José da Silva está por ele mesmo

Na avenida José Custódio de Oliveira, José Carlos da Silva parou para descansar. Era manhã de terça-feira, por volta das 11h30. Numa calma só dele, retirou a máscara, sentou-se sobre o meio fio e acendeu um “palheiro”. Vendo o movimento dos carros, tinha o pensamento longe. Quantos mais quilômetros a percorrer? José é coletor de recicláveis. É tudo o que lhe resta. Sem aposentadoria, anda 30 quilômetros por dia. Papéis, latas e ferros, rendem R$ 600, em média, ao mês. A vida, não está sendo gentil a ele.

Até pouco tempo, José era pedreiro. Segundo ele, dos bons. Mas uma catarata dificultou o serviço. Após a operação, descobriu diabetes e pressão alta. Com tonturas, preferiu não se arriscar mais na construção civil. Então, há dois anos, virou coletor. Ele mora no Jardim Modelo. Conta que sai de casa todos os dias, às seis da manhã. Percorre toda a cidade, até encher o carrinho. Ele não tem feriado. Se não botar o pé no asfalto, a grana não vem. Não cai do céu.  

Muitas vezes, leva o rango de casa. Outras, prefere ir até a residência e comer. “Eu não peço nada a ninguém”, diz. José é somente mais um batalhador brasileiro. Sua luta, depende apenas dele. Aos 54 anos, é casado com Aparecida. Juntos, tiveram dois filhos. A menina está casada. O menino foi morto, por engano, há 13 anos. Uma perda ainda difícil de compreender. A renda do casal não chega a R$ 1,3 mil. Aparecida é diarista.  

“Nós moramos sozinhos. Juntamos o dinheiro para viver. Mas não passamos dificuldades, como a fome”, revela. José diz que veio de uma família bastante humilde. Moravam em Iretama. Mas em 1976, após a morte do pai, mãe e nove filhos vieram a Campo Mourão. Aqui, cada um se virou por conta própria.  

José não é nenhuma autoridade. Muito menos um pesquisador. Estudou somente até a terceira série do fundamental. Mas, como parte do povo, tem PHD para analisar a atual situação do Brasil. Segundo ele, está vendo uma população ainda mais sofrida. Carente de quase tudo. “O auxílio emergencial será bem vindo. Muita gente está precisando”, diz. E, para piorar, não existem vagas em hospitais. “Estamos por nós mesmos. Não adianta ficar mudando presidente. Isso aqui nunca irá melhorar”, acredita. 

Franco em todas as suas respostas, José arrumou o velho chapéu preto, deu mais um trago no “palheiro” e disse que só Deus para guiar os caminhos. Após descansar e terminar o fumo, colocou a máscara, segurou o carrinho, e continuou a jornada.