Hipocrisia nacional

Quem conhece a história da proibição do jogo de bicho, ao tempo do governo de Eurico Gaspar Dutra, sabe que essa é uma das maiores hipocrisias de um país pleno delas. Esta coluna já dedicou bons espaços ao assunto. Essa proibição de um jogo que era a diversão do povo (joga-se centavos),  só serviu para corromper polícias, na medida em que ainda anda por aí em qualquer boteco, sem pagar impostos como seria legítimo se fosse legalizado. Ao revés, o governo, fechando os olhos para essa clandestinidade corruptora, aproveitou-se dessa proibição para transformar a Caixa Econômica no maior cassino virtual do mundo. Às claras. Com direito até a generosos espaços pela televisão que, não tendo nada a ver com o peixe, denuncia o jogo-de-bicho em foco nos seus programas policiais mas fatura os espaços que a Caixa lhe oferece. Com detalhe adicional: as concessões para distribuição dos jogos, as chamadas casas lotéricas, dadas a políticos amigos da corte, agora acrescidas do direito de bancarem também pagamentos de boletos, quais sucursais da Caixa. Pelo alto risco que passaram a sofrer em função de assaltos, recebem outro benefício para compensar os investimentos em segurança. Acaba de ser legalizada a possibilidade de tais casas lotéricas bancarem os bolões, uma fórmula que a criatividade do povo já instituíra, quando os prêmios dos inúmeros jogos bancados pela Caixa chegava a níveis  tentadores. Com mais um porém: as lotéricas aceitam o bolão, dão comprovantes legais a cada apostador aos módicos preços de R$ 1,05,  R$ 1,75, R$ 1,95 a unidade. Dez participantes de um bolão da Mega rendem R$19,50 para a lotérica. Assim acabam as reclamações de que ganham pouco com alto risco. De outro modo ameaçavam fazer greve como a que hoje movimenta os médicos associados a planos de saúde. Estes, com inteira razão! 

Apelo…

Nos próximos dias a Justiça Eleitoral  deverá definir liminarmente (sempre haverá recursos a instâncias superiores) alguns casos ocorridos nas eleições municipais, relativos a candidatos atingidos pela Lei da Ficha Limpa. Situações que nem mereceriam análise. Candidatos a prefeito que atingidos por ela, abriram mão da candidatura em favor de outro companheiro partidário, quando vencedores, têm a eleição garantida.

…insustentável

Outros que a desafiaram,  afrontando uma lei conseguida pela intervenção popular à custa de mais de 1 milhão de assinaturas, que tendo o direito de ter a candidatura substituída até momentos antes da eleição, insistiram em mantê-la, achando inclusive que obteriam mais de 50% dos votos, o que obrigaria a nova eleição mas manteria a aura de seus prestígios, agora apelam para a Justiça Eleitoral. Se levada a sério a Lei da Ficha Limpa, em vão!

A palavra é esperança

Meio fora de moda, quando se trata de votações que atendem ao apelo popular, a esperança renasce quando mais uma vez se anuncia a reforma eleitoral. Mudanças capazes de moralizar a combalida política brasileira moldada atualmente ao interesse de políticos matreiros. Mesmo que fatiada, como o julgamento do mensalão. Ainda assim, espera-se, com medidas saneadoras.

Ideia redentora

Idéias defendidas pelo recém-falecido político Affonso Camargo Neto, certamente faria bem ao cenário político brasileiro: obrigatoriedade de lançamento de candidaturas próprias por todos os partidos, nas eleições majoritárias. Nada de vender os segundos (‘gratuitos’) de que dispõem pela Justiça Eleitoral, nos espaços radiofônicos e televisivos. Significa dizer: nada de coligações montadas a peso de ouro.

Em choque

Informação aos menos versados na política: a ideia acima, defendida pelo Affonsinho, obrigaria partidos que têm 15, 290 segundos ou pouco mais a lançarem candidato próprio. Os que não lançassem perderiam direito às famigeradas verbas partidárias e aos espaços gratuitos, suas razões de existirem.