A minha visita

“A visita deve estar sempre a vista de quem a recebe, sem que 
a própria se sinta incomodada, mas sim acomodada”.

Estive Nólocal (b.d.C.)

    Mesa arrumada. Os aromas como boas-vindas, do café, do pão quente a derreter a manteiga, das frutas. A brisa doce e clara, cores azul e amarelo do céu e do sol, suavemente transpassam, iluminam e são também servidos, sorvidos, solvidos naquela hora, que não se sabia qual era. 
    Pausadamente, frágeis, demorados pingos é o que resta da noite negra de chuva. Pássaros passam, param, a beberem água pura nas poças. Alçam voos, alcançam a janela, espiam, piam, parte e chegam, cantam o bom do dia, começam com o dom do canto.
    Tinha-se todo o tempo do mundo, não o lá de fora, mas o de dentro da casa, espaço para as horas serem como os pássaros, voos livres, destino a vagar. 
    Janelas e portas que logicamente estavam como estiveram a noite toda, fechadas, trancadas, como roupas que vestiam, agasalhavam e protegiam aquela casa. Dentro dela a visita. Ela que chegou e foi dormir tarde, preguiça e sono levaram-na, leseira a deitar na cama arrumada.
    A segunda xícara agora seria bebida com toda a tranquilidade, cada gole saboreado. O primeiro foi para acompanhar a fatia de pão bem recheada. Sem nada para pensar, só mesmo o café, olhares dispersos para a mesa e ao redor dela. 
    O que faria depois a visita? O que bem quisesse. Ou, não quisesse. A casa era dela, o tempo dela também. A visita era do e a de tudo. Deveria de fato se sentir à vontade.
Abre a porta. Recolhe o jornal. Volta para dentro.  Senta no sofá da sala. O mundo, outrora lá fora, distante, parecia não existir, mas agora está diante dos olhos, as notícias. 
Os olhos ficam mais abertos diante de uma notícia. A visita sabia que uma hora ou outra se tornaria fato, chegaria o dia. E o dia estava ali, anunciado: “A volta as aulas!” 
A visita deixa de lado o jornal, dispersa em pensamento, trazida a realidade… as férias terminaram. 
Quem era a tal visita? A própria visita descobre que não era mais visita. Ela estava na própria casa, em férias se tornara hóspede dela mesma. 
Apenas tinha um objetivo que parecia esquecido, desacostumado, dormir mais cedo e acordar mais cedo, prestar atenção nos pássaros, sentir o aroma do café sendo coado e bebido, das frutas, do ar novo da janela. 
Dar e ser atenção como quem visita o mesmo mundo e espaço da casa, rotina sem monotonia, da vida que é simples como sorver o azul e o amarelo de cada manhã, do novo amanhã. 
Mundo é o que carregamos, não só o de nossas costas. O mundo dentro e em nossa volta, de realidade posta e imposta, de sonhos e ideais também. Mundo que dá voltas em torno dele mesmo, ao mesmo tempo no nosso coração.

Fases de Fazer Frases (I)
    A vida por inteiro não é uma vida inteira. 

Fases de Fazer Frases (II)
    A espera não é aspiração. Saber esperar é inspiração.

Olhos, Vistos do Cotidiano 
    “Atenção para a hora certa…”, é comum o locutor do rádio assim dizer para informar a hora. Acaso ele iria informar hora errada? Tem locutor que dá ênfase sem necessidade, e errada: “Agora neste momento são 15 horas (..)”. O ouvinte esperaria, além da hora errada, que fosse informada hora de outro momento do dia, a não ser da hora naquele momento? 

Farpas e Ferpas (I)
    Relevada. Revelada. Levada. Elevada. É, verdade. Verdade?  

Farpas e Ferpas (II)
            Vírus da China, que tal. Dengue no nosso quintal. Faxina! 

Reminiscências em Preto e Branco
    Tudo vira saudade. Saudade que virá.