Possibilidade de fechamento do Ceebjacam preocupa comunidade escolar de Campo Mourão
Uma possível mudança na oferta da Educação de Jovens e Adultos (EJA) em Campo Mourão tem preocupado a comunidade escolar. A Secretaria de Estado da Educação do Paraná (Seed-PR) pretende encerrar, a partir de 2026, as atividades do Centro Estadual de Educação Básica para Jovens e Adultos de Campo Mourão (Ceebjacam) e transferir as turmas e a parte documental para o Colégio Estadual, nos turnos da tarde e da noite. A informação foi repassada no início desta semana pela chefia do Núcleo Regional de Educação (NRE) às equipes gestoras.
De acordo com o diretor do Ceebjacam, professor Ilson de Souza, a notícia foi recebida de forma repentina pela equipe escolar. Ele explicou que os motivos apresentados pela Seed seriam contenções de despesas e o número atual de alunos matriculados. Hoje, cerca de 200 estudantes frequentam o Ceebjacam, mas, segundo o diretor, há grande variação no fluxo de matrículas ao longo do ano.
Souza destacou que a dinâmica da EJA é diferente da rede regular. “No Ceebja, nós temos uma movimentação de alunos semestral. A cada seis meses, sai um grupo que se forma, termina o [ensino] fundamental e médio, e nós abrimos matrículas novamente no semestre para atender novos alunos. A gente tem uma variação muito grande de número de alunos, porque o ensino não é anual”, explicou.
Enquanto no ensino regular o aluno leva cerca de três anos para concluir o ensino médio, no Ceebja, esse tempo pode ser reduzido para um ano e meio. “O tempo dele [estudante] no Ceebja é rápido. Então, a gente tem essa variação de número de alunos de um ano para o outro, de um semestre para o outro”, salientou.
O público atendido pela instituição é composto por jovens e adultos, em sua maioria trabalhadores, que interromperam os estudos na idade adequada, muitas vezes, em razão de dificuldades sociais ou de não conseguir conciliar os estudos com o trabalho. Por isso, o Ceebjacam funciona em horários flexíveis e com metodologia adaptada à realidade dos estudantes.

Transferência de instituição
Souza explicou que, caso a decisão se confirme, os alunos da Educação de Jovens e Adultos do município e da região, atualmente atendidos no Ceebjacam, deverão ser transferidos para o Colégio Estadual de Campo Mourão, que integra a rede regular de ensino. Embora continuem na modalidade de EJA, ele avaliou que a migração de educandos com perfis tão distintos para um ambiente de ensino regular poderá gerar prejuízos pedagógicos e sociais.
“A Educação de Jovens e Adultos tem uma especificidade. Nós atendemos alunos que são advindos do Centro de Socioeducação, que precisam ser acompanhados o tempo todo dentro da sala de aula. A gente também tem que manter contato constante com pais de alunos que têm necessidades, como transtornos globais de aprendizagem”, observou, comentando que há outras diversas demandas.
Souza explicou que as turmas do Ceebjacam são reduzidas para garantir um atendimento mais individualizado aos estudantes. Segundo ele, o público atendido é formado, em grande parte, por alunos que não obtiveram sucesso na escola regular. “Muitos alunos que nós recebemos não tiveram sucesso na escola regular, por isso eles são mandados para a gente”, afirmou.
Ele destacou que essa configuração pedagógica é essencial para o aprendizado e a permanência dos alunos. A equipe diretiva da EJA em Campo Mourão também avalia que, caso a proposta de fechamento seja concretizada, o risco de evasão escolar aumentará entre os jovens e adultos que voltaram a estudar.
“Esses alunos maiores se sentem, às vezes, constrangidos de estar no meio do pessoal menor”, pontuou o diretor. Segundo Souza, em reunião recente, muitos estudantes manifestaram que não pretendem continuar os estudos se precisarem deixar o espaço especializado. “Mudar radicalmente assim vai trazer prejuízos para o aluno e para a própria instituição”, enfatizou, acrescentando que o corpo docente do Ceebjacam possui formação específica e constante para atuar na modalidade de EJA.
O diretor do Colégio Estadual de Campo Mourão, Valdair da Silva, compartilha das mesmas preocupações. Ele observou que, embora a escola disponha de salas de aula disponíveis no período da tarde, o perfil dos alunos da EJA difere muito do público do ensino regular.
“Na educação de jovens e adultos, há meninos e meninas de dezesseis, dezessete anos, que já passaram pelo ensino regular e não se enquadram nesse perfil de ensino, precisando, assim, de um modelo apropriado. Ao mesmo tempo, convivendo com crianças de dez, onze, doze anos, no mesmo espaço escolar, eles mesmos se sentiriam deslocados e, portanto, desmotivados”, avaliou.
Silva acrescentou que o colégio já organiza a distribuição das turmas de modo a manter os alunos do 9º ano e do Ensino Médio no turno da manhã, separando-os dos mais novos, o que tem contribuído para um ambiente escolar mais equilibrado. Segundo ele, o modelo é aprovado pelos pais e tem mostrado bons resultados. “Não é justo para com eles que esse modelo, que tem sido eficaz, seja simplesmente desconsiderado de fora para dentro”, argumentou.
O gestor também alertou para a falta de profissionais capacitados para atender o público da EJA em uma escola regular. “A relação deles com o ambiente escolar é bem diversa da que nossas crianças e adolescentes costumam ter”, afirmou.
Busca de apoio e abaixo-assinado
Nos últimos dias, uma reunião com a comunidade escolar foi realizada para discutir a situação. Segundo o diretor, uma breve consulta pública com os presentes resultou em rejeição unânime à proposta de unificação dos dois públicos no mesmo turno.
Diante da repercussão, o poder público municipal foi acionado. De acordo com o diretor do Ceebjacam, o prefeito Douglas Fabrício e deputados estaduais manifestaram apoio à causa no sentido de dialogar com o secretário estadual de Educação para tentar reverter a decisão.
Em defesa da manutenção do centro, foi criado um abaixo-assinado pela comunidade, disponível tanto em formato físico quanto on-line (https://tinyurl.com/58dtj7pv), que já reúne mais de mil assinaturas de ex-alunos, pais, professores e moradores de Campo Mourão, segundo o gestor. “A população reconhece que é necessário manter esse espaço especial para a EJA”, afirmou, ressaltando que o fechamento dos centros de EJA é uma proposta de alcance estadual, não restrita a Campo Mourão.

