Trigo está em boas condições, mas falta de chuva preocupa

Apesar de a maior parte das lavouras de trigo (95%) apresentarem boas condições de desenvolvimento na região de Campo Mourão, conforme boletim semanal do Departamento de Economia Rural (Deral), divulgado na terça-feira (2), a falta de chuva já começa a preocupar os produtores rurais.

O alerta é do o presidente do conselho de administração da Coamo, José Aroldo Gallassini, em entrevista ao canal de comunicação da cooperativa no YouTube. “O momento é complicado porque estamos vivendo uma seca que pelo jeito se estende pelo Brasil inteiro, influenciada pelo La Niña. E pelas projeções não é coisa de curto prazo”, preocupou-se.

Pelos prognósticos da meteorologia, as chuvas só devem voltar a se regularizar no fim do ano, o que é grave, diz Gallassini, ao comentar que algumas lavouras de trigo, na área de atuação da Coamo, já estão sendo prejudicadas pela seca. “Esta seca está prejudicando o trigo. Algumas lavouras estão desparelhas, soltando uma espiga aqui e outra lá, o que refletirá na produtividade”, comentou.

Gallassini destacou, no entanto, que algumas lavouras que receberam volume maior de chuvas apresentam melhor desenvolvimento com cacheamento mais parelho, que refletirá em mais produção. O engenheiro agrônomo lembrou que o trigo é uma cultura que não requer muita chuva, mas ‘não pode ser muito pouca também’. “Se tivermos chuvas adequadas nos próximos dias ainda teremos uma grande produção. Só torcemos para que não venha uma frente fria para que não dê geada forte o que também pode afetar as lavouras”, frisou. A expectativa dos produtores, apesar dos prognósticos, é que as chuvas possam voltar em volumes mais significativos entre o fim de agosto e início de setembro, época das águas.

Condições das lavouras

De acordo com o último boletim divulgado pelo Deral, 34% das lavouras de trigo estão em desenvolvimento vegetativo na região; 45% em floração e 21% no estágio de frutificação, fase mais crítica da cultura.

Nesta temporada, os produtores rurais plantaram 100.300 hectares de trigo na Comcam na safra 2022. Em comparação à safra anterior houve uma redução de área em aproximadamente 4%. Em 2021 foram cultivados 105.000 ha. Os bons preços animam, apesar da alta nos custos de produção.

A produção inicial estimada para esta temporada é de aproximadamente 280.840 toneladas. Com a saca de 60 quilos cotada em média a R$ 112,15, os preços do grão estão cerca de 30% maiores este ano comparado ao mesmo período do ano passado. Porém, mesmo com a cotação em alta neste ano, os custos de produção das lavouras aumentaram. Ou seja, o produtor terá que colher mais para ter a mesma rentabilidade do que em 2021.

Historicamente o Paraná é líder da produção nacional de trigo. Em 2019, colheu 8,6 mil toneladas em 637 hectares, o que rendeu R$ 15,3 milhões. Em 2021 a safra foi de 3,2 milhões de toneladas, patamar 20% inferior às 4 milhões de toneladas estimadas inicialmente. A redução se deu em função da seca ao longo do ciclo e de geadas pontuais em algumas lavouras. Além disso, a chuva na época da colheita também retirou qualidade dos grãos, que tiveram índices menores do que os da safra de 2020. Para esta temporada, a projeção do Deral é que o Paraná tenha uma produção de 3,9 milhões de toneladas para uma área total de 1,17 milhão de hectares.

Milho

José Aroldo Gallassini comentou também sobre o avanço da colheita do milho 2ª safra que passa de 70% na região. “No momento, para colher milho, estamos com clima adequado. Só esperar chegar a umidade adequada do grão”, frisou.

Segundo ele, a produção está prejudicada principalmente pela cigarrinha do milho além da estiagem que afetou as lavouras no início do plantio. “Mas a qualidade está relativamente boa. Não estamos tendo problemas de qualidade”, falou.

A saca de 60 quilos do cereal é cotada em média R$ 75,27. Houve queda em relação aos preços praticados no início da colheita. “Os preços caíram porque a oferta é muito grande. Temos uma grande safra”, explica Gallassini. Segundo ele, a previsão de recebimento pela Coamo é de 605 milhões de sacas. “Está indo bem, mas não sei se chegaremos a este volume”, observou.

Ele alertou ainda o produtor a ficar de olho no mercado para vender a sua produção no momento certo. A dica é vender a safra de forma fracionada. Desta forma, se os preços subirem mais, o agricultor ainda terá mais do produto para vender. “Os preços em relação ao custo de produção ainda estão bons. O que aconteceu é que tivemos preços muito altos no começo da safra e deixamos de vender e agora fica a expectativa. O produtor de modo geral está vendendo devagar, tem gente esperando que volte o preço. Temos que aguardar para ver”, disse.

Outra orientação é que o produtor comercialize sua safra considerando principalmente o seu custo de produção. “Se você for colher 150 sacas, adubar, custo com herbicida e frete até a Coamo você vai gastar 65 sacas por alqueire ou R$ 75,00 por saca. Este é o meu custo. A gente tem que ter esta noção porque se está R$ 75,00 a saca e estou vendendo a R$ 170,00 não posso dizer que é ruim. Mas esta é uma decisão do cooperado”, ressaltou. Ele disse ainda que a tendência de mercado é para uma estabilidade dos preços das commodities no momento.