Tão amigos. Como?
“A verdadeira amizade é aquela que nos permite falar, ao amigo,
de todos os seus defeitos e de todas as nossas qualidades.”
Millôr Fernandes
Tive a oportunidade de pessoalmente ouvi-los. Eu era estudante de Sociologia, com 20 e 21 anos, 1983 e 1984, respectivamente. Um em Florianópolis e o outro no Rio de Janeiro. Eles se tornaram amigos em circunstâncias que seriam absolutamente improváveis para iniciar e manter inabalável amizade.
Como eles conseguiram ser tão amigos?
Personagens reconhecidos, longa e intensa trajetória na história do Brasil, estavam no auge de seus respectivos vultos. Então histórias vivas, nos semblantes a marca de décadas, bravas lutas, enfrentamentos audazes e pertinazes.
Luís Carlos Prestes integra a história por comandar a Coluna Prestes, final dos anos 20, o tenentismo era levante armado que percorreu aproximadamente 25 mil quilômetros e ambicionava depor Vargas e instaurar o regime comunista. Preso por oito anos e então incomunicável, Carlos Prestes tinha se recusado a visita daquele que se propunha a defendê-lo, Heráclito Fontoura Sobral Pinto.
Sobral Pinto, mais do que à época dele, foi um dos mais brilhantes de toda a vida jurídica brasileira, sobretudo ardoroso defensor da Justiça e patrocinador de causas contra regimes que não respeitam a liberdade.
O advogado Sobral Pinto insistiu e Prestes, ao recebê-lo, logo advertiu, não preciso de advogado, sobretudo conservador de direita, católico, burguês.
De fato Sobral era, mais do que diferente, antagônico a Prestes ateu, comunista, revolucionário de esquerda.
Tinham em comum combater a repressão do Estado Novo (1937-1945), presidente Getúlio Vargas. O curioso foi o principal argumento da defesa estribado por Sobral Pinto, o advogado teve que valer-se do código dos animais, que proíbe os maus tratos, situação do cárcere na qual Prestes estava submetido.
Todos os dias Sobral Pinto ia a Igreja. E na rotina de advogado em relação a Prestes, o visitava uma vez por semana. Nos encontros, da recusa, estranhamento, veio o respeito mútuo a marcar tanto aquele que acreditava em Deus, quanto o ateu.
Anos 80 e 90, a avançada idade dos dois não esmoreceu o ideal que preconizavam para o Brasil, nova realidade que não desfrutariam, como quem planta uma árvore, a araucária, que só começa a produzir com 20 anos e adulta chega aos 70.
Gaúcho de Porto Alegre, Luís Carlos Prestes morreu em 1990, tinha 92 anos.
Mineiro de Barbacena, Sobral Pinto faleceu aos 98 anos, em 1991.
Profundos conhecedores dos ideais, respeitados, a bela amizade que tão peculiarmente cultivaram, ela serve para dois exemplos cruciais. As jovens que devem lutar em favor de um mundo melhor, com rebeldia e sobretudo sem convenientemente se omitirem. E que convicções – Deus existe ou não – não determinem inexistir ou acabar uma amizade. Aliás, em tempos de ódio de pessoas que brigam e até rompem convivência familiar, é oportuno em tempos atuais o ensinamento da citada amizade.
O discurso de Prestes para um atento auditório em Santa Catarina foi uma sábia evocação. O aplauso de dois milhões de brasileiros no comício na Candelária, campanha das Diretas-Já, ainda soa em meus ouvidos a eloquência do defensor dos Direitos Humanos, Sobral Pinto, além das palmas, reverenciado com imenso orgulho.
Diante do Cavaleiro da Esperança e do Senhor Justiça privilégios para mim.
Fases de Fazer Frases (I)
Sinto-me à vontade quando a vontade não sinto.
Fases de Fazer Frases (II)
Essa fada.
É safada.
És fadada.
É dada a nada a danada.
Fases de Fazer Frases (III)
Nada de se prender tanto aos fatos, pois as notícias correm.
Olhos, Vistos do Cotidiano (I)
Imagens destacaram a chegada do ministro general da saúde Eduardo Pazuello, ao Palácio Iguaçu, quinta anterior, após a continência de um policial militar para o general, o ministro pegou na mão dele, contrariando o protocolo de prevenção ao corona-vírus. É, a caserna, fardada ou não, vem em primeiro lugar.
Olhos, Vistos do Cotidiano (II)
Ele evita entrevistas públicas, o general Pazuello é ministro interino da saúde. Muito fechado, poderia ser ministro uterino em vez de interino.
Farpas e Ferpas (I)
O que custa a crer é caro?
Farpas e Ferpas (II)
A catapulta não cata puta, arremessa.
Reminiscências em Preto e Branco
Tempo é voragem sem paragem.
José Eugênio Maciel | [email protected]