Contraefeito, efeito com efeito
O herdeiro de um parente rico quer organizar o enterro deste com muita solenidade e contrata
carpideiras profissionais. Mas seu intuito é malsucedido e ele se queixa: 'Quanto mais
dinheiro dou às minhas carpinteiras para parecerem tristes, mais alegres elas ficam
Emanuel Kant (anedota contada por ele)
Cópia bem feita? Não. Perfeita! Tais expressões são comuns. Que o digam os piratas. No ambiente escolar a prática de copiar trabalho alheio de um colega estudante começa cedo e chega ao nível superior, pós, doutorado…
Professor de Sociologia, certa ocasião, há anos, os estudantes tiveram como trabalho pesquisar sobre a família de cada um deles, origem, trajetória e atualidade. Quando da entrega do trabalho, a aula foi destinada a reflexão sobre tal pesquisa. Posteriormente fiz a leitura atenta de todos os trabalhos. Em dado momento considerei estranho ao começar, já na capa título do trabalho, a sensação de ter lido sobre a mesma família, e sabia que não tinha naquela turma irmãos ou outro grau de parentesco próximo. Interrompo a correção e examino novamente cada trabalho. Então me deparei com idêntico conteúdo! O que não era igual era apenas e tão somente a capa, diferenciada pelo nome e número. Nem careceu da minha parte indagar quem copiou de quem. Afinal, um era autêntica história da vida do estudante com todos os dados. Os mesmos dados copiados pelo outro, que apenas mudou o nome e número.
Apanhando a concepção do direito, contrafeito é falsificação; e, no sentido figurado, constrangimento. O estudante que copiou o trabalho só teve o trabalho de fazer uma capa. Tão desatento que não percebeu que o tema da pesquisa era sobre A Família, mais especificamente: família de cada estudante.
O contrafeito teve o efeito – sentido da consequência a pior possível e imperdoável para a chamada cópia fiel. O contrafeito teve o efeito da nota zero. E o mesmo contrafeito levou ao com efeito, – no sentido ao modo efetivo, que gramaticalmente é a locução com ênfase. O estudante que emprestou o trabalho jamais imaginou que o colega fosse só mudar o nome e o número. Eis o caso de se tornarem irmãos, ao menos na esperteza. Detalhe, o estudante do original do trabalho, de fato dele, pediu desculpas, reconhecendo que não deveria ter emprestado o próprio trabalho, e imaginou que eu, como professor, não vai ler o trabalho, só dar a nota pela cara da capa.
Fases de Fazer Frases (I)
O machado machuca o macho. Não é do macho machucado o machado.
Fases de Fazer Frases (II)
O aprendiz aprende e diz. E diz apreender.
Fases de Fazer Frases (III)
Conserve o que serve, se sirva do que sirva. Sorva antes de sorvar.
Fases de Fazer Frases (IV)
Quem em nada acha graça, corre mais risco de encontrar desgraça.
Fases de Fazer Frases (V)
Quem costuma falar sozinho nem sempre se opõe quando todos o deixam sozinho a falar.
Olhos, Vistos do Cotidiano
O dia foi muito quente. Veio a chuva. Nas principais vias urbanas centrais mourãoenses a água rapidamente forma enxurrada célere para os boeiros. Naquele fim de tarde e começo da noite o trânsito era intenso, engarrafamento. Ao sair da avenida e ingressar numa rua a fila de carros era imensa. Aí tudo para: Uma senhora que puxava o carrinho dela repleto de papelão, certamente apanhado após um dia inteiro de trabalho, usava a vida porque a calçada próxima estava cheia de entulhos que não permitiam nem a passagem de pedestre. De repente uma pessoa nm baita carrão buzina sem parar e gesticula direcionando toda a ira para com a senhora. A idosa com a carrinhola, a olhar de um lado para outro, tentando evitar o transtorno, assustada com a buzina.
Lamentável cena, como se a buzina resolvesse impulsionar a mulher do carrão que fazia um papelão no confronto com a senhora do carrinho sem sinal. Uma no conforto e luxo, vidros fechados, banho tomado, perfume, a buzinar para a outra, roupas puídas, suor de um dia inteiro, cabelos desalinhados, no intenso labor a puxar o que é o ganha-pão.
Reminiscências em Preto e Branco
Saborosa era a gabiroba abundante nos tempos de minha meninice em Campo Mourão. A pé ou de bicicleta até a antiga pedreira, passar pela bica d'água e apreciar o fruto. A aventura, tão boa, lá não parecia longe da cidade. A estrada vicinal, a mata e a gabiroba estão sendo engolidas pela cidade. Fica no vestígio reminiscente o sabor da vida como fruto.
