Quando desaparecer é não ser
“Cada um deixa a vida como se tivesse acabado de começá-la”.
Epicuro de Samos
No ano passado 80 mil pessoas desapareceram no Brasil. 30 mil são, eram crianças, segundo dados do S.O.S. Crianças. Apenas no Rio de Janeiro desaparecem 80 crianças todos os meses.
No Paraná a média é de um desaparecimento a cada dois dias, de acordo com o SICRIDE – Serviço de Investigação de Crianças Desaparecidas.
Grande parte delas jamais foram encontradas, sequer pistas, sinais. E, quando encontradas, infelizmente é o corpo, sem vida.
Basicamente são duas as causas do desaparecimento, o voluntário, espontâneo; e o desaparecimento em circunstâncias alheias a vontade da própria pessoa.
Quem desaparece deixa o drama, dor, o sentimento de culpa, o luto sem corpo velado, deixa a família com a esperança que encontrará o ente amado. Esperança que vai aos poucos se esvaindo, sem ser inteiramente sepultada.
Na calçada de um hotel porto-alegrense, quando eu aguardava um táxi, uma senhora diretamente me abordou: “O senhor viu o meu filho?” Olhei bem para o retrato que ela me mostrou, uma imagem já gasta, certamente devido ao grande manuseio. Disse a ela, não morava no Rio Grande do Sul, lamentando. Indaguei há quanto tempo o filho dela estava desaparecido, disse-me: “Faz seis anos”.
Mesmo tendo sido um encontro fugaz, foi possível eu observar tratar-se de uma mulher que aparentava bem mais idade do que tinha, rugas, olhos avermelhados, cabelos desalinhados.
Sem me colocar no lugar dela, tive um pensamento estúpido, do tipo, já não seria a hora de a senhora desistir de procurá-lo? Guardei a minha tolice para mim.
Quando que uma mãe ou os demais familiares se conformariam, se renderiam as evidências ante ao desaparecimento do ente querido? Quando deixariam de procurar, aguardar notícias? Acreditar no pior desfecho?
Quais são – seriam – as principais causas de alguém fugir, desaparecer?
Só não existe uma dúvida, algum tipo de sentimento de culpa que os pais carregam, convencidos que poderiam ter evitado o desaparecimento. Por mais que se tente convencê-los do contrário.
Fases de Fazer Frases (I)
Se há rumo, ninguém anda só.
Fases de Fazer Frases (II)
Nada é mais excessivo do que toda a falta somada.
Fases de Fazer Frases (III)
Poesia, pausa, pousa.
Ousa, ou usa, seduza.
Olhos, Vistos do Cotidiano (I)
Praticamente uma criança, de 16 anos, entrou em trabalho de parto quando foi ao banheiro por não estar se sentindo bem. O fato ocorreu na terça passada, 29, em Ubiratã, no Colégio Estadual Carlos Gomes.
A menina disse que inicialmente tinha escondido dos pais que estava grávida. Coube ao diretor Cláudio Roberto Lopes Zen auxiliar no nascimento da criança. Ele afirmou jamais ter passado por tal situação, sequer algo parecido, nos 36 anos de profissão.
E os pais, não teriam absolutamente percebido nada?
Olhos, Vistos do Cotidiano (II)
A bestialidade parece não ter limites. É o caso do torcedor que invadiu o campo, no Estádio Beira-Rio, no último domingo, para se envolver na briga após o término da partida entre Internacional e Caxias.
Ele estava com a filha no colo. A mãe, que assistia ao jogo pela televisão, ficou apavorada, declarou à Polícia, estar chocada com o risco que a filha correu. Ela ligou para o marido, mas ele não disse nada.
Por causa de futebol? Emocionalmente tão desequilibrado a ponto de se envolver na briga, fazer parte dela com a filha? A perda da guarda é o mínimo que se pode exigir, ao menos por um longo tempo.
Será que esse indivíduo faria escândalo, caso a filha precisasse de providência médica e não tivesse alguém para atendê-la de imediato? Manifestaria a sua indignação? Reclamaria, exigiria seus direitos?
Ele sentiria mais ficar proibido de assistir jogos no Estádio? Do que perder a guarda da filha?
Farpas e Ferpas (I)
Não confundamos: outrora com outra hora.
Farpas e Ferpas (II)
Não confundamos: vagabunda com vaga bunda.
Farpas e Ferpas (III)
Não confundamos: o bife à milanesa com o bife ali na mesa.
Farpas e Ferpas (IV)
Não restou a sorte? Então é azar.
Farpas e Ferpas (V)
Para todo cansaço preguiça é remédio.
Reminiscências em Preto e Branco (I)
Conto….bem devagar as horas que parecem não passar.
Conto….bem de vagar as horas que perecem ao passar.
Reminiscências em Preto e Branco (II)
Na tardança da vida, vamos aprendendo a não duvidar do tempo.
Temos é dúvidas com o tempo. Elas poderiam nem existir.
Mas existem. Assim como tempo.
José Eugênio Maciel | [email protected]
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