Wille, voz, texto, história

“Você sempre esteve aqui.
Mesmo longe estava perto.
Mesmo tarde.
Não Deixou de vir.
Triste é dizer adeus.
É acreditar que vai partir”.

Amigo – Luizgs Paulia

Microfone ligado. Emissora no ar. Papel na máquina de escrever. Texto pronto e outras notícias que seriam produzidas no transcorrer dos fatos. Narração nas ondas do rádio, voz primorosamente única. Matéria no jornal impresso. Foi e é o limiar dos dois pioneiros meios de comunicação mourãoenses e regionais, Rádio Difusora Colmeia e Tribuna do Interior.     

Doravante sem regresso. Eternamente notícia lutuosa. Mesmo aposentado, o velho e sempre novo jornalista teria o que dizer na locução ou pelo texto feito, ambos harmônicos no somatório competente o relato e registro da história.

Afinal, página final, dezembro, 23. O fim da vida é derradeiro, extremo tão oposto que é posto invisível, divisível intransponível, desfecho à terra. Se foi Wille Bathke Júnior, 79 anos.

Sinto-me em casa, onde nasci, passei vivi minha infância e juventude, avenida Irmãos Pereira. Como se agora a pé dali fosse novamente para a Rua Santa Catarina, terceira quadra, segunda casa a direita, onde morou o Wille. Residência de madeira como outrora a maioria das casas de Campo Mourão, com imenso terreno. Ali o ponto de encontro com os dois amigos de infância, Rodolfo e Carlos e eu.

Há mais de quarenta anos. Deixo fluir em mim a ininterrupta relembrança quando a casa de nossos amigos – ensinaram com gestos tanto os meus queridos e saudosos pais Eloy e Elza quanto o Wille (incluindo o pai dele, senhor Ville) – eram mutuamente nossa. Memória de sabor do grande bule de café já adoçado e com leite, do pão fresco e toda a turma reunida, criançada que só iniciava a vida, tão contemplativa, ingenuidade e descoberta. A recordação fraternal dele ao nos encontrarmos, o Wille me saudava efusivamente com o apelido de criança, Gudé.

Fui tomando ciência dele na convivência, o Wille radialista, pioneiro, partícipe grandiloquente, produtor, apresentador de noticiosos, narrador de futebol, talento na cobertura de dezenas de eleições e analista político. Nas páginas deste Jornal imprimia a divulgação dos fatos.

É na reciprocidade das famílias, da interligação de gerações, é que as crianças de ontem, meninos, mocidade, homens de hoje, nos unimos em despedida, tendo que prosseguir sem o distinto propagador da história que elevou, leva e lega, e ao mesmo tempo que virá.

Fases de Fazer Frases
    O que resta é sobra ínfima da raridade.

Olhos, Vistos do Cotidiano
    Retrospectivas não deixam de ser “notícias frescas”, são fatos desconhecidos inteiramente por significativa parte do público, notadamente pessoas famosas que morreram ao longo do ano. Ou, “pensei que o fulano já tinha morrido faz tempo”.

Farpas e Ferpas
    O malogro é má logro assim como nem tudo que irrompe corrompe.

Reminiscências em Preto e Branco (I)
    “Jornal do Meio Dia”, anunciava um dos produtores e apresentador na Rádio Difusora Colmeia de Campo Mourão, pontualmente conforme o nome do então mais importante horário do jornalismo local. A voz solene, com impostação abafada (descontraída quando necessário) do agora saudoso Wille Bathke Júnior. Na casa o rádio ficava em cima da geladeira da cozinha, reunidos em família, ouvíamos o que se passou nas últimas horas por aqui.

Reminiscências em Preto e Branco (II)
    Conheci o pai do Wille, mesmo nome, porém o do escrivão era com V. Senhor cordial e atencioso, cabelos já brancos, amigo de meus pais. A confiança mútua permitiu a compra de um terreno no Jardim Santa Cruz e à entrada do acesso ao Aeroporto, comprados “no fio do bigode”. Sobrevêm Ville e meu pai, rememoro uma conversa deles na esquina de casa, “terreno é um investimento dos mais seguros”, “a cidade vai crescer”. Será que imaginariam Campo Mourão se expandir tanto “pra aqueles lados?’, inclusive com a Faculdades Integrado, o Anel Viário?

Reminiscências em Preto e Branco
    História bem antiga, tempo de agora e dias que virão, são como boa cama vetusta. Troca-se colchão de tempos em tempos, e frequentemente lençóis e fronhas. Repousamos cotidianamente, sem jamais inteiramente iguais ao que éramos.
 

José Eugênio Maciel | [email protected]