Pátria amada? Pátria armada? Pária.
[Brasil] …um processo de antagonismos. Antagonismos de economia e de cultura.
A cultura europeia e a indígena. A europeia e a africana. A africana e a indígena.
A economia agrária e a pastoril. A agrária e a mineira. O católico e o herege.
O jesuíta e o fazendeiro. O bandeirante e o senhor de engenho.
O paulista e o emboaba. O pernambucano e o mascate.
O grande proprietário e o pária.
O Bacharel e o analfabeto.
Mas predominando sobre todos os antagonismos,
o mais geral e o mais profundo:
o senhor e o escravo”.
Gilberto Freyre – Casa-Grande & Senzala
Os índios estão em Brasília. Chegaram antes do Sete de Setembro. Aliás, chegaram, melhor escrevendo, eles estão no Brasil há dez mil anos. Estão diante do prédio do Supremo Tribunal Federal, pressionam e aguardam os homens brancos, doutos de capa preta, pronunciarem o veredito, a terra que sempre foi indígena, o homem branco a roubou e que com flechas eles querem de volta o que sempre foi legitimamente deles.
Um Brasil muito doente e que, ao mesmo tempo, espraia a cada momento em atestados médicos falsos, a entupir valas abertas dos natimortos, de desdentados adultos, sem escola e de analfabetos. País das grandes extensões de terras férteis e recordistas de safras, que também faz lembrar a música de Geraldo Wandré, proibida pela ditadura (Para não dizer que não falei de flores) no trecho que assinala: nos campos há fome em grandes plantações…”
Em Campo Mourão, “Moradores se reúnem para limpeza de espaço público em bairro”, título da reportagem do jornalista Valdir Bonete, publicado na quinta anterior nesta Tribuna, noticia um grupo do Conjunto Milton Luiz Pereira (Cohapar) que se reúne para varrer, limpar ruas e demais espaços públicos através de um animado e eficaz mutirão.
Os exemplos acima ilustrados têm em comum com o Brasil nesta Semana da Pátria?
Somos Brasís de antagonismos, como escreve o sociólogo e antropólogo Gilberto Freyre, na citação logo a baixo do título que abre esta Coluna hoje. São contrastes abismais pelos quais se pode afirmar, somos um país independente, ao mesmo tempo dependente, de riqueza e de pobreza.
Nossa ancestralidade é tratada como folclorização, índios são estranhos, “intrusos”. Não falam a nossa língua, pois preferimos subservientemente oficializar a portuguesa, “ora pois”. Índios que nos dão mais uma lição além de bem preservarem o ambiente, não pretendem nem imaginam invadir, tacar fogo e matar “os homens brancos do Supremo”.
Pátria é a casa de cada família, das mansões e dos sem-teto, obrigados ao desabrigo, família de eternos retirantes e retirados.
Desses moradores mourãoenses que evocam o patriotismo, é a extensão da casa de cada um e que se une em comunhão para limpar o pedaço de chão da pátria que é cada chão a somar no imenso território de um país continental.
Se já somos pátria, somos predominantemente um Brasil pária. E ainda muito, mas muito distante de poder afirmar, sermos uma Nação. É triste e lamentável fazer uma afirmação neste sete de setembro, mas é o Brasil que ainda não é de todos os brasileiros.
Fases de Fazer Frases (I)
Toda opinião deve estar relacionada a fatos.
Mas fatos necessariamente não precisam de opinião.
Fases de Fazer Frases (II)
A verdade independe de quem crê.
Ela é de quem a pratica.
Fases de Fazer Frases (III)
Pegadas apagadas serviriam para quê? Para serem pegas antes.
Olhos, Vistos do Cotidiano (I)
No Mercadão Municipal de Campo Mourão tinha (quarta) dois pedestais sem álcool, sendo que um deles sem recipiente, representando o descuido, não do usuário, mas de quem deve zelar pelo espaço. Ainda bem que nas lojas tudo estava em ordem.
Olhos, Vistos do Cotidiano (II)
Posso garantir que é verdadeiro, mas não posso entrar em detalhes, muito menos dizer quem é. Conto o milagre sem dizer o santo. A pessoa resolveu mandar fazer os óculos em outra ótica; e não a ótica do vizinho.
Tudo discretamente, pensou ele. Ocorre que ele preencheu um cupom e foi sorteado. Virou publicidade. O sortudo, também azarado só não sabe se o vizinho da ótica soube.
Farpas e Ferpas (I)
Todo pensamento é livre sem livrar o nada.
Farpas e Ferpas (II)
É perto que se percebe o a perto e o aperto.
Reminiscências em Preto e Branco
“Futuro não importa, o que importa é daqui pra frente”. Citação extraída nas redes sociais. É mesmo uma pérola, para ser dada aos porcos?
José Eugênio Maciel | [email protected]