Secretário municipal faz balanço da Cultura em Campo Mourão: ‘um ano de conquistas’
A Secretaria Municipal de Cultura (Secult) de Campo Mourão está encerrando 2025 com um balanço considerado “um ano de conquistas”, nas palavras do secretário Roberto Cardoso. Em visita à TRIBUNA nesta semana, acompanhado do historiador e coordenador do Museu Municipal Deolindo Mendes Pereira, Jair Elias, ele apresentou um panorama que reúne ampliação de projetos formativos, retomada de festivais, profissionalização de equipes técnicas e crescimento do público nos equipamentos culturais.
O ano marcou também o segundo ciclo após a transformação da antiga Fundação Cultural (Fundacam) em Secretaria, em 2024, o que exigiu reorganização administrativa e ajustes estruturais. Outra mudança recente foi da gestão municipal, já em 2025, que passou da administração do ex-prefeito Tauillo Tezelli para o atual prefeito Douglas Fabrício. “Apesar de ser uma gestão nova, o Douglas manteve o que a gente programou em dois mil e vinte e quatro”, afirmou, observando que, embora ambos sejam do mesmo grupo político, cada gestão atua de maneira distinta.
Cardoso também destacou o papel da imprensa na expansão da audiência cultural. “As redes sociais divulgam, mas falam muito para quem já nos acompanha. A imprensa regional amplia nosso público e traz gente de fora para os eventos”, disse, citando o “Concurso Pinóquio” como exemplo da mobilização regional e agradecendo especialmente à TRIBUNA pelo alcance das divulgações.

Ações culturais
A secretaria atua ao longo de todo o ano com atividades voltadas a diferentes idades, crianças, jovens, adultos e idosos, nas áreas de teatro, música, circo, dança, literatura e artes visuais. Tradicionalmente, a agenda inicia com o Festival de Verão, criado para atender, sobretudo, crianças em situação de vulnerabilidade social durante o período de férias. “Quem tem condição vai viajar, quem não tem, fica na cidade, então, a gente criou o festival de verão para atender essa população”, explicou.
A programação anual inclui, ainda, iniciativas como Férias na Biblioteca, Concurso Pinóquio, Mostra de Dança, Primavera dos Museus, De Lobo a Lobato, Mostra Contemporânea, Festival de Teatro e Festa Literária. Para o secretário, os festivais cumprem função dupla: oferecer programação de qualidade e fortalecer a formação dos artistas locais.
A Mostra de Arte Contemporânea, por exemplo, retomada há três anos, registrou 300 inscrições de artistas de todo o país. Já a Festa Literária resultou no lançamento de livros produzidos por editais exclusivos da atual gestão, recebendo inscrições de todo o Brasil e de sete países. “Olha onde a cultura de Campo chegou!”, celebrou.
Cardoso destacou o papel da cultura na formação cidadã, para além da preparação de artistas. “Quando você investe em cultura, em arte, em educação, você não precisa investir em presídios”, afirmou. Em 2024, a área já tinha registrado um número expressivo de atendimentos nos equipamentos culturais: foram cerca de 400 mil – número que deve ser superado em 2025, segundo estimativa prévia da secretaria.
Um dos eventos mais emblemáticos do ano foi o Cortejo Natalino, no último domingo (7), executado pela Associação Sou Arte com apoio do município, que mobilizou cerca de mil pessoas ao longo de meses, entre artistas, técnicos, professores e produtores. O secretário reafirmou a prioridade de contratar mão de obra local. “O projeto gera renda o ano inteiro praticamente, e aí a prioridade é que sejam profissionais técnicos daqui [de Campo Mourão]”, afirmou. Parte da equipe passou por capacitações em Curitiba, com foco em produção, montagem e direção artística.

Formação contínua e mudanças após a pandemia
Depois de anos de instabilidade, a Escola Municipal de Artes Cênicas foi um dos setores culturais que o responsável pela Secult destacou o registro de um crescimento significativo. Só na área de circo, quase 300 alunos participaram das atividades ao longo do ano. Os cursos de teatro, dança, música, canto coral e circo, segundo ele, têm papel formativo essencial, mesmo que nem todos sigam carreira artística.
Na música, a secretaria passou a priorizar oficinas formativas, seja na percussão, no violão, no canto coral, na regência, na iniciação musical ou formação de bandas, em vez de investir em grandes shows. Para o secretário, esse formato gera impacto mais consistente na formação. “Nossa pasta, ela é muito cíclica”, afirmou, destacando a necessidade de ajustes contínuos conforme a demanda dos alunos e da comunidade.
As mudanças também atingiram a política de ingressos para acesso aos eventos. Após a pandemia de covid-19, mesmo eventos gratuitos registravam altas taxas de ausência; no Teatro Municipal, de 470 lugares, quase metade dos assentos ficava vazia. A equipe passou a monitorar a situação e adotou a retirada presencial e limitada de ingressos.
A estratégia reduziu drasticamente as ausências. “A adesão da comunidade hoje parece que está mais consolidada”, avaliou. “Quando a retirada passa a exigir esse deslocamento, o compromisso é diferente”, justificou. Atualmente, todos os eventos seguem com entrada gratuita, com exceção do espetáculo anual da Academia Municipal de Ballet, que possui taxa simbólica.
De Fundação Cultural à Secretaria Municipal
Durante a entrevista, Cardoso também detalhou a reorganização estrutural e operacional após a transformação da Fundacam em Secretaria. A alteração foi motivada pelas exigências da nova Lei de Licitações e Contratos Administrativos (14.133/2021), que obrigaria a Fundação a aumentar setores próprios de compras, licitação, tesouraria e procuradoria, o que aumentaria custos e reduziria investimentos em atividades culturais específicas.
Como o município já possui toda essa estrutura administrativa, ele explicou que a incorporação à prefeitura reduziu despesas e permitiu reforçar equipes nas áreas finalísticas, voltadas diretamente à comunidade. “Então, foi por isso que a gente transformou em secretaria; assim, a gente atende mais a população e impacta menos em folha”, explicou.

Orçamento
O gestor da Secult lembrou que o governo federal passou a contribuir de forma mais direta com a Cultura, primeiro com a Lei Aldir Blanc 1, que, com a atuação de movimentos sociais nacionais, evoluiu para o Plano Nacional Aldir Blanc (PNAB). “Ela obriga o governo federal a repassar verbas específicas para a pasta da Cultura de fundo a fundo nos próximos cinco anos”, disse. Campo Mourão recebeu a primeira etapa do repasse. “A gente recebeu a PNAB ciclo um, que foi setecentos e trinta e dois mil reais que a gente investiu cem por cento dela na classe artística mourãoense através de editais”, contou.
Apesar desse reforço, a secretaria segue dependente do Tesouro municipal. Cardoso ressaltou que, ao contrário da Educação e da Saúde, a Cultura não possui percentual mínimo obrigatório de investimento. “Nós tivemos sorte de ter o ex-prefeito Tezelli que investiu, o nosso orçamento voltou a crescer, e o prefeito Douglas agora manteve”, afirmou.
Segundo ele, o orçamento anual da pasta gira em torno de R$ 7,5 milhões, dos quais cerca de R$ 4 milhões são destinados à folha de pagamento. O restante cobre eventos, manutenção e infraestrutura. O secretário citou como exemplo o conserto recente do ar-condicionado do Teatro Municipal, que custou cerca de R$ 150 mil e foi pago com recursos próprios da secretaria. Reformas como a do Museu Municipal, em 2023, também foram executadas exclusivamente com verba da pasta.
Projetos maiores dependem, em grande parte, de emendas parlamentares, caso do Centro Cultural Itinerante, em fase de implantação. A iniciativa prevê levar oficinas e apresentações para comunidades, com estrutura de palco móvel, som, iluminação e painel de LED. Uma emenda de R$ 100 mil permitiu iniciar a montagem da estrutura, mas o projeto ainda não foi colocado em prática por falta de recursos adicionais.

Desafios e perspectivas para 2026
Entre os desafios apontados pelo secretário para 2026, estão a ampliação de estrutura física para a Escola de Artes, a modernização tecnológica da Biblioteca Municipal Professor Egydio Martello, a manutenção de agenda regular para o Museu e a necessidade de manter políticas de descentralização cultural, levando atividades para bairros e comunidades mais distantes.
Para a Biblioteca Municipal, por exemplo, Cardoso revelou que o projeto de revitalizar o espaço, inclusive com uma cafeteria interna, segue em vigor para os próximos anos da atual gestão. A ludoteca também deverá reestruturada no local. “A gente tem muitas coisas para conquistar ainda até o final da gestão”, ponderou.
Com a coordenação do historiador Jair Elias, o Museu Municipal também terá sua estrutura ampliada e descentralizada em mais espaços na cidade, além da sede, na área central. A gestão planeja uma nova etapa do projeto de museus em 2026, com oficinas de gravação de acervo, curadoria participativa e estudos de modernização. “A gente está quebrando um pouco esse paradigma que museu é essa coisa para velho”, comentou o secretário.
Cardoso afirmou, ainda, que o objetivo para 2026 é consolidar a política cultural construída ao longo dos cincos anos em que ele está à frente do setor cultural na cidade, expandindo trabalhos de formação, ampliando festivais e fortalecendo o vínculo da população com os espaços públicos de cultura.

