Moradores em situação de rua é tema de reunião no batalhão da PM

O crescimento do número de moradores em situação de rua em Campo Mourão nos últimos dois anos foi tema de uma reunião na manhã desta quarta-feira (31), na sede do 11º Batalhão de Polícia Militar (BPM).

O encontro foi proposto pelo comandante do batalhão, major Willian Dieimes Silveira. Participaram da reunião Andreia Rejane Vinchi, que atua na Gerência e Gestão da Garantia dos Direitos Humanos, na secretaria da Ação Social de Campo Mourão. Ela é também a responsável pelo Creas (Centro de Referência Especializado de Assistência Social), a coordenadora do Creas e assistente social, Fernanda Pizolio Garcia Ribeiro, Ministério Público, Polícia Civil e representantes de entidades assistenciais.

Major Willian destacou durante o encontro que o aumento de moradores de rua em Campo Mourão é preocupante. Ele sugeriu, por exemplo, campanhas de conscientização à população para evitar dar esmolas a estas pessoas, o que potencializa a continuarem nas ruas.

Os obstáculos no acesso à alimentação, higiene e direitos são apenas algumas dificuldades que esta população enfrenta diariamente e a torna ainda mais vulnerável. Esse grupo aumentou durante a pandemia da Covid-19 em Campo Mourão. E de forma astronômica.

Dados obtidos pela TRIBUNA junto ao Creas apontam que antes da pandemia, até meados de 2019, a cidade tinha apenas 10 moradores de rua ‘fixos’ – pessoas de Campo Mourão. Porém, de lá para cá este número é cinco vezes maior: atualmente está em 50 – dados de janeiro a abril deste ano. Em 2022, eram 56 vidas nesta situação. Dos atuais 50 moradores de rua, três são mulheres. O restante, todos homens.

Outro dado que chama atenção é o perfil de idade deste público. Todos novos ou de meia idade. Atualmente, os moradores em situação de rua em Campo Mourão estão concentrados na faixa dos 18 a 30 anos e 40 a 59 anos. A maioria tem problema com algum vício – álcool ou algum tipo de droga ilícita-, ou então sofre de transtorno mental.

Da mesma forma houve crescimento no número de moradores de rua chamados de trecheiros. São indivíduos que perambulam de cidade em cidade, sobrevivendo de ajudas filantrópicas. Somente no ano passado, o Creas chegou a prestar 456 atendimentos a estas pessoas. Este ano, de janeiro a abril, foram 181 atendidos. “Este aumento de pessoas morando na rua aumentou não somente em Campo Mourão e região, mas no Brasil e no mundo como um todo. Reflexo da pandemia”, argumentou Andreia Rejane Vinchi. em recente entrevista ao jornal.

Andreia observa que durante a pandemia muitos informais perderam seu emprego. Sem dinheiro sequer para garantir o alimento, perderam condições de bancar o aluguel. Não tiveram escolha se não ir às ruas. Além disso, muitos entraram em depressão, se perdendo nas drogas, tendo o mesmo e infeliz destino.

Além destes dois fatores, há também questões de problemas envolvendo vínculo familiar. Durante a pandemia, muitos homens, explica Andreia, por conta do uso abusivo de álcool ou drogas, acabaram se separando da esposa, adotando as ruas como moradia. Existem ainda casos em que os pais são idosos, dão muito trabalho, e há alguma intervenção criminal de maus-tratos contra o idoso, em que os acusados têm de sair da casa, parando nas ruas.

Ela comenta que todos são acompanhados diariamente pela secretaria de Assistência Social. Abordagens sociais são realizadas todos os dias e também a noite durante o fim de semana, em horários esporádicos. O problema é que a minoria, ou quase nenhum deles, aceita ajuda para deixar as ruas.

Ciente do problema, a secretaria da Assistência Social, por meio do Centro de Referência Especializado de Assistência Social, oferece vários serviços de acompanhamento com profissionais específicos a estas pessoas. A técnica de referência é uma psicóloga, que presta o serviço psicossocial e os encaminhamentos, seja para documentação, mercado de trabalho, saúde, entre outros.

Paralelo a isso o município tem a Casa de Passagem que acolhe essas pessoas para saírem de situação e rua. “Porém, em alguns momentos eles recusam ajuda, principalmente os ‘fixos’”, comenta Fernanda Pizolio Garcia Ribeiro. Segundo ela, o município só pode intervir caso a pessoa esteja causando algum dano ao patrimônio público ou privado ou colocando a vida de terceiros em situação de risco.

Outro serviço é o fornecimento de passagens, seguindo critérios técnicos estabelecidos pelo município. A prefeitura já tem algumas cidades-destino definidas para o fornecimento de passagens, que são: Engenheiro Beltrão, Goioerê e Iretama; e alguns destinos mais longos conforme a necessidade, que são: Curitiba, Cascavel, Londrina, Maringá, Ponta Grossa e Pitanga.

Fernanda já havia recomendado, em recente entrevista à TRIBUNA, à população que evite dar esmolas (dinheiro) a moradores de rua. A prática, segundo ela, só potencializa eles a continuarem nas ruas. “Pedimos a sensibilização da sociedade para não dar dinheiro. Se quiser ajudar de alguma forma faça a doação para alguma entidade que atende essas pessoas”, comentou. Ela citou, como exemplo, o projeto “Salvando Vidas”, do pastor Adão. Alguns dias da semana, o projeto oferta marmitas na janta a estes moradores.