Memória como homenagem, reminiscências fúnebres

O escritor francês Albert Camus escreveu, “Só conheço um dever: é o de amar”. O mestre Assabido amava os seus semelhantes como dever intrínseco, o dever, dele sem obrigação, mas o dever como vontade generosamente própria. O Artigo abaixo foi aqui publicado em dezembro de 2017, dia oito, próximo à data de aniversário dele, então completando 91 anos. O sentimento do luto não contém apenas o inelutável fenecer, a ele é envolto o manto da imortalidade acadêmica, cátedra da sala de aula, dos livros, na cultura geral. Para e com a paz, descansa, amigo. 

MÉRITO AO MESTRE ASSABIDO
“O saber a gente aprende com os mestres e os livros”.
A sabedoria se aprende com a vida e com os humildes”.
Cora Coralina

    São quantos os Assabidos? O filho. O padre. O cristão. O professor. O mestre. O literato. O marido. O pai. O avô. O homem. Referência à nota 10 são 10 as qualidades gizadas em respeito ao Assabido Rhoden. Nesta segunda-feira ele lançará o seu novo livro. Comandada pela Academia Mourãoense de Letras, da qual ele é membro. Ao homenageá-lo, celebrando o dia 11 os 91 anos do nascimento, é ele que presenteará a todos com o autógrafo na sua obra.
    O filho. Nasceu no Rio Grande do Sul, descendente de alemães. Em 1926, dia 11 de dezembro em Selbach. Mais do que herdar dos pais a profunda fé cristã, o legado, já desde menino, tornou-se, ao mesmo tempo e intensamente, uma conquista devidamente consciente e honrada.          
    O padre. Vocação, devoção, ação, convicção sacerdotais do peregrino que anuncia e é.  
    O cristão. Assabido deixou de ser padre pela decisão de contrair matrimônio, autorizado pelo Vaticano. Mas não deixou de ser absolutamente cristão, mantidas muitas atribuições inerentes a tais funções. Sem deixá-la tem nele a Igreja numa vereda só, a fé. 
    O professor. Nos anos 70 quando chegou a esta região e ao deixar a batina, começou a expandir o mister de educador na condição da sala de aula. Assabido sabia que podia ensinar porque tinha enorme e rico conhecimento. Na sua cátedra não se punha nalgum pedestal, pois suas aulas eram diálogos fecundos. Elevava-se pelo saber e levava ao alto todos àqueles dispostos a aprender.      
    O mestre. O tempo que dedicarmos a alcançar a inteligência, ele será atingida, questão de tempo, cada ser humano ao seu modo, circunstâncias e capacidade. Basta busca-la, a inteligência semeada brotará, será cultivada e frutificará. Já a sabedoria é fruto da meditação sobre o saber e aplicação ao longo do tempo da vida. Assabido é professor dos mestres, é mestre das gerações.    
    O literato. Citações e análises bíblicas que comportam a Filosofia também em sentido amplo, além da religiosa, reúnem nas obras dele um legado para as gerações de agora e a aquelas que virão nos vários decêndios. É a reflexão acadêmica, primada e aprimorada.     
    O marido. “Amor e ajuda”, palavras dele para a esposa Clotilde, expressas no livro As Exigências do Mistério de Cristo, amada sempre, sendo não existir instante algum em que ela tenha ficando de fora dos pensamentos e ações de Assabido.   
    O Pai. Carlos Alberto, Ricardo, Ana Claudia e Fernanda foram criados com “açúcar e com afeto, doce predileto”, na canção do Chico Buarque. A doçura do pai que soube segurá-los pelas mãos e, à medida que cresciam, soltá-los. Com as mãos passarem a expressar o aceno à vida adulta. Remédios amargos? Pouquíssimos na missão de educá-los, raras advertências. Tiveram eles a educação pelo exemplo eloquente do Assabido e Clotilde, caráter e humildade são alguns traços.       
    O Avô. As gerações que formou na vida religiosa e educacional transpuseram filhos, filhos dos filhos, netos e netos. Em casa encontram Assabido de coração e braços abertos para acolher a criançada miúda que tem nele o velho senhor renovado com um vigor de menino feliz.   
    O homem. Assabido é um só homem na multiplicidade de muitos papeis, afazeres e seres. Justo, íntegro, capacidade de compreender, perdoar. Assabido é soma nas somas da vida de divisões e multiplicações.  
    Feitas as dez referências ao Assabido aludindo à nota máxima, 10! É preciso acrescer mais uma, para totalizar 11, sendo 11 o dia do aniversário dele. E 11 como reunião das demais 10 referências para um total esplêndido:
    O Amigo. Universal e específica que tem, tão bem cativa: amizade. Aqui a homenagem.     

Reminiscências em Preto e Branco – Geizimara: “Presente, professor!”
    Contingências inerentes aos fatos que são maiores que o ser humano, não ter que se despedir convenientemente em velar, não impediu de derramar todas as lágrimas lúgubres provindas do coração dilacerado. Guardarei sorrisos, simpatia da estudante dedicada, competente, atenta. Fui durante três anos seu professor no Colégio Estadual de Campo Mourão. Mais do que alcançar notas altas, elogios, possuía amizades, cultivando-as com singular sinceridade e empatia. Um imenso e belo jardim é agora a sua morada celestial. Foi embora muito cedo, para afirmar o mínimo, aos 21 anos, oito de abril, Geizimara da Silva Gomes não irá responder “presente!”, – mas estará, na família, nos amigos, na sala de aula, em todos os lugares, para sempre presente. 
 

José Eugênio Maciel | [email protected]