Para o pai de Kafka, a carta jamais entregue
Meus escritos tratam de você, neles eu expunha
as queixas que não podia fazer no seu peito.
Franz Kafka
Escrita em novembro de 1919, com mais de cem páginas a carta de Franz Kafka manifesta toda a angústia e dor inerentes a relação que manteve com o pai Hermann, chamado de deus.
Além de jamais ter sido entregue, Kafka pediu ao amigo Max Brod que destruísse a carta. Porém, Brod tornou público o conteúdo em 1950, com a reunião das obras do escritor. A correspondência é objeto de análises literárias e psicológicas, o questionamento das intenções, do escopo argumentativo e o que levaria Kafka a escrever e não pretender nunca entregá-la.
Carta ao Pai tem o tom de acerto de contas. O signatário descreve o pai Hermann como tirano, tão autossuficiente que bastava-lhe a própria opinião, dispensando juízos alheios, sequer os ouvindo. Entretanto, não deixa de reconhecer que a figura paternal consistia em uma pessoa forte, fiel e trabalhadora. Kafka cresceu com a personalidade influenciada e à sombra de Hermann. O filho reconhece as boas intenções do genitor e por mais acidamente que o criticasse, existia amor entre eles.
Se a correspondência seria um acerto de contas, não é no seu todo movida pelo sentimento volitivo da vingança e provavelmente tenha sido uma tentativa de compreensão de si mesmo a partir do pai. Não se estabeleceu um confronto, posto que a carta não chegou ao conhecimento do destinatário, embora Kafka pontuasse, o amor muitas vezes tem o rosto da violência.
Seja pelo desabafo analítico em torno do que se tornaria a partir das escolhas que foram feitas pelo peso da influência do pai, ao escrever e forjar o calibre da tensão, Kafka pretendeu a paz ao deixar espraiar sentimentos típicos de um morde/assopra.
Pungente, lírico, a carta põe a nu o bom escrever de um autor, bem como, destituído de tal condição literária, desnuda um ser na fase da florescência, na busca de situar o outrora menino, que amava o pai e o respeitava, sem saber ao certo até que ponto se era por medo, precaução ou uma forma de subserviência que seria ele liberto com a carta.
Independentemente de todas as outras condições, mas sobretudo como filho, o que hoje caberia a cada filho escrever ao pai?
Fases de Fazer Frases (I)
No jogo, o ataque das palavras pode ser revidado com o silêncio.
Fases de Fazer Frases (II)
Não dizer tudo que sabe poderá ser interpretado como se soubesse menos do que falou.
Fases de Fazer Frases (III)
Se tropeçar nas palavras escolha outras para se manter em pé.
Fases de Fazer Frases (IV)
O primo prima pela prima. A prima não prima pelo primo. Primorosamente primários.
Fases de Fazer Frases (V)
Lá tente. Lá, tente. Latente. Lá, atenta ativa. Tentativa latente.
Olhos, Vistos do Cotidiano (I)
Intitulada Josés, nosso cronista de mão cheia, ou melhor, de caneta cheia, tanto de tinta quanto e principalmente de ideias, o Osvaldo Broza compôs um belo texto com humor e criatividade sobre os Josés na vida dele (como o pai) e na história. Na crônica, publicada na conceituada Revista Metrópole, Broza faz menção ao escrevinhador aqui como integrante no mundo das letras. Para se ter noção do conteúdo, ele citou, entre outros Josés, o Pochapski (professor e vereador mourãoense), o Aroldo Gallassini, presidente da COAMO e o padroeiro do Município. Me senti importante ao lado de tantos Josés. Valeu, Broza!
Olhos, Vistos do Cotidiano (II)
A caixa eletrônica de correspondência chegou a ficar lotada, haja vista as numerosas manifestações quanto ao último Artigo publicado, esta Coluna registrou a morte de dois queridos professores, Fábio e Lourdes, evidentes a repercussão à a perda.
Olhos, Vistos do Cotidiano (III)
Relatado pelo meu irmão Enio Maciel, uma pessoa lhe diz que o próximo carro que comprará terá que vir com albergue. Estranhando, Enio nem careceu perguntar, pois o cidadão repetiu: albergue. O homem não abre mão do item de segurança, na verdade airbag, também conhecido como bolsa ou almofada de ar.
Reminiscências em Preto e Branco
A tristeza não é total neste dia dos pais. Com saudade (desde 1995), agradeço por ter sido o meu pai Eloy. Prossigo caminhando com lembranças maravilhosas de ti, que guiam meus passos. A música Naquela mesa composta por Sérgio Bittencourt e interpretada por um cantor que o senhor gostava muito, Nelson Gonçalves. Termino citando dois trechos que bem expressam a mesa lá da nossa casa, na qual o senhor saudava a todos nós:
Naquela mesa ele sentava sempre
E me dizia sempre, o que, o que é viver melhor.
E nos seus olhos era tudo brilho
Que mais que ser filho, fiquei seu fã.
(…)
Naquela mesa está faltando ele e a saudade dele está doendo em mim.
