Papéis invertidos, pervertidos

“O homem modesto tem tudo a ganhar e o orgulhoso tudo a perder:
é que a modéstia tem sempre a ver com a generosidade
e o orgulho com a inveja”.
Antoine Rivarol

Para ser sério basta uma risada. E para ser levado a sério chorar é o começo.

É possível apontar, categoricamente, que o caro leitor já tenha ouvido pelo menos uma ou algumas expressões abaixo mencionadas. Exagero (?) arriscar, que o mesmo leitor já tenha dito tais palavras ao comentar e quem sabe apontar para fatos das manifestações públicas, paralisações, protestos, sobretudo os de grandes repercussões exteriorizadas em vias, praças públicas:

Desocupados, baderneiros, vândalos! Não sabem o que querem! Extremistas, radicais! Massa de manobra! Bando de vagabundos! Só pensam neles. Vão achar o que fazer!

Quando interesses não são atendidos e, pelo contrário, são negados, ainda que tacitamente, as ações e reações fogem do controle, sensatez, coerência e da prevalência do interesse público.

A inversão de papéis se aplica a atual conjuntura depois do fim das eleições. Aqueles todos, ou parte deles, são o “bando de desocupados” de agora.

Praticamente as mesmas pessoas hoje a gritar e agitar bandeiras, na voz delas também, em passados recentes, se referiram a outros movimentos, bastando que interesses fossem contrariados.

De uns tempos pra cá, milhares de brasileiros se tornaram doutores em conhecimento das regras eleitorais, das instituições, como o Estado, o Supremo Tribunal Federal, o Congresso, fecha isso, fecha aquilo. Versaram como doutores sobre regimes políticos, políticas econômicas e por vai.

Estão com a solução mágica, algum, – se não o mesmo – para salvar a Pátria, amada, armada, ou não.

A maioria dos meios de comunicação noticiou a declaração do vice-presidente, general Hamilton Mourão, gaúcho de Porto Alegre, eleito para o Senado pelo Rio Grande do Sul:

Aceitamos as regras do jogo, ao argumentar não caber as Forças Armadas, segundo ele, intervirem em nenhuma situação, afirmando ainda: Há hoje um sentimento de frustração, mas o problema surgiu quando aceitamos passivamente a escandalosa manobra jurídica que, sob um argumento pífio e decorrido cinco anos, anulou os processos e consequentes condenações do Lula”.

Se teve e ainda tem, uma usina de notícias falsas que circularam incessantemente para influenciar o eleitor na hora e para quem votar, ou já depois de proclamado o resultado.

A mais patética, pessoas que acreditaram que as Forças Armadas tinham invadido o Supremo Tribunal Federal, prendendo todo mundo, então elas foram se ajoelhando, chorando, caricatas, nas expressões do tipo “O Brasil está a salvo”.

Sequer como brasileiros somos capazes de conquistar vitórias, quanto mais aceitar derrotas, pois sempre assombros rondam as nossas instituições.

Hoje mais do que nunca, país dividido, bem ao meio, difuso nos sentimentos do como fazer ou deixar de fazer o Brasil caminhar em frente, legitimamente e sempre no sentido da soberania, como do resultado das urnas.

Fatos acontecem, interpretá-los com o mínimo de competência e sensatez não é o nosso forte. E o pior é quando o Brasil desanda, ninguém assume responsabilidades, apontamos os “outros” e fatores externos como culpados, e aí ninguém é o “pai da criança”. Toda e qualquer manifestação não pode sofrer censura prévia, preceitua o Artigo cinco da Nossa Constituição. Mas também ela veda o anonimado. Ou seja, todos são responsáveis pelos atos e fatos, sem se eximirem de qualquer responsabilidade que recaia nas pessoas e nas próprias instituições.

Fases de Fazer Frases (I)
O poder hoje pode não ser o puder amanhã.

Fases de Fazer Frases (II)
Vontade própria não se apropria, mas deve ser apropriada.

Fases de Fazer Frases (III)
Rumores são terrores que causam rubores.

Olhos, Vistos do Cotidiano
A deputada por São Paulo Carla Zambelli (PL) com pistola em punho, perseguiu na rua e posteriormente dentro de um bar, um negro que fizera críticas a ela, acusando-o de ter feito ela cair, o que as imagens não mostram.

Ela afrontou o decoro parlamentar, usou e abusou com a arma em punho agindo criminosamente ao desrespeitar a proibição a todos os brasileiros de usarem armas no dia do pleito, salvo quem estivesse em serviço ou tenha o direito de portar.

Inspirada no julgado e condenado Roberto Jefferson (PTB) que resistiu a prisão através de granadas jogadas nos policiais, tendo na ocasião um forte arsenal, a deputada também mostrou e demonstrou ser a dona da verdade, da arma, do mandato, das pessoas.

Ela alegará legítima defesa? E do mandato?

Farpas e Ferpas (I)
Não confundamos: O império da lei com o imperador sem lei.

Farpas e Ferpas (II)
O que mais estranha é o que sai da entranha, a patranha.

Farpas e Ferpas (III)
Inimigo do alheio só não é alheio ao crime.

Reminiscências em Preto e Branco
Sem conhecer a história, ela nada ensinará.

José Eugênio Maciel | [email protected]