Diálogo com ele

O silêncio é o diálogo mais profundo.

Juliana Pacheco

            Sábado. Um dia inteiro, uma noite. Sozinho em casa.

            Sossego, térreo e no andar de cima. Sem ruído, só o habitual.

            Rua se espreguiça, deserta. Frio lá fora rodopiava, zunia. 

            Telefone fixo não tocou. Como o móvel, desligado.

            Ouço café despejado à xícara, sorvo. 

            Se pensei, não lembro o quê e não desejei ficar pensativo.

            Ainda assim dialoguei com o silêncio, displicente a escutá-lo:

            Se ele quisesse me dizer. Eu nada a lhe falar.

            Só a ficar. Mínimo a me mover. A me ver.  

            Não ouvi a minha ou qualquer voz escutaria.  

            Não cogito falar. Silêncio como no sono, sonho mudo.

            Ouvidos tapados das paredes sabáticas, como as portas, janelas. 

            Como silêncio da casa e o meu silêncio com ela casa.

            Um só tempo o silêncio, assim comigo: mudos.

            Não mudamos. Moldamos quietude nossa.

            Porque palavras a nada dizer? Falar o nada com elas todas?

            Indago ao silêncio em silêncio me silencio.

            Não responderá a quem e de quem não ouça.

            Ora (?) na hora de ir embora: embora silencie sem ele. 

Fases de Fazer Frases (I)

            A melhor roupa para a melhor ocasião é a que poderá tirá-la.

Fases de Fazer Frases (II)

            O sentido duplo duplamente faz sentido?

Fases de Fazer Frases (III)

            Só não perde vergonha quem nunca teve.

Fases de Fazer Frases (IV)

            A paz depende da guerra que pode ser evitada.

            A paz depende da guerra que pode ser ganhada.

            A paz é o que se faz e se tem dela.

Fases de Fazer Frases (V)

            O barco a deriva.

            O bar deriva.

            O arco abarca.

            O banco arca.

            São palavras que se parecem sem desaparecem.

Fases de Fazer Frases (VI)

            Perda maior de tempo é do tempo que não existia.

Olhos, Vistos do Cotidiano

            Motorista é preso por embriaguês e passageiro por desacato; Motorista bêbado derruba motociclista e três são presos. Foram as manchetes, seguidas uma da outra, dia 19 passado, do Sítio Tá Sabendo, assinadas pelo jornalista Clodoaldo Bonete. Só para citar dois recentes acidentes de trânsito em Campo Mourão causados pela embriaguês e fuga do local, respectivamente. A sensação é de impunidade, eis o sinal.

Reminiscências em Preto e Branco (I)

            Hibernus, hiberno, palavras latinas originárias da estação que iniciou o inverno. Tem a ver com hibernar, sentido de precaver-se diante do frio de modo a fazer pouco esforço físico para não consumir demasiada energia do corpo humano. Somos assim no envernar, parecemos ursos polares.

Reminiscências em Preto e Branco (II)

            A fumaça, do fogão a lenha, de dentro, chaminé afora, mistura-se ao cinzento do tempo frio, cerração, neblina, brumas. O fervente do quente café para mandar o frio ao longe. Tudo se dissipa do tempo passado, esfumaciado.

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Por José Eugênio Maciel | [email protected]