Preço da arroba do boi recua com força na região e produtores amargam prejuízos. Queda de 21,67%

Os valores da cadeia pecuária de boi para abate e carne – recuaram com força em um ano em Campo Mourão e região, deixando pecuaristas no prejuízo. O curioso é que a baixa não tem chegado no mesmo patamar ao consumidor. Ou seja, a carne ainda continua bastante cara em mercados e açougues. Em muitos casos, os preços até aumentaram.

De acordo com pesquisadores do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), o cenário está atrelado sobretudo à maior oferta de animais neste fim de safra. “A maior disponibilidade de gado em 2023 – especialmente de fêmeas –, por sua vez, é resultado de investimentos realizados pelo setor pecuário nos últimos anos”, informou o órgão, em nota à TRIBUNA.

Conforme levantamento feito pela reportagem, em consulta a boletins diários de preços divulgados pelo Departamento de Economia Rural do Paraná (Deral-PR), em um ano, a arroba do boi gordo (15 quilos) sofreu uma queda de 21,67% em Campo Mourão e região.

Para se ter ideia, em maio de 2022 era vendida pelo produtor entre R$ 300,00 a R$ 305,00 aos frigoríficos para abate. Mas caiu agora, no mesmo período, para R$ 235,00 a R$ 250,00. Ou seja, uma queda de R$ 55,00 a R$ 65,00 a arroba. Em janeiro deste ano, o preço para abate variava entre R$ 280,00 a R$ 290,00.

Quem atua na atividade está sentido na pele e no bolso este desfalque com a queda nos preços. O tradicional pecuarista Wilson Godoy, da região de Iretama, avaliou o atual momento como caótico à atividade. “Está complicado. Pagamos o preço dos insumos tudo em alta na época em que a arroba do boi ainda estava rentável. Tivemos altos custos também em inseminação e sal mineral caro. Esperamos que este cenário não perdure, caso contrário a atividade ficará totalmente inviável. Muita gente vai ‘quebrar’”, preocupou-se. Ele diz que pecuaristas vêm fazendo ‘malabarismos’ em suas propriedades para manter a atividade com os preços desvalorizados da proteína.

Godoy observa que o curioso é que apesar da queda nos preços ao criador, o produto pouco baixou nas gôndolas ao consumidor final. “No mercado, se você for comprar carne bovina não mudou em quase nada o preço em relação ao último ano, por exemplo, salvo engano quando há alguma promoção como clube de desconto, o que é muito difícil”, observou.

Para se manter na atividade, o pecuarista disse que é preciso redobrar o planejamento na propriedade e colocar o ‘pé no freio’. “Quando tem o boi a pasto é mais fácil você segurar. Já aquele que está em confinamento fica mais complicado porque deu o ponto de abate tem que mandar para o frigorífico. Nestes casos, não há como amenizar o prejuízo. Temos que absorver a diferença e fazer mágica para as contas baterem depois”, comentou.

Godoy alerta que se houver mais queda no valor da proteína há pecuaristas que podem definitivamente ‘fechar a porteira da propriedade’, abandonando a atividade. “Estamos passando por um momento muito difícil. Vinhamos há cinco ou seis anos com preços estabilizados e valorizando. De repente o cenário virou de ponta cabeça”, lamentou.

O pecuarista observou que para amenizar os prejuízos, criadores vem fazendo o abate de muitas fêmeas. Isso pode levar à falta de bezerros no mercado no futuro, prejudicando também a atividade. “Leva tempo até refazer as matrizes novamente. Neste caso, quem mais pode ser prejudicado é o consumidor”, alertou.

Custos de produção

De acordo com boletim conjuntural divulgado pelo Deral-PR nesta quinta-feira (1), atualmente o custo de produção de algumas proteínas diminuiu aos pecuaristas. Segundo o órgão, a baixa nos preços do milho e da soja estão refletindo diretamente na queda do custo de produção de suínos e frangos, além do leite produzido no Paraná. Os dois grãos, que estão entre os mais cultivados no Estado, são essenciais na alimentação animal.

A análise desses custos e informações sobre o desenvolvimento de outras culturas agropecuárias fazem parte do Boletim de Conjuntura Agropecuária, preparado pelos técnicos do Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria da Agricultura e do Abastecimento (Seab), referente à semana de 26 de maio a 1º de junho.

O custo médio de produção de um quilo de suíno vivo em 2022 foi de R$ 7,44. Nos primeiros quatro meses deste ano o valor caiu para R$ 6,71, o que representa redução de quase 10%. A alimentação, que sozinha teve baixa superior a 13%, representa praticamente 80% de todo o custo produtivo.

No caso da bovinocultura de leite, a redução no custo de produção em abril deste ano foi de 1,3%, comparativamente com o mês anterior. No entanto, a escassez de oferta no campo e a competição pelo produto impulsionam o preço pago ao produtor, atualmente em R$ 2,94 o litro no Paraná.

Nos preços atuais, o produtor precisaria de 18,5 litros de leite para comprar uma saca de milho. Em maio do ano passado ele precisaria do dobro, no mínimo, para pagar a mesma saca. A redução nos custos com alimentação pode ajudar o produtor a enfrentar melhor a entressafra e evitar aumento exagerado nos preços ao consumidor.

O boletim também retrata a análise da Embrapa Suínos e Aves, que verificou queda de 6% no custo de produção do frango no Paraná em abril deste ano, comparativamente com o mês anterior. De um valor médio de R$ 5,30, o quilo caiu para R$ 4,98.