Personagens, escritores no Bom Sucesso da novela

“Começar a ler foi para mim é como entrar num bosque pela primeira vez e encontrar-me,
 de repente, com todas as árvores, todas as flores, todos os pássaros. Quando fazes
isso, o que te deslumbra é o conjunto. Não dizes: gosto desta árvore mais do que
das outras. Não, cada livro em que entrava, tomava-o como algo único”.

José Saramago

    Bastou uma única cena, quando o dono de uma editora, personagem interpretado por Antônio Fagundes, lia trechos do clássico livro Dom Quixote, Miguel de Cervantes, para eu não sair da frente da televisão e assistir a todos os capítulos finais da novela Bom Sucesso, também por eu estar em férias escolares como professor. 
Fui me inteirando da trama, assim como particularmente a me encantar pela paixão do bibliógrafo Alberto Prado Monteiro, a maravilha manifesta, cativante, dadas as leituras, citações, evocação de grandes obras de nossa literatura e seus escritores, listando inúmeros autores brasileiros. 
    Após o incêndio da editora, o bibliógrafo não perdeu a esperança e ânimo, ergueu o livro de Cervantes e os demais, em meio a biblioteca em escombros, levantaram cada qual um livro e a dizer o nome dele e informar o autor. Simbolicamente fora a cabal evidência, a literatura é para sempre, assim como contista, romancista, cronistas, poetas, proseadores, são todos imortais.
    Para citar apenas autores nacionais, Erico Veríssimo, Lima Barreto, Mário Quintana, Clarice Lispector, Rubem Braga, Euclides da Cunha, Carlos Drummond de Andrade, Conceição Evaristo, João Cabral, Machado de Assis, Graciliano Ramos, nomes e livros consagrados e até conhecidos do grande público, mas não, infelizmente, lidos.
    Ao citar trechos em voz alta e geralmente contextualizados com os acontecimentos em curso, a novela mostrou, sobretudo para com as crianças, o quanto o despertar e o hábito da leitura principiam quando elas ainda sequer sabem ler. Aliás, fábulas foram também mostradas, estímulos aos ávidos apreciadores de uma boa história.
    Pode parecer pouco, mas ao mesmo tempo cabe enaltecer a novela e o público, esse como se estivesse, não na sala de casa diante da televisão, mas em uma biblioteca. Como se o controle remoto fizesse movimentar os livros na estante, com toda a imaginação que apenas a leitura possibilita. 
    Há 31 anos, desde a estreia desta Coluna, e sempre, logo em seguida do título eu transcrevo uma citação, quando essa prática inexistia, a não ser em trabalhos acadêmicos. Em sala de aula sempre eu cito nossos ilustres escritores e os demais mundo a fora.     
Fases de Fazer Frases (I)
    Quem deixa de ser o que é, passa a ser um qualquer.

Fases de Fazer Frases (II)
    O que resta da vida além da finitude?

Olhos, Vistos do Cotidiano (I)
    Como o tema principal é novela, ainda por estar em férias, não deixo de assistir outra, Éramos Seis. O Brasil retratado dos anos 30 e 40, costumes da família brasileira. Assim como outros muito bons atores, Glória Pires é a própria arte bem encenada no papel de Lola.    

Olhos Vistos do Cotidiano (II)
    “Telefone para contato”, texto comum em publicidade. Bastaria informar os números. Existem telefones que não são para contato? E caso existam, não seriam mesmo divulgados.    

Olhos, Vistos do Cotidiano (III)
    Provavelmente sendo a mãe da criança, ambas passeiam a pé em direção a esquina, andando no asfalto em vez da calçada. Um motorista passa rente e bruscamente, tirando fininha das duas. É, corremos muitas vezes riscos desnecessários.

Farpas e Ferpas (I)
    Quem está cheio da política não vê o vazio sem ela.    

Farpas e Ferpas (II)
    Quem mais deve tomar cuidado com as palavras, é o dicionário?

Reminiscências e Preto Branco
    Já é janeiro.
    Já não mais por inteiro.
    Já, já acabará janeiro.
    Já, já virá fevereiro. 

José Eugênio Maciel | [email protected]