteve ao seu lado no aniversário anterior não esteja presente neste.
Aniversariar é como esperar um ônibus que você sabe que vem todo ano: você imagina, cria expectativas… até que, de repente, as pessoas ao redor começam a cantar aquela música, batendo palmas fora do ritmo, que todo mundo conhece mas poucos cantam afinado — até chegar ao inevitável “com quem será…”.
A cada ano, colecionamos memórias e deixamos algumas ilusões pelo caminho. É quando percebemos que o “futuro” sonhado aos 15 anos já é o presente — e que ele raramente veio com carro conversível ou casa na praia. Mas aniversariar não é sobre sucesso ou fracasso: é sobre resistência. É olhar no espelho e pensar: “Ainda estou aqui. E com história para contar.”
Bom ou ruim? Você decide. Eu escolho o lado bom: o bolo, o presente, a comemoração, a vida. Porque cada vela apagada não é só sobre idade, mas sobre todas as versões de nós que chegaram até aqui. É aceitar que o tempo nos transforma — e que é justamente isso que dá sentido à vida.
Então, respondendo à pergunta do título — não como cientista social, nem como filósofo de mesa de bar — comemorar o aniversário é um pacote completo: sorriso, nostalgia, frio na barriga e, sim, um certo medo do futuro. Tudo embrulhado no mesmo laço.
Digo isso porque, adivinha? Hoje é meu aniversário. Então, parabéns para mim — e que venha mais um ano, aqui, dando meus pitacos.
Rosinaldo Nunes Cardoso é Administrador, Especialista em Gestão de Pessoas e Estratégias Competitivas, Mestre em Administração com foco em Empreendedorismo, Inovação e Mercado, e Diretor de Pesquisa e Gestão do IPPLAN – Instituto de Pesquisa e Planejamento de Campo Mourão.

