Candidatos recebem os mais variados pedidos de favores pessoais de eleitores

O hábito de alguns eleitores pedirem favores pessoais a políticos costuma aumentar durante o período de campanha eleitoral. Segundo a historiadora e jornalista mineira Eliane Aparecida Carneiro Moreira, isso faz parte da cultura patrimonialista, onde os problemas da casa de natureza privada transbordam para o espaço de representação pública.

Quem coloca o nome na disputa para uma vaga à Câmara de Vereadores costuma receber os mais variados e inusitados pedidos de eleitores. “Teve um morador do bairro que me pediu para que mudasse o bueiro que fica na esquina da rua para outro lugar”, relatou um candidato a vereador em Campo Mourão, que tenta uma vaga no Legislativo pela primeira vez. 

Segundo ele, alguns eleitores costumam pedir dinheiro ou combustível para colocar adesivo com propaganda no vidro traseiro do carro. Um outro candidato que está em busca da reeleição, diz que os gabinetes já tem uma espécie de “clientela” com os mais diferentes pedidos. A maior parte quer que o vereador pague viagens, material de construção, caminhão de terra, mudança, contas de luz e água e até festas. 

“Nesta campanha estou recebendo muitos pedidos para interceder por exames de Saúde. Mas sempre tem aqueles que pedem dinheiro, churrasco ou querem ser contratados como cabos eleitorais”, disse o vereador. Durante o mandato ele diz que atende entre 15 a 20 pessoas por semana.  E a maior parte vai pedir coisas para si. “Eu sempre quis ter um mandato para poder trabalhar pela comunidade nas diversas áreas do serviço público, mas infelizmente alguns não querem nem saber disso”, lamenta o vereador.

Para ele, boa parte da  população não sabe diferenciar o papel dos poderes públicos. “Muitos cobram do vereador atribuições do Poder Executivo. Já estive em reunião de associação de moradores onde o presidente disse que se tivesse a caneta como tem o vereador mandava asfaltar a rua do bairro”, acrescenta.

Outro vereador que busca a reeleição acrescenta que os pedidos pessoais não vem apenas de pessoas mais pobres. “Tem pessoas que querem ter privilégios em encaminhamentos na área da saúde, trocar o filho de escola e até interferência do vereador em processos que tramitam no Poder Judiciário”, comenta. 

Estudo

O estudo feito pela historiadora Eliane Moreira confirma que em anos de eleições gerais o volume de pedidos aumenta. “A campanha eleitoral é uma ocasião peculiar da relação entre eleitor e representante político. O eleitor percebe o valor de seu voto e assume a sua expressão mais aberta e franca”, avalia a historiadora. 

O ano seguinte à eleição do candidato, na nova legislatura, é a hora de apresentar a conta aos eleitos pelo apoio e pelos votos da família. Dos vários casos relatados em seu estudo, a historiadora conta que um eleitor escreveu ao seu deputado reeleito: “quando precisou de mim eu lhe servi. Votei no senhor. Minha família também. Agora, estou precisando de emprego e gostaria que arranjasse um para mim”.