Quem é Gustavo, o jovem ‘furioso’ com histórico de agressões?

No último sábado (9), Franquelin foi até o centro de Campo Mourão comprar um par de tênis. É que à noite, ele pretendia fazer orações junto a outros evangélicos na área rural da cidade. Mas ele não fez nada do que desejava: não comprou o tênis e nem foi ao monte. O encontro foi trocado por uma cama hospitalar. Ao tentar estacionar o veículo, próximo a Catedral, acabou espancado por um outro motorista, jovem, forte e com domínio em artes marciais. Agora, internado na Unidade de Pronto Atendimento (UPA), recebeu o diagnóstico: lesões na mandíbula, nariz e olhos. Ele ainda não acredita no que aconteceu. E, definitivamente, não entende os motivos de tanta fúria.

Franquelin Domingos da Silva tem 51 anos. É pai de três filhos. E ganha a vida como motorista escolar. Numa rotina de anos, vai de casa ao trabalho. Do trabalho à igreja. Mas como uma ironia da vida, um dia antes, recebeu o rotineiro treinamento na empresa em que atua. O tema: a vida no trânsito. “Nos cursos em que fazemos sempre é enfatizado a importância da vida no trânsito. Aprendemos a ter zelo, respeito, paciência. E tudo isso que me aconteceu vai contra o que nos ensinam”, explicou ele.

Conta que eram 11 horas da manhã quando tentava estacionar o seu veículo numa das vagas do centro. Era sábado de muito movimento. Lojas lotadas em busca de um presente aos pais. Então deu seta e iniciou a marcha ré. Atrás dele, um motorista de 27 anos, inquieto, sem paciência e com pressa. Franquelin pediu que ele fosse para trás, podendo assim melhor estacionar. Mas o homem não aceitou. Furioso, o jovem deixou o carro e desferiu um golpe em seu rosto. E já sangrando no supercílio, passou a ser xingado. “Ele então pediu que eu saísse do carro. E eu saí. Foi quando, sem conseguir me defender, passei a levar socos no rosto e um chute nas pernas. Foi tudo muito rápido. E com muita violência”, contou Franquelin.

As cenas de violência explícita foram filmadas por populares. E não é exagero afirmar ter sido um massacre. Uma fúria sem precedentes. De um jovem com metade da idade da vítima, sem reais motivos àquela agressão. O jovem em questão tem nome: Gustavo Pereira de Oliveira. Franquelin não é a primeira vítima dele. Existem outras. Muitas outras, incluindo os próprios familiares.

Franquelin Domingos, de 51 anos, teve lesões na mandíbula, nariz e olhos após ser agredido por Gustavo Pereira de Oliveira, no último sábado (9)

Casos

Proximidades do Colégio Unidade Polo, 8 de novembro de 2024. Eram 22 horas quando o filho de 12 anos de um advogado liga ao pai, chorando. Os cães do vizinho, da raça Pitbull, saíram à rua e mataram “Bóris”, o seu gato de estimação. Menino e gato cresceram juntos. Comovido, ele vai até a casa da ex-esposa consolar o menino. Mas na chegada encontra o dono dos cães, Gustavo. “Quando o vi, lembrei a ele sobre os pedidos que tinha feito meses antes, de não deixar os animais saírem de sua casa. Foi só falar isso pra que ele me empurrasse e começasse a me socar no chão”, disse o advogado.

Com as cenas de violência em frente a residência, não demorou para que a ex-mulher deixasse a casa e viesse socorrer o ex-companheiro. Ao chegar até os dois, Gustavo se levantou e desferiu um soco em seu rosto, quebrando o nariz. “Em seguida apareceram os vizinhos e começaram a separar. Fui levado ao outro lado da rua. E mesmo assim Gustavo se esquivou, correu até mim e me acertou novamente”, relatou.

O casal representou contra o agressor, que foi ouvido pela polícia, mas saiu em liberdade. O caso ainda tramita na vara criminal. Para o advogado, “Gustavo é uma pessoa prevalecida, se utilizando de técnicas de artes marciais. Age na traição, com atitudes covardes, batendo em idosos e mulheres. Muitas vezes utiliza até um soco inglês”.

Santa Casa de Misericórdia, 29 de outubro de 2024. O vigia André Lima dos Santos estava na portaria do hospital às 13 horas. Havia 20 dias desde a sua admissão ali. Ele abriu a cancela para que uma médica entrasse. Ao mesmo tempo Gustavo apareceu e adentrou “quase empurrando a doutora”. André então perguntou aonde ele pretendia ir. “Ele me respondeu que levaria um remédio à esposa, que estava internada. Disse a ele que naquele horário não era permitido, porque era o momento da troca de plantão. Mas que poderia deixar comigo, que eu ia pedir pra um maqueiro levar a ela”.

Segundo André, a partir daquela conversa, Gustavo mudou de afeição, fechando o semblante do rosto. Tirou o celular do bolso e ligou à companheira dele pedindo que viesse até a portaria, antes que fizesse uma “cagada”, nas palavras dele. “Depois disso passei na frente dele e disse que ia abrir a cancela pra que ele aguardasse do lado de fora, uma vez que estava no corredor”. Para André, isso foi o estopim da fúria do agressor.

“Aí ele veio atrás de mim e disse que eu teria que ser muito homem pra tirar ele de lá. Então saí de novo ao corredor e ele veio atrás, já bem alterado, gritando”. Vendo um início de confusão, várias pessoas, incluindo médicos, enfermeiras e pacientes, correram para separá-los. Em vão. Gustavo acertou o primeiro soco em André. E mais um, e outro. “Ele segurou tão forte no braço de uma enfermeira que ela ficou marcada”, lembrou ele. Dias depois, segundo André, o pai do agressor entrou em contato. “Ele disse que tinha medida protetiva contra o filho”.

André teve lesões leves, como escoriações no pescoço, atrás da orelha, onde ele deu os socos, além de um galo na testa. “O pior é você chegar em casa e falar aos seus filhos que o pai deles apanhou no trabalho. E que ficou por isso mesmo”. André fez boletim de ocorrência e representou contra Gustavo. Já houve audiência. Agora resta o julgamento. Ele continua trabalhando na Santa Casa.

Jardim Albuquerque, 2023. Gustavo parou a sua moto em frente a uma garagem e foi almoçar em um pequeno restaurante do bairro. Minutos depois, uma moradora pediu que ele a tirasse para que ela pudesse sair, trabalhar. Ele afirmou que não a retiraria. Então, com medo de conflitos, ela foi ao serviço a pé. Mas no caminho ligou ao vizinho explicando o que havia ocorrido. E pediu que o mesmo tirasse uma foto da motocicleta para acionar a polícia.

“Eu peguei o meu celular e fui fazer a foto, discretamente. Mas o sujeito me viu. E já me deu um golpe no rosto. Ele estava com um soco inglês, feito de ferro. Aquilo abriu minha cabeça. Então, atordoado, corri. E quando vi, ele estava atrás de mim, tentando me acertar de novo. Consegui me esquivar de todas as outras tentativas, até que ele foi embora”, revelou o homem que, preferiu não ser identificado. A marca da agressão continua em seu rosto, até hoje. Assista abaixo:

De acordo com ele, após dois anos do boletim de ocorrência, somente este ano, dois meses atrás, aconteceu a audiência no fórum. “Ele deve ter as costas quentes. Não é possível que ele faça tudo o que vem fazendo e não seja preso. São quantas vítimas? Quantas pessoas ainda vão conhecer as mãos dele?”, questionou.

Ainda constam registros de ocorrências contra Gustavo por um tatuador de Ubiratã. Um dono de imóvel e um motorista de ônibus de Campo Mourão. E mais: pelo próprio pai e um irmão.

Quem é Gustavo

Gustavo Pereira de Oliveira é casado e tem 27 anos. Trabalha com a esposa no ramo de piercings. Segundo informações, ainda adolescente era um sujeito tranquilo, educado. Gostava de estudar, principalmente música. Até hoje, toca vários instrumentos. Na escola era um estudante disciplinado, sempre disposto a ajudar.

Mas algo ocorreu após a sua adolescência, se transformando em uma pessoa diferente. No frigir dos ovos, uma espécie de bomba relógio, com o pavio bastante curto. Em 2019 buscou uma escola especializada em Krav Maga – sistema de defesa pessoal israelense que se concentra em técnicas práticas para situações de combate real e autodefesa. Lá, fez quatro aulas até ser, de certa forma, expulso.

O professor que o afastou, que prefere não ser identificado, revelou se tratar de um possível “sociopata”. Nas poucas aulas que fez, Gustavo já mostrava a que vinha. “Nós ensinamos técnicas de auto defesa e numa delas, usando uma faca, veio com uma história de como cortar as pessoas. Não gostei do que ouvi. E senti se tratar de uma pessoa que eu não poderia ensinar tais técnicas”, revelou. Pior aconteceu na aula seguinte, quando intimou o próprio professor a um combate real.

“Perguntei a ele se era isso mesmo o que ele queria. Até tentei não aceitar. Mas a sua insistência e arrogância foram tão grandes que topei a fim de dar lhe uma lição sobre respeito. Então, após o treino, fizemos o combate. Precisei bater muito nele. Vendo o sangue escorrer, demorou a aparecer. E quando surgiu, eu disse que não tinha mais horário para ele”, lembrou. Segundo o professor, após a passagem de Gustavo naquele tatame, regras foram reforçadas na academia. Uma delas, multa a quem falar palavrão. A segunda, jamais desafiar alguém. Não treinamos o agressor. Treinamos para que ele não faça vítimas”, reforçou.

O instrutor revela que identificou no “aluno” uma certa “psicopatia”. “Temos um código de conduta. As técnicas do tatame não podem, de maneira alguma, serem utilizadas na rua. A não ser pela auto defesa. Quem luta não briga. Essa é a regra básica das artes marciais”, enfatizou.

Sem as aulas de Krav Maga, no mesmo ano, Gustavo procurou outra academia, agora de Jiu Jitsu, a arte suave. Fez quatro ou cinco aulas apenas. Mas não era o que queria. Ali se ensinava a arte da imobilização, uma modalidade sem violência nos golpes. Parou.

Ainda em 2024, Gustavo foi parado pela polícia. O carro em que andava, um Ford Fusion, teve mandado de busca e apreensão. Perdeu o veículo. Os policiais ainda o provocaram: “Você não é o cara que gosta de bater em todo mundo?”. Mas ao contrário de outras situações, ficou quieto. No último sábado ele também guiava um automóvel. E sem poder. Segundo consta, está com a CNH suspensa. Após a sua última agressão, ele apagou as redes sociais: muita gente revoltada com a sua atitude.

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Polícia e defesa

Na última segunda, Gustavo compareceu à Polícia Civil para depor. De acordo com Nilson Rodrigues, Delegado Chefe da 16ª Subdivisão Policial, ele assumiu a bronca, confessando a autoria das agressões – e nem poderia ser diferente, diante das imagens que rodaram a cidade. Disse ter recebido ofensas antes, decidindo ir para cima do outro motorista. “Agora vou ouvir a vítima e pedir o laudo do hospital. Gustavo tem várias agressões em seu currículo. Ele foi alertado por mim que tem que parar com este comportamento. Não vou permitir que ele faça isso, de novo, na cidade. Ele entendeu o recado. Recado quando é bem dado, a pessoa tem que assimilar e entender”, explicou.

Advogado de Gustavo, pelo menos em sua apresentação à polícia, Rosinei Braz, revelou que o cliente se arrependeu do que fez. Contou sua versão, sendo liberado pelo delegado. “Ele disse que houve uma discussão metros antes, com xingamentos entre ambos. Mas no acaloramento da situação, acabou o agredindo”.

De acordo com informações da própria polícia, apenas casos de lesões corporais de natureza grave podem levar o agressor a ficar detido imediatamente. Casos em que lesões são consideradas leves, com exceção de flagrantes, segundo a lei brasileira, do artigo 129 do Código Penal, basta um termo circunstanciado, seguindo o seu curso via judicial.

Mas para as vítimas das mãos furiosas de Gustavo, a lei é branda demais. “Como evangélico não quero amaldiçoar a vida dele, não. Estou pedindo às pessoas que orem pela minha vida, assim como a dele. Ele precisa de um tratamento. Precisa ser parado. Que a lei da terra seja feita. Ele não pode ficar impune sempre. Ele só bate em trabalhador. Em pai de família”, desabafou Franquelim. Mesmo Gustavo saindo, mais uma vez em liberdade, ele afirmou que irá processá-lo criminalmente.

Em tempo: a TRIBUNA conversou com a esposa de Gustavo via whatsapp. Na conversa, este repórter pediu para ouvi-lo, mas sem sucesso. O pedido também foi feito ao seu advogado, Rosinei Braz. O espaço continua aberto caso ele mude de ideia.