Arte de engolir sapos
O imaginário popular cria imagens para cada situação da vida. Quem se dá ao trabalho de colecionar frases de para-choque de caminhões, sabe disso. Essa ideia passa pela cabeça deste colunista ao acompanhar o que ocorreu na terça-feira. Uma dessas frases foi cunhada nesse emaranhado de interesses que marcaram a recente eleição para a vaga de Conselheiro do Tribunal de Contas: o deputado Elton Weber meteu-se numa camisa de onze varas ao desabafar e verbalizar uma situação que muitos deputados devem ter atravessada na garganta. Pior: sem poder dar nome aos bois como exigiu o líder do governo, Ademar Traiano. Por traz da denúncia que fez de que, por várias vezes foi pressionado a votar em Fábio Camargo, quando já havia um compromisso formal da maioria dos parlamentares com a candidatura de Plauto Miró, veio o desabafo: decidiu falar por que não suporta mais o jogo de dissimulação e o faz-de-conta no meio político. Em realidade fez o que muitos não tinham condições de assumir. A circunstância permitiu que muitos deputados mudassem de posição, acobertados pelo malsinado voto secreto. De há muito se sabe que a regra democrática da igualdade entre os poderes da República, só existe no papel. Pressões ocorrem a cada instante, como ainda agora se vê, quando (de graça!) Dilma aumenta a verba para emendas individuais dos parlamentares federais. A cada passo, um poder se sobrepõe a outro, dependendo da conveniência. Por isso Nereu Ramos, um prócer catarinense de grande expressão nacional no passado, definiu a política como a arte de engolir sapo. O presente episódio, que já afastou um presidente do Tribunal de Justiça que não percebera que o surgimento do CNJ, com a força de atuação que tem demonstrado, era o indicativo de que desembargador pode muito mas não pode tudo, está longe de ser terminado. A posição do deputado Welter, que até seus corajosos companheiros de partido se preocuparam em dela se afastar, é a ponta do iceberg. Muita água ainda vai passar debaixo da ponte.
Nova farsa
A preocupação demonstrada pelo PMDB, que pressionou a presidente Dilma para forçar sua bancada sustentada a peso de emendas e benesses a votar a mini-reforma eleitoral (que de interesse popular não tem nada, apenas atende aos interesses dos parlamentares), sob ameaça de não aprovarem mais nada que interessasse ao governo, prova o quão pouco as manifestações populares iniciadas em junho e agora desvirtuadas pelos Black Blocs, preocuparam suas Excelências.
Otimismo antecipado
A licitação do campo de Libra, no pré-sal, com apenas um consórcio participante quando se anunciava algo em torno de trinta interessados, desencadeou uma série de previsões. A cada passo a presidente ou ministro vêm a público, antecipando quanto de benefícios se vai ter ‘nos próximos … 35 anos’. Equivalem a previsões na agricultura: pela florada, já se está comercializando a safra. Sem a humildade e o cuidado que a experiência dos agricultores recomenda: Se Deus e o tempo ajudarem, vai ser boa.
Cartel?
Apesar de autoridades do setor , incluindo-se a presidente da Petrobras, Graça Foster, garantirem que a estatal petrolífera não precisará reajustar combustíveis para bancar sua participação de R$ 6 bilhões no consórcio vitorioso do pré-sal, um aumento significativo na gasolina e no álcool pegou os motoristas de surpresa. Nesse caso, como o aumento foi quase geral, a formação de cartel não pode ser descartada pelo Cade. Apesar dos desmentidos oficiais, autoridades e comentaristas econômicos não se entendem nas opiniões sobre a situação da Petrobras.
Em choque
Não seria a primeira vez que aumentos no setor ocorrem em conjunto. Ainda agora, mesmo com atraso de cinco anos, postos de combustíveis da região de Londrina são multados pela formação comprovada de cartel, investigada pela polícia durante a operação Medusa III, deflagrada em 2007. A lamentar apenas, como sempre, o imenso atraso nas decisões do Judiciário.
