Estratégia perigosa

No delicioso livro de Mário Palmério, Chapadão do Bugre, retratando a política do interior de muitas décadas atrás em pequena cidade do nordeste (a verdade é que não mudou muito lá e aqui), em discussão o delicado momento em que o grupo dominante era ameaçado, um personagem questiona o coronel: O  senhor mesmo é que vive dizendo que não se pode deixar a raiva escurecer o juízo.

Os petistas mais radicais deveriam fazer uma incursão por esse livro. Contestar o STF no julgamento do mensalão que ainda tem alguns capítulos finais,  não é uma boa estratégia. As manifestações programadas em defesa do  José Dirceu (e o João Paulo Cunha?), só podem aumentar o ambiente de tensão, neste momento desfavorável ao partido. Ainda mais com novo escândalo nas telas das TVs. Com potencial de chegar novamente a Dirceu, com quem Rosemary trabalhou e até em Lula, com quem a ex-frequentadora do AeroLula em várias  viagens internacionais, trocava frequentes telefonemas nos últimos tempos. Caberia inclusive ao presidente do PT em nível regional, deputado Ênio Verri, alertar seus aliados da inoportunidade dessas manifestações. Do mesmo modo, a blindagem que a base de apoio do governo no Congresso está fazendo,  à possibilidade da moça ser ouvida sobre o novo episódio, deixa margem a especulações. Agora que veio a público, o melhor a fazer é esclarecer, jogando quem for responsável às feras. A afirmação de que os principais envolvidos já foram demitidos, não esvazia o mal feito. Como lembrava Tancredo Neves, a versão vale mais que o fato. E versões não faltam, mantendo o novo escândalo em pauta, quando o governo o que mais queria, era se livrar dele.

Dosimetria encerrada

A parte mais importante do julgamento do mensalão praticamente já terminou, com a definição das dosimetrias. Dos mais importantes, Roberto Jefferson, por ter sido o delator do esquema recebeu pena de 7 anos (direitos equivalentes a delação premiada) e os cumprirá em regime aberto. Já, João Paulo Cunha que inclusive já fora penalizado com a perda do seu direito de concorrer à prefeitura de Santo André, vai cumprir parte da pena em regime fechado..

Decisão difícil

O que cria uma situação a ser analisada pelo Supremo na próxima semana: ele e os outros dois parlamentares punidos com pena de prisão terão seus mandatos cassados? Se não, como insistem parlamentares que reivindicam o direito de que sejam submetidos a julgamento na Câmara, sobrará aos deputados uma missão espinhosa: cassá-los  ou anistiá-los. Neste caso afrontando  mais uma vez a opinião pública.

Respostas…

O outro problema: como cumprirá João Paulo os deveres de deputado, recolhido a presídio. Nos casos em que só cabe dormir na cadeia, podendo sair para trabalhar, há ainda uma questão. A Câmara na prática só funciona de terça a quinta. E os outros dias da semana, como serão cumpridos. São respostas que o STF terá que dar na próxima semana.

Menos mal

Os dois paranaenses considerados culpados ainda tiveram um resultado melhor: José Borba, a época líder do PMDB na Câmara, hoje prefeito de Jandaia do Sul, teve a pena de prisão em regime aberto, substituída por pagamento de R$ 72 mil a instituição sem fins lucrativos e multa de R$ 360 mil. Pode ainda perder o final do mandato de prefeito e ficar impedido de exercer cargos públicos. Emerson Palmieri, teve os 4 anos de prisão transformados em penas pecuniárias: R$ 39 mil de doação a entidade e multa de R$ 247 mil.

Em choque

Passaram-se oito anos da promessa vã do abaixa ou acaba!, mais dois do governo atual e o pedágio só faz aumentar. Vai subir 4,69% às vésperas do verão em que as famílias descem para a praia e os homens vão no final de semana e voltam na segunda-feira para trabalhar. Menos mal que uma promessa do secretário Pepe Richa está sendo cumprida: o Ferryboat de Guaratuba vai baixar um pouco: para R$ 4,80.