Bispo que passou por Campo Mourão é acusado de estupro de vulnerável

A Polícia Civil prendeu temporariamente, no âmbito da Operação “Lobo em Pele de Cordeiro”, o padre Genivaldo Oliveira dos Santos, de 41 anos, investigado por crimes sexuais e outras irregularidades no município de Cascavel. As investigações são conduzidas pelo Núcleo de Proteção à Criança e ao Adolescente Vítimas de Crimes (Nucria) e são coordenadas pela delegada Thaís Zanatta. São atribuídos ao religioso entre três a quatro estupros de vulneráveis. O que chama a atenção no caso também é o suposto envolvimento do então arcebispo de Cascavel, Dom Mauro Aparecido dos Santos, falecido em 2021, aos 67 anos, vítima de Covid-19, que teria estuprado duas crianças. Dom Mauro foi o terceiro bispo da Diocese de Campo Mourão, onde permaneceu no cargo de 1999 até 2007.

Nesta semana, o secretário de Segurança Pública do Estado do Paraná, Hudson Teixeira, concedeu entrevista coletiva à imprensa para detalhar o andamento das investigações. Segundo o secretário, o caso chegou ao conhecimento da Segurança Pública a partir de um relatório de inteligência elaborado pela Polícia Militar, em contato com a delegada Thaís Zanatta. De acordo com as informações apresentadas, já foi confirmada a existência de ao menos duas vítimas que teriam sido abusadas por Dom Mauro: uma criança e um jovem.

Operação “Lobo em Pele de Cordeiro”, da Polícia Civil, investiga o escândalo. Nesta semana, um padre investigado foi preso e buscas foram cumpridas na casa do religioso – Foto: Divulgação/SESP-PR

O secretário informou que, entre as vítimas, uma criança de três anos teria sido abusada pelo ex-bispo, segundo relatos da mãe à autoridade policial durante interrogatório. Além disso, outros casos estão sendo verificados, incluindo situações que remontam a 2008. Teixeira disse que a Polícia Judiciária está apurando a atuação de membros da Igreja Católica na região desde 2021, ano da morte do então arcebispo, com o objetivo de esclarecer se havia conhecimento prévio dos fatos e quais providências foram ou não tomadas pela gestão eclesiástica à época.

“O Estado vai cobrar da Igreja essa resposta, porque nada foi feito desde que as primeiras denúncias começaram a chegar?”, questionou o secretário, ressaltando que todos os responsáveis por omissões ou eventuais acobertamentos serão ouvidos.

O secretário também mencionou que tanto as vítimas quanto as pessoas ligadas à gestão da Igreja Católica naquele período já foram identificadas e ouvidas. A Polícia Civil investiga ainda a existência de um acordo interno supostamente firmado entre uma das vítimas e o ex-bispo, possivelmente sob coação, em 2008.

Segundo Teixeira, os abusos teriam ocorrido tanto na casa paroquial quanto no seminário, tendo como vítimas pessoas em situação de vulnerabilidade, como seminaristas e indivíduos que procuravam a igreja para tratamento de dependência química. Relatos apontam que as vítimas eram aliciadas com promessas de dinheiro, comida e até videogames.

Até o momento, não há indícios de envolvimento de outros membros da Igreja além do padre Genivaldo e do ex-bispo Dom Mauro. No entanto, a polícia não descarta a possibilidade de surgirem novos nomes no decorrer das investigações.

Documento

Um documento assinado em 2011 por um seminarista que denunciou padre Genivaldo aos superiores da igreja por tentativa de abuso sexual indica que Dom Mauro tinha conhecimento do caso e não o relatou à polícia. O documento foi incluído como prova no inquérito que investiga o padre preso.

O documento também cita os nomes de dois reitores do seminário e de uma psicóloga, além do então arcebispo. Ao “G1 Paraná” a defesa do padre Genivaldo disse, por meio de nota, que vai se pronunciar no processo e que acompanha a investigação com o intuito de colaboração total com as investigações, “de modo que se busque a verdade real dos fatos, e não aquela exteriorizada pela digna autoridade policial em entrevista nos meios de comunicação”.

Já o atual arcebispo de Cascavel, Dom José Mário Scalon Angonese, disse em comunicado que o padre denunciado foi suspenso assim que a denúncia chegou oficialmente à diocese, no dia 14 de agosto. “Um processo de investigação já está em andamento. Temos um prazo de 90 dias na diocese e depois encaminhamos para a Congregação da Doutrina da Fé, no Vaticano. Se confirmado que houve pedofilia, a decisão de Roma tem sido clara: a demissão do estado clerical. Ele deixará de ser padre”, afirmou o religioso ao site do “G1”.

O caso

Padre Genivaldo é investigado por ser suspeito de praticar abusos sexuais. Entre as seis vítimas apontadas pela polícia até o momento estão jovens da comunidade católica e adolescentes em situação de vulnerabilidade.

Ele foi preso por policiais do Núcleo de Proteção à Criança e ao Adolescente Vítimas de Crimes (Nucria), que também cumpriram um mandado de busca e apreensão em sua casa. Segundo a polícia, ele está sendo investigado desde o dia 16 de junho deste ano. Durante a investigação, 15 pessoas foram ouvidas. Dentre elas, seis vítimas foram identificadas. O relato de outras duas possíveis vítimas está em análise.

Segundo a polícia, a prisão temporária do padre foi decretada porque ele estava tentando entrar em contato de forma insistente com vítimas e testemunhas.

O padre exercia a função de pároco em uma igreja católica de Cascavel até o dia 14 de agosto de 2025, quando foi afastado de suas funções após surgimento das primeiras evidências. Além das denúncias de abuso, a investigação também apura possíveis irregularidades na gestão financeira da paróquia, prática ilegal da medicina por meio de terapias alternativas em consultório próprio e histórico de reincidência — incluindo uma tentativa de abuso contra um seminarista, registrada em 2010.

Até o momento, 11 pessoas foram ouvidas durante a investigação, sendo três delas vítimas já identificadas — uma menor de idade à época dos fatos e duas maiores de idade. Os mandados foram cumpridos na residência do investigado e em sua clínica.

Com informações do “G1 Paraná”, “CGN Cascavel” e Secretaria de Segurança Pública do Estado do Paraná