Pré-candidato ao Senado, Sergio Moro afirma que parlamento precisa de ‘vozes fortes e independentes’

O ex-juiz e ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro (União Brasil), cumpre agenda em Campo Mourão na manhã desta quinta-feira (28). Às 9 horas ele participou de uma reunião com o prefeito Tauillo Tezzelli (Cidadania), em seu gabinete, na prefeitura. Em seguida de um encontro com a diretoria da Coamo.

Neste meio tempo, o ex-juiz concedeu uma entrevista exclusiva à TRIBUNA em que falou sobre sua pré-candidatura ao Senado pelo Paraná e reforçou o compromisso contra a corrupção como uma das principais bandeiras. Moro defendeu que o Senado “precisa de vozes fortes e independentes”. Disse que sua pré-candidatura está firme e que não existe volta. “Como se diz: está escrito nas estrelas. Só vamos formalizar na convenção. Temos que esperar mais umas duas semanas para que a gente tenha o quadro político definido no Paraná”, afirmou.

O pré-candidato destacou que sua carreira pública como juiz e Ministro da Justiça dá ‘credibilidade’ e ‘legitimidade’ a ele para a disputa ao Senado Federal. “No Paraná foi onde eu consegui fazer o trabalho profissional mais relevante da minha carreira pública que foi a Operação Lava Jato, possível com o apoio da população paranaense. Então eu acho que posso dizer que juntos nós escrevemos uma página a partir do Paraná na história do Brasil e é o que a gente quer fazer de novo”, afirmou.

O ex-juiz falou ainda que não se arrepende em ter deixado a carreira de magistrado para entrar na política, analisou a polarização das Eleições à presidência da República entre Lula e Jair Bolsonaro no atual cenário político, rebateu críticas à Lava Jato sobre supostos erros ou excessos, apresentou propostas e comentou sobre o ambiente político atual em que o presidente Jair Bolsonaro insiste na insegurança do sistema eleitoral brasileiro.

Sergio Moro tem 49 anos. Hoje filiado à União Brasil, atuou como juiz em primeira instância na Operação Lava Jato. Deixou magistratura para ser ministro da Justiça e Segurança Pública no governo de Jair Bolsonaro. Deixou o Ministério um ano e quatro meses depois para se viabilizar como pré-candidato à Presidência da República na eleição de 2022. Leia a entrevista completa abaixo.

Tribuna do Interior – O senhor entrou na política pelo Podemos como pré-candidato a presidente da República. Depois mudou para o União Brasil, tentou a candidatura por São Paulo como deputado federal, mas o Tribunal não aceitou seu domicílio. Então voltou ao Paraná anunciando pré-candidatura ao Senado. A que o senhor atribui essa mudança de planos?

Sergio Moro – Eu vim para política, estava no setor privado. Mas senti aquela sensação de missão incompleta e a consciência ‘soprando’ que eu deveria tentar a carreira política para levar minhas bandeiras, que são o combate à corrupção, segurança pública, mas também tratar de outros temas que são importantes para a população. E me coloquei inicialmente como pré-candidato a presidente porque havia uma expectativa de conseguir romper esta polarização política que no fundo faz mal para o País porque divide muito. E as pessoas, pelo que a gente tem percebido, querem soluções reais para os problemas delas e não ficarem perdidas em meio a brigas ideológicas. No entanto, durante esta caminhada o partido onde eu estava, o Podemos, apesar de suas virtudes, é um partido que tem uma estrutura pequena e insuficiente para uma campanha presidencial. Não houve alianças no âmbito da terceira via, não só em relação a minha pré-candidatura, mas também em relação às demais. E de outro lado começou a faltar apoio político dentro do próprio partido. Isso me fez ter que deixar o Podemos e readequar meu percurso, mas eu não sou de desistir e quero levar minhas bandeiras. Se não pode dessa vez ser uma pré-candidatura presidencial então que seja buscando uma posição no Senado, que precisa de vozes fortes e independentes.

Essa reviravolta não pode deixar a mensagem de que o Paraná foi a última opção?

De forma nenhuma. Antes era uma pré-candidatura presidencial pelo Paraná, evidentemente. Depois houve um pedido do partido para que eu me filiasse em São Paulo por ser o maior colégio eleitoral do País. Tendo havido a decisão de permanecer no Paraná, isso até declarei mais de uma vez publicamente, eu fiquei radiante porque aqui foi onde eu nasci e constitui família. Morei em todo o Estado. E foi aqui onde eu consegui fazer o trabalho profissional mais relevante da minha carreira pública que foi a Operação Lava Jato, que só foi possível com o apoio da população paranaense. Então eu acho que posso dizer que juntos nós escrevemos uma página a partir do Paraná na história do Brasil e é o que a gente quer fazer de novo.

No Paraná o senhor vai disputar a vaga contra Álvaro Dias que foi um dos incentivadores de sua candidatura a presidente pelo Podemos. Isso não gerará atrito entre vocês?

Acredito que não. E não está muito certo que o senador Álvaro será candidato à reeleição. É uma pessoa que eu respeito, de todo modo tenho minha vida pública independente do Senador. Me destaquei na carreira pública. Como juiz, a gente rompeu a impunidade da corrupção, na segurança pública reduzimos a criminalidade e fomos para cima do crime organizado. Se acontecer deles ser um competidor, será tratado com respeito e o debate será no mais alto nível. Mas não creio que isso esteja muito assegurado. A minha pré-candidatura está firme. Está escrito nas estrelas, como se diz. Não existe nenhuma volta. Só vamos formalizar na convenção. Temos que esperar mais umas duas semanas para que a gente tenha o quadro político definido no Paraná.

Há resistência dentro da União Brasil à sua candidatura por parte da ala bolsonarista?

De forma nenhuma. Tanto da direção estadual como nacional do partido temos pleno apoio. Por isso estamos viajando o Paraná visitando todas as cidades. E estou acompanhado do deputado Felipe Francischini, que é o presidente do partido. Temos o projeto do Senado, mas existe um projeto maior também que é construir um grande partido de centro-direita no País, mas que seja um centro moderado voltado à economia liberal e também com projetos sociais robustos e com a minha marca da integridade na política.

Quais suas propostas como pré-candidato ao Senado?

Nós preparamos cinco propostas para transformar o Paraná e o Brasil. Elas são das áreas de combate à corrupção, segurança pública, geração de emprego e renda, educação, saúde e uma parte relacionada à liberdade e à dignidade das pessoas e das famílias. Uma das propostas é o fim do foro privilegiado, que é algo que tem que ser discutido no Congresso. A gente também defende a criação de delegacias especializadas estruturadas para combater a corrupção nos estados também no âmbito da Polícia Federal, com autonomia e com uma proteção aos investigadores. Isso pode ser implementado nacionalmente ou no estado. Propomos também forças-tarefas especiais para desmantelar quadrilhas do crime organizado, o que ainda é um problema no Brasil. Mas para isso precisamos de vozes independentes e fortes no Senado. Vozes que precisam ser respeitadas nacionalmente. Pelo trabalho que eu fiz na Lava Jato e pelo trabalho no Ministério da Justiça eu acho que posso dizer, não quero soar errado, quero dizer isso com humildade, sou uma voz reconhecida nacionalmente que é sempre ouvida.

O senhor teve protagonismo muito grande como juiz da Lava Jato, tendo como principal opositor o PT que agora tem o candidato Lula. Depois deixou a carreira de juiz para assumir o Ministério da Justiça no Governo de Bolsonaro. Deixou o governo o acusando de possível tentativa de interferência na Polícia Federal. No atual cenário político, as Eleições estão polarizadas entre Lula e Bolsonaro. Como o senhor vê a possibilidade de vitória de um ou de outro?

Essa polarização é ruim e divide o País. Ela não soluciona os problemas dos cidadãos. O União Brasil tem um pré-candidato a presidência que é o Luciano Bivar, nós vamos lutar até o fim pela candidatura dele. É um partido que tem estrutura, tem tempo de TV e a gente vai ter a possibilidade de apresentar nossas propostas. Não trabalho com nenhuma possibilidade ou hipótese no momento que não seja a vitória [do Bivar] e romper a polarização. Se a polarização se confirmar vamos precisar ter um Congresso forte. Daí a necessidade de o cidadão brasileiro prestar atenção em quem ele vai eleger para Senador, Deputado Federal, Estadual e Governador. Talvez o espaço nós tenhamos de melhoria do Brasil nos próximos anos venha de uma outra instituição que não seja a Presidência da República.

Em um possível segundo turno entre Lula e Bolsonaro o senhor apoiaria o Bolsonaro?

A única hipótese com a qual eu trabalho no momento é trabalhar para Luciano Bivar estar no segundo turno.

Como o senhor analisa este ambiente político atual em que o presidente Jair Bolsonaro insiste na insegurança do sistema eleitoral brasileiro?

Eu acredito nas instituições. A gente questionar a legitimidade das Eleições é algo muito complicado. Esta postura gera uma certa insegurança do questionamento das Eleições. A gente tem que buscar melhorar e olhar para frente e parar um pouco de tumultuar. Eu acho que até podemos sim de maneira legítima discutir as urnas eletrônicas e para os anos próximos melhorar o sistema de controle, inclusive, até ser for o caso e o desejo da população, estabelecer uma forma de conferência de partes dos votos impressos. Agora temos que ter a posição realista que este ano não é mais possível implementar este mecanismo.

A Operação Lava Jato vem sendo questionada. Houve erros ou excessos da Operação?

Não. Não houve nenhum excesso. Foi preso quem pagou ou recebeu suborno. A Lava Jato aplicou a lei. O que a gente vê, infelizmente, é uma reação do sistema político que quer a impunidade da grande corrupção. Quer voltar aquela ideia de que roubou, mas não acontece nada. Isso é contrário à nossa ideia de democracia na qual o império da lei prevalece, na qual ninguém pode estar acima da lei. Fiz um marco histórico no Brasil. E precisamos retomar essa luta.

O senhor acredita que há corrupção no governo Bolsonaro?

O que tenho dito é que os mecanismos da corrupção foram enfraquecidos. Não temos visto uma atuação incisiva da Polícia Federal, salvo exceções. Isso não digo só em relação ao Governo Federal, mas em relação aos Governos Estaduais e Municipais também. E não há como acreditar que a corrupção simplesmente desapareceu. O mais importante neste momento é a gente defender pautas que permitam a volta da integridade da política, transparência, investigação e punição de casos de corrupção quando aparecerem. Por isso, temos apresentado entre nossas propostas medidas na linha anticorrupção, lei de proteção de investigadores, programa de proteção de denunciantes do bem, entre outras.

O senhor se arrepende de ter deixado a carreira de juiz para entrar na política?

Eu ouvi uma vez de um grande brasileiro a afirmação que toda pessoa tem que se reinventar a cada 10 anos. E é isso que a gente está fazendo: continuando as mesmas lutas por instrumentos diferenciados. A gente não desiste jamais.