Eurides, o tempo como caminho

Não se pode chegar à alvorada a não ser pelo caminho da noite

Khalil Gibran

Dia 12 de outubro ele complementaria 96 anos. Eurides Ovídio Pereira acenou em despedida derradeira na terça passada, 30 de setembro. Era o habitante mais velho de Campo Mourão.

Quando estamos na movimentada avenida Irmãos Pereira, uma das mais importantes e tradicionais vias da nossa cidade, nela pulsam a vibração enorme e contínua história. Um dia foi  caminho apenas contemplado na imaginação, já porém presentes o espírito estoico da bravura e saga dos pioneiros. Fora de qualquer dúvida, os Pereiras são o exemplar mais cristalino do antes do começo de tudo. Os pais do Eurides aqui aportaram pela primeira vez quando os anos 1900 estavam principiando, provavelmente desceram dos cavalos e carroças, em seguida pisaram o sol fértil, sentiram a brisa gélida da mata verde ainda inóspita.

Estar em contato com Eurides era vivenciar a história deste lugar, conhecer fatos históricos.  Sabe, Maciel, as casas de hoje não possuem varandas, as pessoas não mais se reúnem ao final de um dia para prosear. E ninguém visita mais ninguém praticamente. Não tem mais matas, árvores, serrarias e casas de madeiras, rememorava seu Eurides numa das visitas que fez a minha casa. Ele chegou num domingo a tarde para prosear, tinha lido um dos meus artigos publicados neste espaço de Jornal exatamente quando escrevi sobre casas de madeiras, serrarias, varandas. (…). Ele achou interessante contribuir para o que eu tinha redigido.

Além de histórias saborosas, ele tinha um modo especial de narrar, de relacionar pessoas, acontecimentos de uma maneira única e própria dele, a prosa prendia a atenção de qualquer ouvinte, embarcávamos nos causos como se todos eles estivessem sendo descortinados diante dos nossos olhos. É possível afirmar sem qualquer receio em errar ou exagerar, Eurides jamais foi só o testemunho da história, ela fez e faz parte dela, protagonista tão envolvido que não se limitou a  afazeres que tinha, estava sempre pronto a servir, exercer a fraternidade desprendida e a somar-se a comunhão da sua gente, e foi por tal motivação, vereador nos anos 50.

Outras vezes ele me fez visita. Também fui ao encontro dele. Outrora e apesar da idade avançada, a vivacidade estava estampada como vigor mental e físico cristalinos. O amor por este lugar sempre foi imensamente legítimo, herdado dos pais. Se antes caminhos foram pensados, sonhados e até delirados, foram edificados, foram percorridos, tiveram o destino do chamado porto seguro. Caminhos como a avenida que homenageia a família dele, reconhecimento inegável nos primeiros dias daquele século quando tudo estava por fazer, assim formaram a vila, a comunidade, ergueram em bases sólidas um município.

O caminho do Eurides que sucedera a geração dos pais dele e por consequência a que derivou do citado pioneiro, é o traçado que, ligado ao passado, pulsa novos caminhos, na aventura que prossegue desafiadora e vitoriosa.

Eurides deixa de percorrer e de guiar, encerra o caminhar dele. A estrada prossegue aberta, a  ser alargada, ela é o destino de quem vem e decide ficar. Estrada da vida que perpassa e nela passamos, também no rumo da eternidade, lá onde agora se encontra Eurides. 

Frases de Fazer Frases

O cético não deixa dúvidas quando deixa claro não acreditar nele mesmo.

Olhos, Vistos do Cotidiano (I)

Entre tantos recursos – o principal deles não é aqui contabilizado, o financeiro – candidatos de todos os partidos e matizes usaram do recurso da fala, discurso de apelo para obter o voto. Foi  significativo o despreparo de muitos postulantes, incapazes de pronunciar um argumento plausível, que fugisse do do chavão usado e surrado.   

Olhos, Vistos do Cotidiano (I)

Hoje é dia das eleições. De votar, fazer escolhas, ou fugir delas pelo assumidamente desinteresse ou repulsa de muitos eleitores. Mas tem quem se comporte ao votar não como uma obrigação e sim como um direito. Ser cidadão é fazer escolhas ou se sujeitar que outros façam no lugar. Cabe a advertir: Quem não gosta de política é governado pelos que gostam.

Reminiscências em Preto e Branco

Candidato tem retrato na urna. O eleitor tem o título para votar e nele não tem retrato.