Jacira, luz e paz

A sabedoria superior tolera, a inferior julga; a superior perdoa, a inferior condena. Tem coisas que o coração só fala para quem sabe escutar.

Chico Xavier

A primeira sensação é a escuridão, repleta do mais intenso breu, pura a simbolizar o fim definitivo de uma vida. A ausência e a falta eternas serão sentidas profundamente nas noites como se os dias não mais existissem palpáveis, eles se tornam lembranças saudosas.

Sem que o impacto negro e perplexo do luto se desfaça, a luz se apresenta, perpassa e proporciona a claridade mansa e reconfortadora, é a lua, ela é capaz de iluminar o caminho final da eternidade, assim como proporciona suportar a dor sem escapatória.

Jacira, nome próprio indígena originário do tupi e do guarani brasileiros, Jaci é lua; e Ira significa doce, mel. Na mitologia dos índios Jacira é a luz da noite. Da sabedoria indígena entrelaçada culturalmente nas tantas e diversas gerações brasileiras, receber o nome de Jacira  é considerar que a pessoa tem luz, paz, é artista, bondosa.

Semana passada, sexta, 28, aos 94 anos, Jacira Martins Gaspar passou a brilhar na dimensão estelar daqueles seres humanos possuidores de luz com brilho próprio espetacular. Perda como escuridão não é desolação total, pois a luz da paz e da bondade vem ao encontro das pessoas que ficam do lado de cá terreno, no último aceno para dona Jacira, ela no agora infinito, remanso cristalino.

Professora, o conhecimento para ela se adquire na observação cotidiana das pessoas, a vivência, a convivência, somar dos saberes. Criou os filhos, foi exemplo para os netos e demais familiares. Era uma senhora que contemplava a vida na simplicidade do sorriso, no aperto de mão, no abrir dos braços para acolher a criança que busca o afago. Todas as horas eram horas para acudir, atender, ser aquela que apoia sem cobrar, condenar, preocupava-se primeiro em ser o amparo generoso e acolhedor. Era a lua ditosa, luz a clarear caminhos.

Envelheceu tendo em si o sentimento límpido da decência, da experiência de vida que a elevava a condição de uma senhora de respeito ímpar. Apreciava estar em meio as pessoas humildes, não se tratava de se misturar a elas, mas sim de ser como elas, embora caiba a nós enfatizar, dona Jacira sempre foi maravilhosamente única.

Recordo de uma ocasião que a visitei. A casa dela acolhedora, janelas abertas, ar fresco, flores, o café saboroso preparado na hora, a atenção afetuosa que me proporcionou, como a todos que a visitavam. Impressionante a disposição comunitária, ela tomava a iniciativa de participar, assumir papéis sociais. Era o exemplo e o incentivo. A filiada mais idosa do PPS de Campo Mourão comparecia a todas as reuniões, a presença dela representava um patrimônio moral, ético, símbolo da cidadania. Com certeza iremos contar, reviver e prosseguir no fazer a história, a história que era dela também, a Jacira Martins Gaspar edificada fatos com inegável e destacado valor, voltados para um mundo melhor.

Fases de Fazer Frases (I)

Saber cultivar jardim sem flores, regar sem ter regador. Não há ordem para o saber.

Fases de Fazer Frases (II)

Quem aceita a seita? Preceito aceito.

Fases de Fazer Frases (III)

O ponto final do texto não é o mesmo ponto final da linha. Papel e ônibus que se entendam.

Fases de Fazer Frases (IV)

Mesmo bem aberto o dicionário, palavras estão guardadas, no aguardo de quem as procure.

Olhos, Vistos do Cotidiano

Domingo passado em Campo Mourão, numa calçada do Lar Paraná, moscas voando, dois cães com focinhos próximos ao cadáver, pessoas curiosas ao redor do corpo sem vida. Briga de bar, fotos registraram a cena. Não faz muito tempo e dada à religiosidade, não demorava e o corpo era coberto com jornais, também providenciavam uma vela imediatamente acesa. Não importava quem era a pessoa morta, o importante era a misericórdia.         

Reminiscências em Preto e Branco

Tudo computadorizado, chips e microchips. Peças inteiras substituídas. Quase não faz mais sentido carregar nos veículos uma caixa de ferramentas.