Só mais um pouquinho…

“Não quero faca, nem queijo. Quero a fome”.
Adélia Prado

O despertador toca. É cedo para quem dormiu tarde. Mais cinco minutos… Não é mais cedo. É tarde. O sonho foi. O sono permanece. Só mais um pouquinho….

Assim começa o dia. O dia que não se adia. Igual à vida, relógio, ponteiros apontam mesmas horas. Dias são outros, antigo calendário, cada dia, mês folhas arrancadas quando são passado.

A fome se rende, água na boca, saborear café, pão. Só mais um pouquinho…. O gole, outra fatia, manteiga. Só mais um pouquinho.

Estou numa fila, banco, sentado, leio o livro, cada vez mais interessante o conteúdo. O painel me convoca pela senha. Só mais um pouquinho…

Rememoro, não tem como esquecer, tem sempre a notícia com registro de imagens, a pessoa que chega atrasada para um vestibular ou outro concurso, bem na hora do portão que terminara de fechar. “Só um pouquinho”, quando não diz, mas pensou o retardatário.

Também me lembro, de um veículo empurrado por quatro alegres rapazes, aliviados também por chegarem finalmente ao posto, faltou combustível. Só mais um pouquinho no tanque seria possível chegar até o posto.

Quantos nasceram ou deixaram de vir ao mundo por causa do: Só mais um pouquinho.

Dia de chuva, pessoas esperaram que ela cessasse para que pudessem sair, só mais um pouquinho. Ficam muito molhadas em tempo curto, e foi só mais um pouquinho.

Na chuva de terça, ao voltar a noite após as aulas, ouço o rádio, momento dos comerciais, não mudo de estação, a espera de música.

Faltando exatos dois quarterões para chegar em casa, começa a tocar uma música linda que há muito não escutava, ainda no começo dela, portão se abre e conduzo o veículo na garagem.

Estive com dúvida, desligar o carro, abrir a porta automaticamente, e o rádio emudeceu.

Qual era a música?

Só um pouquinho, entro nem casa cantarolando aquela canção.

Qual?

Só mais um pouquinho.

Fases de Fazer Frases (I)
A educação leva tempo e o tempo não leva a educação.

Fases de Fazer Frases (II)
A educação leva tempo e o tempo leva para a educação.

Fases de Fazer Frases (III)
A educação leva tempo e o tempo eleva a educação.

Fases de Fazer Frases (IV)
Dicionário guarda antigas palavras e aguarda as novas.

Fases de Fazer Frases (V)
Entre quatro paredes o teto é discriminado.

Olhos, Vistos do Cotidiano (I)
Tantas vezes disse e quantas mais direi – preciso ou não – que o Oswaldoir Capeloto é um poeta de mão cheia, repleto da inesgotável inspiração em versos. O encontrei sábado passado em um supermercado. Então ele, pelo celular, pediu que eu lesse em voz alta um dos recentes textos dele, no caso uma prosa que fala de pessoas, capivaras, diálogo no Parque do Lago.

É comum no Capeloto declamar textos dele com magnífica interpretação. O que não é comum – no meu caso sempre foi e é uma honra – encontrar o próprio poeta e ouvi-lo declamar, um privilégio!

Olhos, Vistos do Cotidiano (II)
Sequência do subtítulo acima, rememoro o saudoso poeta Amani Spachinski de Oliveira, falecido em novembro de 2015, membro da Academia Mourãoense de Letras, declamava os poemas dele com entusiasmo. Tinha uma característica, em meio a grupos, plateias e multidões, surgia inesperadamente para os outros, levantava e declamava. Amani foi um dos maiores apaixonados pela vida que conheci.

Olhos, Vistos do Cotidiano (III)
Entre os livros lidos que preciso colocá-los na estante, prefiro os que desejo ler. Não será num instante que todos estarão na estante. Livros, de todos não me livro.

Farpas e Ferpas (I)
Se for costumeira, a crítica a costumes é contradição.

Farpas e Ferpas (II)
Palavra asneira não deriva de besteira. Mas asneira é besteira.

Farpas e Ferpas (III)
Tudo pende? Depende!

Farpas e Ferpas (IV)
Tudo da arca é arcada por ela mesma.

Farpas e Ferpas (IV)
Ovo e ata é igual de traz para frente, só lendo.

Farpas e Ferpas (V)
Palavras não são machucadas. Elas que machucam.

Reminiscências em Preto e Branco (I)
Na tardança da vida a experiência dela nasce e renasce a todo o tempo.

Reminiscências em Preto e Branco (II)
Não levaremos nada da vida. Tudo deixaremos. É legado, alegado.

José Eugênio Maciel | [email protected]