A mente brilhante de Jonas

Jonas é diferente dos outros jovens. Desde os 13, descobriu o dom para arrumar e inventar equipamentos tecnológicos. Utiliza materiais do lixo. Tudo serve. Jamais teve grana para um treinamento ou aprendizado sequer. As ideias partem da própria cabeça. E, sempre, à noite. Baseando-se em celulares inutilizados, construiu dezenas de pequenos robôs. Eles estão numa prateleira. E quase todos funcionam. O rapaz, com capacidade acima da média, agora busca ajuda para trilhar novos empreendimentos. 

Morando com a mãe, Amélia, e o pai, Veomar, Jonas Katolik Devitte está com 25 anos. Reside numa casa ainda por terminar. Mas própria. Numa rua de terra, em frente a um matagal, na cidade de Mamborê. Lugar inapropriado para uma mente diferenciada, como a própria mãe enfatiza. “Ele tem que buscar algo melhor, numa cidade grande. Por aqui, nada acontece”, diz ela.

E os apelos de Amélia não são em vão. Já, aos 16, Jonas montou uma pequena empresa voltada a consertos eletrônicos: A Central de Comando Alpha. É lá, onde conserta-se de tudo. De ventiladores, a celulares. Com a ideia em ganhar grana, também sobrou tempo para arquitetar seus inventos. E eles são muitos. Por exemplo, um gerador de energia. Improvisou uma lanterna que não funcionava a uma manivela de carro. Agregou um motor de trava elétrica e uma bateria de celular. Basta girar a maçaneta e a lanterna acende. 

Ou o General Treme Treme. Um robô feito com tampas de garrafa pet. Uma peça antiga de massageador. Um prestobarba e pedaços de calhas para escoar a chuva. Tudo está conectado a uma bateria de celular. Ao ser ligado, parece ter vida própria. Outro invento é o que denominou de Alpha K-10. Um diminuto robozinho, todo desenvolvido com calhas. Mexe boca, braços e ainda caminha. Acende luzes e foi desenvolvido minuciosamente com artefatos que nem mesmo ele lembra.

Jonas diz que todos as ideias surgem de noite. “De dia não tenho imaginação. Minha criação surge à noite”, diz. O inventor diz que tudo começou ainda aos 13 anos. Depois que misteriosas luzes apareceram sobre sua casa. “Sim. Luzes do céu surgiram sobre a minha casa. Amigos que estavam comigo também viram. Depois disso, comecei a ter ideias. Sonhos fazem com que invente objetos. Penso que tudo que faço são lembranças remetidas através daquilo”, disse. 

Além do que conserta, Jonas tem na prateleira aviões, espaçonaves, lança chamas, sopradores e, até uma engenhoca elétrica para limpar os dentes. Tudo criado a partir do que nada serve às outras pessoas. Ou seja, lixo. Um dos robôs tem nos pés, escovas de dentes. Outro, caixa de fósforo. Até um rádio transmissor foi desenvolvido por materiais à mercê. 

Com uma mente brilhante, Jonas é diferente. Mas, ao mesmo tempo, normal para um jovem. Nasceu em Curitiba. Mas a família deixou a capital há cerca de 14 anos. Voltou ao interior fugindo da violência. A irmã, foi sequestrada e morta na região metropolitana. Ele criou sua empresa num cômodo da casa, onde é, também, seu quarto. Ali, em frente a própria cama, atende os clientes. Recebe curiosos. E cria sua arte. No entanto, deseja mais.

O sonho é conseguir emprego na área tecnológica. Sabe que, morando numa cidade pequena, quase dentro de um matagal, nada vai acontecer. Os pais não podem ajudá-lo. Amélia, 58, está doente. Veomar, o pai, atua como pedreiro. Gente simples em busca do pão de cada dia. “Aqui me apelidaram de MacGyver. De tanto dar jeito nas coisas”, brinca ele. Jonas não sabe explicar como faz tantos objetos. De onde vem suas ideias. Ele acredita na existência de seres de outros mundos. Mas também, num Deus maior que tudo. Estudou até a oitava série. Jamais fez um único curso. Mas sabe o que quer. Deseja ser alguém na vida. Uma mente brilhante voltada ao bem.

Amélia e Jonas na Central de Comando Alpha