Lavar as mãos, não como Pilatos

“…Talvez tenhamos aprendido que o caso agora é de vida ou morte e que ninguém pode enfrentar sozinho um vírus tão ardiloso e potente. Por isso, são necessários recursos, inteligências, competências, ações e instituições coletivas, Coordenação e coesão 
geral. É necessária uma cabine de comando, um governo competente que tenha
 autoridade, uma equipe formada por um vórtice político de grande inteligência
e apoiada pelos máximos representantes das ciências médicas, da economia, 
da sociologia, da psicologia social e da comunicação. Talvez tenhamos
aprendido que os fatos e os dados devem prevalecer sobre as opiniões, 
a competência reconhecida deva prevalecer sobre o simples bom 
senso, a prudência e a gradualidade das intervenções devem
prevalecer às tomadas de decisões arrogantes e à improvi-
sação. Por outro lado, é necessário tolerar os erros de 
quem possui a responsabilidade terrível de tomar 
decisões, líder que deve ser generosamente
amparado para que sejam melhoradas…”

Domenico De Masi – sociólogo italiano, artigo publicado na Folha de S. Paulo, último dia 22 

    “Que acusação vocês apresentam contra este homem?”, indagou o governador romano da Judéia, Pôncio Pilatos. Ele mesmo respondeu: “Eu não encontro nenhum, motivo de condenação.”
    Embora detivesse o poder de decidir por ser juiz, Pilatos lavou as mãos, literalmente diante do povo ensandecido para libertar Barrabás e condenar a morte Jesus. Pilatos sabia que um tinha muitos crimes e o outro nenhum. 
    Lavar as mãos é uma forma eufêmica de covardemente se omitir, de transferir responsabilidades que, que de fato e de direito, não podem ser dadas a outros.
    O corona-vírus prossegue. Governos e sociedades mobilizados no enfrentamento para agir preventivamente e socorrendo os infectados.
    Longe de sermos Pilatos, temos que lavar as mãos sempre e mais vezes. Ficarmos em casa, é a saúde quem – com toda a autoridade profissional –    adverte! 
    Mas, lamentavelmente, Campo Mourão é também notícia por parte de alguns que querem a abertura do comércio, alegando o exaurimento da economia, como se população não soubesse e não sofresse com o momento atual.
    Foi estranho a carreata, pois o certo é que deveriam realizar uma passeata, de mãos dadas, sem luvas, máscaras, abraçados e tudo mais.
    Irresponsabilidade é crime de quem o pratica ou é silente. Quem mais, como entidade de representação apoia os Pôncios Pilatos? 
    No pior sentido, eles praticam o isolamento social, no caso do respeito à vida que deve ser tutelado pelo poder público e cabendo a sociedade também se comportar igualmente. 
Acham que é hora de discutirem sucessão de diretoria, vivem no mundo amparado por uma redoma e alheios aos direitos humanos. Usam outra máscara. 

Fases de Fazer Frases
    Não é sempre que o tempo diz. Ele faz calar também.

Olhos, Vistos do Cotidiano (I)
    Não será surpresa se uns alguns chamarem quem fica em casa de vagabundos.

Olhos, Vistos do Cotidiano (II)
    Que seja pelo excesso de cuidados do que pela negligência. Ninguém tem o direito de colocar em risco a própria vida. E a dos outros, menos ainda.

Farpas e Ferpas
    Se a vida não tem valor, a morte terá?

Reminiscências em Preto e Branco
    Quando o fim da escravidão já se tornara inevitável (Brasil fui o último na América Latina a decretar o fim de tal regime), defensores desses privilégios fizeram último apelo, “a escravidão irá acabar com a economia e com o Brasil!”.
     Tão distante na cronologia pura e simples do tempo; mas, ao mesmo, tempo atual e especificamente para uns alguns em Campo Mourão.
 

José Eugênio Maciel | [email protected]