Mourãoense acompanha lançamento de foguete comercial orbital inédito no Brasil
O jovem mourãoense Gabriel de Souza Plata, de 24 anos, estudante de Engenharia Espacial da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em Joinville, foi um dos poucos a acompanhar presencialmente a primeira tentativa de lançamento de um foguete comercial orbital a partir de uma base brasileira. O feito histórico ocorreu na noite de segunda-feira (22), no Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), no Maranhão, com o foguete sul-coreano HANBIT-Nano, desenvolvido pela empresa Innospace.
O lançamento marcou o primeiro voo comercial orbital realizado em solo brasileiro. Apesar da expectativa, o veículo apresentou uma falha durante a decolagem e acabou explodindo cerca de 50 segundos depois. A anomalia interrompeu a missão, que não era tripulada, mas, conforme relatou o jovem à TRIBUNA, faz parte do processo de testes de novos veículos espaciais. O estudante compartilhou com o jornal vídeos do foguete antes da decolagem e durante o lançamento, mostrando, até mesmo, o momento exato da explosão, registrados por observadores no CLA. Confira.
Plata esteve em Alcântara a convite da Innospace após as conquistas da equipe universitária Kosmos Rocketry, da UFSC, da qual fez parte como diretor de projetos mecânicos em 2025. “Devido às conquistas da equipe, tivemos a honra de sermos convidados, com apenas uma vaga disponível, para assistir em primeira mão ao lançamento”, relatou o estudante. A presença do mourãoense teve como objetivo aproximar estudantes de engenharia aeroespacial do cenário atual de desenvolvimento do setor no Brasil.
A tentativa de lançamento passou por sucessivos adiamentos ao longo de um período previsto, que se estendeu entre os dias 17 e 22 de dezembro. O acadêmico explicou que, inicialmente, o cronograma foi alterado para garantir a plena operação dos subsistemas do foguete. Em nova tentativa, no dia 19, problemas técnicos exigiram a substituição de um componente do segundo estágio. A última oportunidade ocorreu às 22 horas do dia 22, dentro de uma janela final de apenas duas horas. Caso fosse novamente excedida, uma nova tentativa ficaria apenas para 2026.
O foguete HANBIT-Nano tinha 21,8 metros de comprimento e pesava cerca de 20 toneladas. A missão previa o transporte de oito cargas úteis, sendo cinco pequenos satélites e três dispositivos experimentais desenvolvidos por Brasil e Índia, que seriam colocados em órbita terrestre. Pouco tempo após a decolagem, no entanto, o voo foi interrompido pela explosão.

De acordo com Plata, a falha já era considerada uma possibilidade real em um voo inaugural. “As circunstâncias que levaram ao ocorrido serão analisadas posteriormente, como é procedimento padrão em programas espaciais consolidados”, disse.
Ele destacou que, apesar da perda do veículo, o lançamento resultou em uma coleta valiosa de dados para futuras correções. “Isso faz parte do business dos corajosos que se aventuram em uma engenharia extremamente complexa e desafiadora”, afirmou, lembrando que se tratava de um protótipo em fase inicial de testes.
Além do estudante mourãoense, acompanharam o lançamento membros da equipe operacional da Innospace, vindos diretamente da Coreia do Sul, profissionais brasileiros ligados à empresa e diversas autoridades civis e militares. Entre os presentes, estava, inclusive, o astronauta Marcos Pontes. O jovem também fez questão de destacar a atuação de Arthur Bahdur, diretor da missão no Brasil, formado pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e com experiência prévia em equipes universitárias de foguetes de sondagem.

Experiência do jovem mourãoense
A seleção de Plata para acompanhar o lançamento foi resultado direto do desempenho da equipe Kosmos Rocketry em competições nacionais e internacionais. O grupo foi a primeira equipe universitária brasileira a realizar um voo totalmente nominal de um foguete de sondagem experimental, alcançando apogeu de 30 mil pés na International Rocket Engineering Competition (IREC), o que rendeu premiações de destaque. A equipe também conquistou o primeiro lugar na categoria de 3 quilômetros e o primeiro lugar geral da Latin American Space Challenge (LASC).
Na Kosmos, o estudante atuou como diretor de projetos mecânicos, função responsável por coordenar e supervisionar os subsistemas de propulsão, aerodinâmica, recuperação e estruturas dos foguetes desenvolvidos pela equipe, conforme explicou. Ele exerceu o cargo nas duas competições disputadas ao longo do ano.
Natural de Campo Mourão, Gabriel mudou-se para Joinville, em Santa Catarina, para cursar Engenharia Espacial na UFSC. A família permanece residindo no município paranaense. Segundo ele, o interesse pelo setor aeroespacial surgiu ainda na infância e se transformou em uma paixão que o levou à escolha profissional. Embora inicialmente planejasse construir carreira no exterior, o estudante afirmou que passou a enxergar novas perspectivas no Brasil recentemente.
“Após a participação nas conquistas da Kosmos e com o recente ressurgimento de oportunidades no país, passei a ter o objetivo de ser um dos novos engenheiros que fomentem o setor aeroespacial brasileiro”, relatou. O foco profissional dele está na área de motores de foguete, atraído pela combinação entre alta liberação de energia, controle preciso e complexidade técnica envolvida. “A liberação absurda de energia de maneira controlada, aliada à enorme quantidade de engenharia, coordenação e estudo envolvidos nesse processo, é algo que realmente me fascina”, expressou o jovem estudante.
Para o futuro engenheiro espacial, acompanhar de perto a tentativa de lançamento em Alcântara foi uma experiência única. “Vivenciar isso em primeira mão, e tão próximo ao local de lançamento, traz uma carga emocional enorme para quem estuda e quer fazer parte do desenvolvimento aeroespacial brasileiro”, descreveu. Ele afirmou que o impacto vai além do visual, envolvendo também o som e a dimensão do evento. “É algo realmente indescritível em palavras”, pontuou, desejando que outros jovens interessados na área possam, assim como ele, vivenciar uma experiência semelhante em algum momento.


