Área para indígenas também recebe apoio de moradores de bairro
Continua rendendo polêmica a iniciativa da prefeitura de Campo Mourão de destinar um terreno de passagem para indígenas na região do Jardim Araucária. Ao tomar conhecimento, um grupo de moradores do bairro iniciou um abaixo-assinado contrário, alegando que os indígenas causam transtornos, sujeira e até desvalorização dos imóveis foi citada. Também alegam que no local há uma área de preservação ambiental que poderia ser degradada pelos indígenas.
Só que a manifestação também deixou moradores do mesmo bairro, indignados. É o caso da professora Janete do Nascimento Boeno. “Isso é crime de xenofobia. E depois essas mesmas pessoas vão às suas igrejas e pregam o amor ao próximo. Vou iniciar um movimento a favor dos indígenas, pois eles são os verdadeiros herdeiros do território. Os invasores somos nós”, disse a professora.
Ela também rechaçou a alegação do grupo contrário sobre a desvalorização de imóveis do bairro. “Então para essas pessoas o bem material está acima da vida? Se fosse para um grupo de empresários ou fazendeiros aí receberia apoio”, argumenta Janete, que trabalha em dois colégios estaduais da cidade.
O professor Carlos Aleixo, ex-reitor da Unespar, escreveu em sua rede social: “Nossos irmãos indígenas são os verdadeiros herdeiros de todas as terras que havia por aqui, antes da ocupação de espanhóis, portugueses e holandeses. E agora, querem negar-lhes um lugarzinho, que nem é para morar. É apenas para ter um banheiro… água…um lugar para voltar…depois de tentarem vender seus artesanatos na cidade”, ponderou.
Outro morador do bairro, o estudante Lucas Nery, também se manifestou. “Degradar a mata? Nós, brancos, que degradamos as matas. A terra é dos indígenas e nós que deveríamos pedir permissão pra morar aqui”, enfatiza, ao sugerir que em vez de se preocupar com os índios o grupo contrário deveria reivindicar melhorias dos serviços públicos no bairro, como iluminação e limpeza.
O grupo de moradores contrários alega que não foi feita nenhuma consulta ou estudo de impacto no bairro. No documento enviado à prefeitura, afirmam que não são contra os indígenas, “mas sim ao local a eles destinados” e sugere um outro local que melhor atenda a necessidade do grupo.
Na semana passada, o local indicado pela prefeitura foi visitado pelo cacique Domingos Zacarias, pelo vice-cacique Reinaldo e pelo professor Everton, da Comunidade Caingangue da Aldeia Ivaí (Região de Manoel Ribas). Eles aprovaram a área, que deverá receber alguma estrutura do município, como banheiro e água, bem como acompanhamento da Assistência Social.