Eu também não fui à Disney

“O dinheiro não traz a felicidade. Manda buscar.” – Millôr Fernandes

Semana passada, Paulo Guedes, o ministro da economia, criou uma polêmica, quando comentou as seguidas altas do dólar, insinuando que o real desvalorizado é bom para economia, e que antes estava tão forte que 'até empregadas iam para a Disney'. 

Lógico que o discurso não agradou, havendo respostas das citadas domésticas, do sindicato da categoria e manifestações nas redes sociais. 

Num governo que não se preocupa com o politicamente correto, aliás, parece fazer questão do contrário, o ministro depois tentou se explicar, argumentando sobre os benefícios de um dólar mais alto para as exportações brasileiras. 

Além do “sincericídio” do ministro, há um outro problema na sua fala, a meu ver: quando um Ministro da Economia defende o dólar alto, como no caso, de alguma forma deixa transparecer que há um apoio do Governo à política cambial do Banco Central. E esta política deveria ser isenta do governante de plantão, para não acontecer o que já vimos em países como a Argentina. Políticas cambiais reféns de políticas populistas defenestrando a economia. 

Mas, afinal, dólar alto ou baixo?

Com o dólar baixo, importadores são favorecidos, pois compram mercadorias em dólar para revender em real, com maior margem de lucro. A indústria nacional se beneficia, com matéria prima mais barata, e a inflação tende a ficar baixa por conta do aumento de oferta de importados e matéria prima mais acessível. Os exportadores perdem mercado. 

Quando o dólar sobe, os produtos importados ficam mais caros, e itens nacionais ganham força. De certa forma, aumenta a atividade industrial, gerando mais empregos. 

Porém, pode aumentar a inflação se a procura por produtos nacionais causar aumento de preços (o que parece não ser o problema atual). Outro aspecto negativo é que muitas matérias-primas são importadas e esse aumento refletirá nos preços. Por exemplo: trigo, gás e gasolina, eletrônicos, remédios, carros, passagens aéreas, enfim, tudo o que depende de produtos importados na sua composição. 

Entre os pontos positivos está o turismo interno, que tende a aumentar, gerando mais empregos e investimentos, e a atração de investimentos externos, por conta dos valores das ações de empresas brasileiras na Bolsa. 

Com idas e vindas, analistas avaliam que a alta do dólar ainda não está refletindo na economia, mas que a longo prazo poderá haver impactos significativos. 

O maior problema é a variação constante, que deixa apreensivos tanto os investidores como empresários e consumidores. Seja para mais ou para menos, mas é importante a estabilização do câmbio para que haja condições de planejamento tanto do setor público quando do privado. 

Aliás, falando em planejamento, atualmente estou trocando a Disney pela Califórnia. Mas aquela Califórnia ali perto de Apucarana. 

Carlos Alberto Facco – Secretário de Desenvolvimento Econômico de Campo Mourão | [email protected]