Em busca de esperança, senegaleses pedem ajuda

Eles se vestem diferentemente dos mourãoenses. Falam outro idioma. Têm outra religião. E, desde sua chegada, há quase três meses, travam dias de sofrimento. Na rua Araruna, número 427, um grupo de seis senegaleses divide um apartamento. Dormem no chão. Móveis quase não tem. E o que lá está, é ruim. Vieram ao Brasil com um único objetivo: mandar grana à família. Segundo eles, o Senegal está à beira do caos. Aqui, além de receberem carinho, ainda existe a possibilidade de prosperar. E é o que desejam.

Todos são muçulmanos. E, por esse motivo, não forneceram nomes. Nem fotos permitiram. Segundo eles, estão legais no país. Apenas um consegue se comunicar em português. A língua de origem é o francês. E, mesmo com bastante dificuldade, o enredo acabou se desenrolando. Contam que deixaram suas famílias em Dacar, capital do Senegal. Se aqui a coisa está difícil, imagina lá. Ainda assim, para eles, o Brasil representa esperança. Dias melhores.      

O propósito era conseguir emprego. Carteira registrada e tudo o mais. Não conseguiram. O jeito está sendo se virar na rua. Vendem artigos como fones de ouvido. Foi a solução para não passar fome e, ainda, conseguir pagar o aluguel de R$ 1000. A grana curta, bate o desespero. É que, até hoje, nada sobra para mandar às famílias. “Lá a situação é bem pior. Não se tem nada. Nem emprego. Nem comida. Uns ajudam os outros”, explicou ‘M’, um dos senegaleses. Ele deixou esposa e dois filhos na África. O mais novo tem três meses. Nem o conheceu. A última vez que os viu, foi em dezembro.   

Sabendo do drama enfrentado pelo grupo, Izabel Cristina Enokida, uma gestora imobiliária, mas com coração voluntário, decidiu agir. E já conseguiu uma geladeira. Está tentando mais. Também se sensibilizou com o mais jovem da turma, Balla Fall. Aos 22 anos, veio ao Brasil tentar carreira no futebol. No Senegal, jogava numa academia. Segundo os companheiros, é craque. Na próxima semana, vai a Curitiba tentar a sorte. Foi indicado para um teste na capital. Vai que é um Pelé escondido em Campo Mourão. Nunca se sabe. 

No apartamento dividido pelos seis imigrantes, tudo é limpo. Organizado. São três quartos. Colchões ao chão para cada dois. Além da falta de conforto, também pedem ajuda em alimentos. “Aroza” fala um deles, querendo dizer arroz. Não pedem muito. Apenas o necessário. “Fiquei feliz só em saber que o mais novo pode fazer um teste no futebol”, diz Izabel.          

Como muçulmanos, os seis não bebem e não fumam. Vão para a rua na tentativa de vender seus produtos. Depois, retornam ao apartamento. Uma coisa é certa. Campo Mourão já não é mais a mesma. Principalmente, aos arredores de onde moram. Ali, os costumes estão diferentes. O sotaque do “erre” puxado ao caipira, não é o único. E, com a sua chegada, novos idiomas começam a misturar-se ao português. Novas culturas chegando. A cidade cresce.          

Senegal

Senegal é um país localizado na África Ocidental, banhado pelo Oceano Atlântico. É também o país que se encontra mais próximo à ilha de Cabo Verde, a 640 km de distância. A sua capital é Dacar. Apesar de já ter sido ocupado por tribos antigas, por grupos tribais convertidos ao islamismo e também por portugueses, a colonização do território que hoje corresponde ao Senegal ocorreu a partir do século XVII pela França. O país, aliás, foi a única das colônias francesas a ter os seus cidadãos reconhecidos como cidadãos da França. Fato que ocorreu logo após a Revolução Francesa, em conjunto com a abolição da escravatura. 

Em 1960, o país, enfim, conseguiu a sua independência após a realização de lutas separatistas que ocorriam desde o século XIX. No ano de 1982, o Senegal – que havia adotado um sistema econômico e político autointitulado “socialismo islâmico” – decidiu pela união com a Gâmbia. Assim, formou-se a Senegâmbia, que, no entanto, foi dissolvida em 1989 após divergências políticas entre as lideranças dos dois países.

A população de Senegal, segundo dados de 2014 das Nações Unidas, é de 14,54 milhões de pessoas. A cidade mais populosa é a capital, Dacar, com cerca de 2,2 milhões de pessoas. A religião mais professada é o islamismo, que agrega cerca de 87% da população. 

O Senegal é considerado um país relativamente industrializado, embora a sua produção industrial corresponda a 22,7% do PIB, à frente da agricultura, com 15%, e atrás do setor terciário, com 61,9%. Os principais produtos agrícolas são o amendoim, o tabaco, a cana-de-açúcar, o sorgo e o tomate, enquanto a indústria destaca-se nas práticas de processamento de minerais e na produção de fertilizantes. Há ainda que se destacar o papel da pesca na economia, que encontra um amplo mercado exportador nos países da União Europeia.

Mesmo sob um clima de paz em Senegal, hoje, o grupo de senegaleses diz que o país é mal governado. Com falta de ofertas de emprego, sobra mão de obra. O jeito é a migração laboral. Um reflexo do que ocorreu com a turma em Campo Mourão. 

Homossexualidade proibida

‘M’ diz que a cultura do Senegal é muito diferente do Brasil. Um exemplo disso está na liberdade à homossexualidade. No Senegal, segundo ele, essa liberdade não existe. Ou melhor, não pode existir. “Se o governo descobre que você é gay, você será morto”, afirma. Há alguns dias, o presidente do país, Macky Sall, alegou que isso se deve a razões culturais e que não têm “nada a ver” com a homofobia. 

No Senegal, a lei pune com penas de um a cinco anos de prisão os atos homossexuais. O código penal se refere a “atos impudicos ou contra a natureza com um indivíduo do mesmo sexo”. Mais da metade dos países da África subsaariana – 28 de 49 – têm leis que proíbem ou reprimem a homossexualidade, eventualmente com pena de morte.

Serviço

Você pode ajudar os seis senegaleses. Eles necessitam de alimentos. Sofá. Camas. Rua Araruna 427. Apartamento 101.