A distribuição desigual do espaço público

A cidade avançada não é aquela em que os pobres andam de carro, mas aquela em que os ricos usam transporte público – Enrique Peñalosa

Há algum tempo venho observando a distribuição desigual do espaço público, em relação aos pedestres, ciclistas e condutores de automóveis. Li um artigo onde o especialista em mobilidade urbana, Mikael Colville-Andersen, qualifica esse fenômeno como a arrogância do espaço.

Do ponto de vista desse planejador urbano e fundador do Copenhagenize (uma companhia especializada em cidades com qualidade de vida e no uso urbano da bicicleta), este termo pode ser aplicado às cidades que são dominadas pela engenharia de trânsito do século passado, isto é, aquelas que estão planejadas prioritariamente para os automóveis.

Para exemplificar seu posicionamento, Mikael analisou a quantidade de espaço que possui cada um desses grupos, além do espaço morto e dos edifícios, em algumas ruas de Calgary – Canadá , Paris e Tóquio e fez uma comparação de cada setor com diferentes cores. Mikael assegura que esta ferramenta permite ter uma ideia que o uso do espaço não está de acordo com sua demanda.

Isso porque observando os pedestres que estão esperando no cruzamento ou circulando pelas calçadas, estes superam muito em quantidade os condutores de automóveis. Estes últimos, porém, ocupam uma área muito maior com seus veículos.

No cruzamento mais movimentado do mundo, em Shibuya, Tóquio, convivem pedestres e ciclistas. A presença destes se explica pela existência de vários bicicletários nos arredores da estação de ônibus e trens de Shibuya. Em Tóquio nota-se uma distribuição do espaço um pouco mais equitativa.

Agora, e se fizéssemos um estudo assim no centro de Campo Mourão? Do alto de um edifício, observarmos o espaço de ruas e estacionamentos destinados aos automóveis, em contrapartida aos espaços dos pedestres ou ciclistas?

Há uma queixa generalizada sobre o trânsito em nossa cidade, especialmente no Centro. E, de fato, existem vários gargalos a serem superados, principalmente porque o número de veículos cresceu muito acima do que o número de pessoas, proporcionalmente. E as ruas não cresceram.

Só que, além disso, não se pensou até então em alternativas para diminuir o número de carros. Pelo contrário. Criaram-se opções para cada vez socar mais veículos nas ruas do centro. Estacionamento diagonal, no canteiro central, na praça da Igreja, etc. E venha para o Centro com seu carro, nós damos um jeito.

É hora de pensarmos numa cidade mais caminhável. Pessoas andando a pé, de bicicleta, de patins. Temos que ter projetos de calçadões, áreas livres de veículos, para dar segurança às pessoas. Não é possível mais uma cidade plana, arborizada e de clima agradável como Campo Mourão fazer-se refém de veículos motorizados. Ou você, empresário, acha que seu cliente é aquele cara estressado dentro de um carro procurando estacionamento?

Para isso, é mister um novo modelo de transporte coletivo, uma nova engenharia das ruas, assim como um novo comportamento de motoristas e motociclistas.

Carlos Alberto Facco – Secretário de Desenvolvimento Econômico de Campo Mourão | [email protected]