A vida de Valmir

Nem o terço no peito, foi capaz de minimizar os dramas pessoais de Valmir Leal. Aos 64 anos, ele vive só, num pequeno quarto, construído há tempos, na Vila Guarujá. O espaço maior ficou a um dos filhos, de 28 anos. No seu pequeno mundo, uma cama e um móvel, onde guarda as roupas amassadas. Na verdade, uma maçaroca de tecidos, desorganizadas pela própria falta de vontade. 

Conta ele, que era casado e teve três filhos. Até 1985, trabalhava na prefeitura municipal, no departamento de serviços gerais. Adiante, tornou-se vigilante. Mas com o fim do contrato, passou a ficar desempregado. Depois disso, aventurou-se pelo Paraguai, onde arrumou bicos na colheita de algodão. Por essa mesma época, também adquiriu uma hérnia. Desde então, arrumou uma companheira pra vida toda: a muleta. 

O tempo passou. E a esposa o deixou. Passou a viver na companhia de um dos filhos que, segundo ele, está desempregado. Valmir diz que acredita em Deus. Ele não possui renda, a não ser, uma espécie de auxílio do governo, dada pela situação de sua saúde. Sem muitas esperanças, começou a beber. E, desta maneira, passa grande parte do tempo numa esquina do bairro, sentado sobre uma pedra, bem em frente a própria casa.

Valmir possui uma barba grisalha por fazer. Mantém um olhar profundo, desesperançoso. Caminha com dificuldade, sempre ajudado pela muleta. Anda de chinelos, mascados pela terra vermelha, da rua sem asfalto. Estudou até a quinta série. Sabe ler e escrever. “Também fiz aulas de datilografia”, faz questão em dizer. 

Na vida terrena, tudo o que tem, é a casa em que vive.  E pra ele, está bom. Não possui falsas esperanças, a nada. Nem mesmo a pouca comida. “Ontem comi feijão preto e farinha gordurosa. Tava uma delícia”, disse. Carne mesmo, não é todo dia. Ele abriu a geladeira – na parte da casa que pertence ao filho -, e não existia quase nada. Alimento mesmo, apenas sobre o fogão. Numa panela, o feijão com a farofa de ontem.

E assim, ele vai vivendo. Um dia após o outro. “Não passo fome não, seu moço. Mas uma cesta básica eu aceitaria”, revela. Relatos de vizinhos garantem que Valmir é uma pessoa de bem. Não faz mal a ninguém, a exceção, dele mesmo. É que o vício na bebida, não pára.