Projetos ‘Registre-se’ e ‘Aldeia Viva’ garantem cidadania a famílias indígenas

O Cartório de Registro Civil de Campo Mourão participa de um projeto nacional que tem transformado a vida de pessoas sem registro civil. Trata-se do “Registre-se!”, programa do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) criado para combater o sub-registro civil de nascimento e ampliar o acesso à documentação básica, primeiro passo para o exercício da cidadania.

Em Campo Mourão, a iniciativa resultou no registro civil da família do indígena Antonio Tupã Jemugarai Acosta e de seus seis filhos (Marcos Jeroky Poty Acosta, Guilherme Kunumi Poty Acosta, Marcelo Acosta, Juliano Rey Vy Ju Acosta, Gabriel Mbaraka Miri Acosta e Lucas Tupã Acosta), moradores da aldeia Verá Tupã’i, na comunidade Barreiro das Frutas. Eles receberão as certidões de nascimento no próximo dia 4 de novembro.

A oficial substituta do Cartório de Registro Civil de Campo Mourão, Lilian Rosana Goldoni Takeda, destaca que a ação está sendo realizada em parceria com o projeto social “Aldeia Viva”, desenvolvido pelo Centro Universitário Integrado. “Seu Antônio e a família possuíam apenas o registro administrativo de nascimento indígena, feito pela Funai, mas esse documento não permite o acesso a serviços civis, como benefícios sociais, escola e saúde. A partir do ‘Registre-se’, conseguimos viabilizar a certidão de nascimento, que é o documento base de qualquer cidadão”, explicou Lilian.

Programa permanente

Em 2025, o CNJ tornou o “Registre-se” uma política pública permanente, com a publicação do Provimento nº 199, que institui o Programa Nacional de Erradicação do Sub-registro Civil de Nascimento. A nova norma substitui o Provimento nº 140/2023 e reforça a integração entre tribunais, cartórios, defensorias públicas, Ministérios Públicos e órgãos de identificação em todo o país.

Além da tradicional Semana Nacional do Registro Civil, realizada em maio, o programa passa a funcionar durante todo o ano, permitindo atendimentos contínuos voltados a povos indígenas, quilombolas, migrantes, ribeirinhos, pessoas em situação de rua e privadas de liberdade.

De acordo com Lilian, o Paraná é um dos estados com menor índice de sub-registro civil do Brasil, reflexo de um trabalho contínuo de conscientização.

“Na nossa região, são poucas as pessoas sem registro de nascimento. Os pais têm consciência da importância do documento, e a rede de saúde ajuda muito nesse processo, encaminhando os recém-nascidos logo após o parto”, destacou.

Ela reforça, porém, que ainda há famílias vulneráveis que precisam ser alcançadas. “O acesso é gratuito e simples. Muitas pessoas desconhecem esse direito. Em Campo Mourão, o CRAS faz a triagem e encaminha os pedidos ao cartório. O primeiro registro e a primeira via da certidão são totalmente gratuitos.”

Projeto “Aldeia Vida” do Centro Universitário Integrado atua desde 2022 na melhoria da qualidade de vida da comunidade indígena no Barreiro das Frutas

Projeto Aldeia Viva

O projeto de extensão “Aldeia Viva”, do Centro Universitário Integrado, atua desde 2022 na melhoria da qualidade de vida da comunidade indígena com atendimentos voluntários nas áreas de saúde, educação e cidadania. A iniciativa reúne professores e estudantes de diversos cursos, como Enfermagem, Nutrição, Odontologia, Medicina, Agronomia, Biomedicina, Farmácia, Análise e Desenvolvimento de Sistemas e Direito.

De acordo com a diretora de graduação do Centro Universitário Integrado, Mariana Pavanelli, o projeto promove também atividades educativas e tecnológicas, com aulas de informática e jogos educativos para auxiliar o aprendizado do português, já que as crianças são alfabetizadas inicialmente em guarani.

“É um trabalho gratificante. Além de prestar atendimentos, levamos conhecimento e aprendemos muito com a cultura deles. As crianças, por exemplo, já produzem desenhos sobre higiene bucal com base nas orientações da odontologia. Isso mostra que o projeto vai além do atendimento, tem um papel de conscientização e transformação social”, destacou Mariana.

Com o apoio do Rotary Club de Campo Mourão Lago Azul e do Rotary Club Gralha Azul, o projeto já realizou centenas de atendimentos e conta atualmente com cerca de 20 voluntários. “Além do compromisso social do projeto, a iniciativa é uma oportunidade dos nossos estudantes aprenderem sobre outra cultura e como se relacionar com ela. Ou seja, temos um ganho pedagógico muito valioso com o projeto”, ressaltou Mariana.

Mais do que documentação e serviços, o trabalho conjunto entre o cartório, a universidade e as instituições parceiras representa dignidade, identidade e cidadania para famílias que antes estavam invisíveis ao Estado. “Nos sentimos orgulhosas de fazer parte desta transformação social”, complementaram Mariana e Lilian.

Atividades educacionais também fazem parte da iniciativa

Serviço

Programa: Registre-se! — CNJ
Local: Cartório de Registro Civil de Campo Mourão
Público-alvo: pessoas sem registro civil, em especial indígenas, pessoas em situação de rua e privadas de liberdade
Gratuito: sim, tanto o primeiro registro quanto a primeira via da certidão
Prazo legal para registro de nascimento: até 15 dias após o parto, prorrogável para 45 dias