No bilhete, o pedido de trabalho

A pobreza resulta do aumento dos desejos do homem, não da diminuição de sua propriedade.

Machado de Assis

Se você precisar de uma diarista ligue 35257901 ou 988645811. Tenho referências e experiências. Obrigada. Mari.

Transcrito acima integralmente o conteúdo do bilhete. Ao chegar em casa, quarta passada e verificar a caixa de correspondências, apanhei o bilhete, escrito na folha destacada de uma pequena caderneta, em espiral de arame, folhas com linhas.

Com certeza, a Mari deixou tantos e outros bilhetes desses, pedindo emprego.

Gasta sola, percorre, ruas, a deixar nelas bilhetes.

Ela bate palmas. Não batem palmas para ela, governo atual e anterior ante a recessão, nome técnico empolado para na real denominar desemprego, carestia e injustiça social.

Que esta Coluna possa ser útil alguma vez ao menos.

Quem sabe agora em 31 anos. Que a Mari consiga emprego de diarista. Os números estão aí.

Não estou a precisar de diarista. Se fosse o meu caso, entraria em contato com a Mari.

Não mantive contato e sequer poderia, de momento, indicá-la a alguém, ninguém me pediu ou fez menção. Ou que saiba.

Tornei público, sem pedir autorização a ela, na esperança de tenuamente ajudar a Mari. Ela está entre 13 milhões de desempregados. É o que se pode saber da realidade do trabalho e das condições sociais de quem luta pela sobrevivência.

Qual o nome completo da Mari? Quais ou quem são as referências dela?

Tem companheiro, filhos? Como faz para pagar as contas inevitáveis da luz, água, do gás, do pão nosso de cada dia? É solteira, jovem? Mora com outras pessoas na mesma situação que ela?

Nem sei antes o poderia ter escrito na Coluna.

Mas não creia, o caro leitor que, sem pensar, sem inspiração e capacidade que me acompanham, não foi e não é ao acaso ou a calhar que resolvi escrever, melhor, transcrever o bilhete da Mari.

Quantos anos ela tem? Mora em qual bairro? Se a desesperança assaltar o ânimo dela, o bilhete seria como aquele posto dentro de uma garrafa e atirada no mar das incertezas, oceano das desilusões, nas águas sujas da poluição e de sangue como martírio de vida.

Tomara que não, Mari! Que até alguém conte o que foi escrito aqui, que tenha a chance e que sorria, lute mais ainda, com afinco do trabalho.

Sou agora uma referência sua, a divulgar o seu pedido. A Mari é diarista e precisa trabalhar. Que o dia a dia dela o quanto logo seja da diária do serviço.

Fases de Fazer Frases (I)

Rumo nos rumores.

Dos amores, rumares naufragados.

Rumei no que amei. Remei no meu remar.

Seria a sereia longe ou na areia aquela que irá me amar? Na responda, ó mar.

Fases de Fazer Frases (II)

Homem faz trabalho mecânico até a máquina chegar. Ele maquina? Fim.

Fases de Fazer Frases

No banco dos réus brasileiro quem mais nele deveria sentar?

Seriam os bancos financeiros, eles juram que não, mas nos roubam nos juros.

Olhos, Vistos do Cotidiano

Jornais impressos estão desaparecendo, eles mesmos noticiam. O pior é leitores natimortos, eles cometem o suicídio para não lerem nada.

Não é essa a impressão, falta de novos eleitores e enterrados com aqueles que leem e que morrem de velhos, fica só a impressão do escrito sem ler, da notícia não ouvida.

Farpas e Ferpas

Não se pisa em falso quando o caminho é na verdade.

Reminiscências e Preto e Branco

O novíssimo para ser velhíssimo é uma questão de tempo. Veríssimo!

José Eugênio Maciel | [email protected]