O bolsinho imperial e o bolso presidencial
Muito se fala hoje sobre os gastos do Palácio do Planalto. Viagens, cartões corporativos, estruturas administrativas, assessorias sem fim. O orçamento da Presidência da República, somadas todas as despesas diretas, chega facilmente à casa dos bilhões de reais por ano. Mas vale olhar para trás e lembrar de um detalhe curioso: o “bolsinho” de Dom Pedro II.
O imperador recebia uma dotação fixa de oitocentos contos de réis por ano — o equivalente, em poder de compra atual, a algo em torno de R$ 40 milhões anuais. Parece muito, mas no contexto da época representava apenas 0,5% do orçamento nacional. E mais: Pedro II nunca aceitou aumento de sua verba, mesmo quando o Parlamento lhe ofereceu. Ao contrário, chegou a devolver parte ao Tesouro e destinou recursos à Guerra do Paraguai, a bolsas de estudo e a doações científicas.
Era, sem dúvida, um chefe de Estado austero. Não acumulava fortuna pessoal, não usava dinheiro público para luxos pessoais e ainda anotava no diário: “Nada devo, e quando contraio uma dívida, cuido logo de pagá-la”. Difícil imaginar algo semelhante nos dias de hoje.
A comparação incomoda. No século XIX, o Brasil sustentava um imperador com custos reduzidos e um certo zelo pelo uso do dinheiro público. No século XXI, a Presidência custa milhares de vezes mais, e a sensação é de que cada governo, de diferentes partidos, se acostumou a tratar o orçamento como um direito adquirido — e não como um peso sobre os ombros do contribuinte.
O “bolsinho imperial” pode parecer coisa de museu, mas revela uma lição atualíssima: governar não é gastar mais, mas gastar com responsabilidade. Dom Pedro II, com todas as suas contradições, entendia isso. Já nós, 140 anos depois, seguimos pagando caro para aprender.
Jair Elias, historiador

