Sem despedida e vela

“Tradição de milênios, a de velar, guardar os mortos e homenageá-los nos cemitérios, acrópoles, a pandemia fechou os chamados campos santos e proibiu aglomeração. 
Os suspeitos ou que tiveram a causa morte o ‘corona-vírus’, enterrados em caixões lacrados com poucas e distantes pessoas. Praticamente, quando
 não, sem o último adeus. São civilizações a enterrar os mortos e a contar quantos e como ficam”.

JEM – Reminiscências em Preto e Branco (05.04.2020)

    A separação primeira, o enfermo infectado com o corona-vírus no leito hospitalar não é assistido pelos familiares dele, sequer de longe fisicamente. São longos os dias de espera angustiante.
    A separação segunda, a morte, corpo encoberto, tirado, retirado, solidão do infinito.
    A separação terceira, sem ver, tocar, a dura e inominável despedida tem que ser efêmera, distante fisicamente, lacrado mais pelo indesejado desencontro.
    A separação quarta, vala comum, enterra-se como despejo, sem cerimônia, secamente. Muitos e muitos um ao lado do outro, juntos como se fossem nada em identidade de sujeitos singulares.
    A separação quinta, reúnem-se as demais separações que demarcam o abismo entre a vida e a morte. Hiato a entremear quem foi com quem fica.
    Os meios de comunicação não se limitam a destacar os trágicos números das estatísticas letais nem os que sobrevivem. Jornais narram histórias de vida sucumbida nessa batalha comum ante o pegajoso, mórbido e invisível inimigo que não dá tréguas, alastra-se vorazmente. 
    O que está ao alcance concretamente do conhecimento humano é que a morte é o fim de tudo, corpo sem vida e inexoravelmente irá se decompor. Em torno do que resta, o corpo do ente querido é a reunião dos familiares e amigos que se entrelaçarão para se consolarem, minorar a sofrida dor.
    A homenagem, depoimento, narrativas, reflexões sobre a biografia daquele que se vai visa demonstrar que ela não foi sem sentido, e é o principiar da memória cravada a ser cultivada.
    O fim que todos aspiram é a extinção do vírus, que a pandemia seja o quanto antes vencida e sepultada, talvez sem que ninguém compareça, sem derradeiro adeus.   

Fases de Fazer Frases
    Será fácil ver o passado no futuro.

Olhos, Vistos do Cotidiano (I)
    Desce, cai, escorre, corre, molha, encharca. Bem vinda, bem vida, mansa ou pesada, é a chuva!

Olhos, Vistos do Cotidiano (II)
    O ex-presidente e ex-presidiário Lula enalteceu como muito boa a desgraça do corona-vírus para mostrar o quanto o poder público é essencial. Não demorou e ele pediu desculpas, alegando que não pretendia ofender as famílias enlutadas. Só pediu desculpas mesmo porque a repercussão foi péssima para ele.
    Intitulada E DAÍ? esta Coluna abordou, dia 18 último, a declaração desastrosa do presidente Bolsonaro sobre os mortos pela pandemia. Porém, não chega a ser surpresa o absurdo dito pelo Lula. 

Olhos, Vistos do Cotidiano (III)
    Quem acredita que no final do arco-íris tem um pote de ouro? Uma senhora de Engenheiro Beltrão acreditou, melhor dizendo, em algo parecido: o conto do bilhete premiado e perdeu 2 mil reais para os malandros.
    Sem jamais desejar que larápios fiquem impunes, é preciso afirmar, bem feito para essa senhora por acreditar no velho conto do bilhete premiado há muito tempo noticiado aos montes, se tratar de uma mentira. E não será a última!     

Farpas e Ferpas
    Pior abandono, não cuidar de si.  

Reminiscências em Preto e Branco
    Ela fez 18 anos de vida, dia 21 passado. Nasceu forte e coesa, se tornou em pouco tempo o nascedouro, o pulsar e o centro da profusão de nossa cultura: AML – Academia Mourãoense de Letras. Fazer parte dela como fundador, sempre foi para mim, e é, um aprendizado do culto de nossa língua, com todas as letras, costumo afirmar.   
 

José Eugênio Maciel | [email protected]