“CARNE VALE”

“Ó abre alas que eu quero passar

Ó abre alas que eu quero passar

Eu sou da lira não posso negar

Eu sou da lira não posso negar”

Abre Alas – Chiquinha Gonzaga, 1899 

                Se tudo vira cinzas na quarta-feira a causa é o fogo da folia da carne, é a  proximidade do calendário, Quaresma e Carnaval têm relação.

                No século XI a Igreja Católica instituiu a Semana Santa, Quaresma, quarenta dias de jejum, proibido comer carne. Como nem todos estariam dispostos a ficarem tanto tempo privados de consumir carne e com o jejum também a ausência de qualquer festa, criou-se então uma espécie de bota foraantecedendo a Semana Santa, para festarem muito, aproveitar ao máximo. 

                Origem latina, carne é mesmo carne, tanto no sentido da ingestão ou do exibicionismo dos corpos, quase ou desnudos por completo. A palavra valle significa prazer.

                Aporta com os portugueses no Brasil-colônia o gosto pela festa – seja no melhor ou pior sentido – a depender do ângulo de visão. A festa lusitana foi aqui somada com a alma africana e indígena. Sem exagero,  o Carnaval no Brasil é a maior festa do mundo em tamanho, repercussão, importância, ela exprime a aculturação das nossas misturas e identidades presentes e arraigadas, do índio, do português e do negro, para seguir a ordem de tempo de existência neste território. 

                O significado de folia é: Dança, brincadeira, pândega, folgança no ritmo do pandeiro. Folia também significa discussão, briga, confusão. De uma maneira ou de outra, folia é algazarra.

                O fogo carnavalesco com cinzas e a quaresma perpassam com máscaras usadas/retiradas se cruzam na profusão/confusão: folia de reis, folia de pobres.

                Assim como há muitas décadas, as antigas marchinhas fazem o maior sucesso. Bastará um trechinho e logo o caro leitor saberá a letra e música! O que muitos de nós esquecemos ou conhecemos é a autoria de tais canções, infelizmente. 

                Além da genial Chiquinha Gonzaga, citada abaixo do título desta Coluna, a seguir trechos, autores e o ano das músicas. Não é exagero, daqui a um século elas continuarão sendo cantadas, podem cobrar de mim! E só me encontrarem:

                O teu cabelo não nega mulata/Porque és mulata na cor/Mas como a cor não pega mulata, Mulata eu quero o teu amor (…). O Teu Cabelo Não Nega, de Lamartine Babo-Irmãos Valença, 1931.

                Linda morena, morena/Morena que me faz penar/A lua cheia que tanto brilha/Não brilha tanto quanto o teu olhar (…). Linda Morena, de Lamartine Babo,1932.

                Ô balancê balancê/Quero dançar com você/Entra na roda morena pra ver/Ô balancê balancê. Braguinha-Alberto Ribeiro, 1936.

                Mamãe eu quero, mamãe eu quero/Dá chupeta pro bebê não chorar (…). Mamãe Eu Quero, Jararaca-Vicente Paiva, 1936.

                Ó jardineira porque estás tão triste/Mas o que foi que te aconteceu/Foi a camélia que caiu do galho/Deu dois suspiros e depois morreu (…). A Jardineira, de Benedito Lacerda-Humberto Porto, 1938.

                Se você fosse sincera/Ô ô ô ô Aurora (…). Aurora, de Mário Lago-Roberto Roberti, 1940.

                Allah-lá-ô, ô ô ô ô ô ô/ Atravessamos o deserto do Saara/O sol estava quente/Queimou a nossa cara/ (…). Allah-Lá-Ô, de Haroldo Lobo-Nássara, 1940.

                Você pensa que cachaça é água/ Cachaça não é água não/Cachaça vem do alambique/E água vem do ribeirão/(…). Cachaça, de Mirabeau Pinheiro-Lúcio de Castro-Heber Lobato, 1953.

                Ei, você aí!/Me dá um dinheiro aí!/Me dá um dinheiro aí! (…). Me Dá Um Dinheiro Aí, de Ivan Ferreira-Homero Ferreira-Glauco Ferreira, 1959.

                Olha a cabeleira do Zezé/Será que ele é/Será que ele é/Será que ele é bossa nova/Será que ele é maomé/Parece que é bossa nova/Parece que é transviado/Mas isso eu não sei se ele é/ (…). Cabeleira Do Zezé, de João Roberto Kelly-Roberto Faissal, 1963. 

Fases de Fazer Frases (I)

                A procura da cura cura a procura.

Olhos, Vistos do Cotidiano

                Pipoca é a palhaçada no melhor sentido, personagem tão bem encenado por Raquel Aparecida da Cruz, de Campo Mourão. Para rir quando ela interpreta, Raquel antes se concentra, leva a sério o picadeiro. Após os aplausos, o espetáculo circense não termina, o contato com as crianças é efervescente.

                Raquel recebeu o prêmio Sebrae Mulher de Negócios, categoria microempreendedor. É o reconhecimento ao talento e capacidade profissionais. A Pipoca Raquel ao ganhar um justo prêmio não é surpresa, é apenas  natural o  reconhecimento que ela já alcançou e mantém como artista na teatralização da imaginação e da realidade que se fundem como magia, gargalhadas, mais do que sorriso. Parabéns!  

Reminiscências em Preto e Branco

                Carnaval… A vida é enredo, arremedo, arremate, remendo… Reminiscências…