Nenhuma sociedade se desenvolve se não quiser – parte II

Na última coluna escrevi sobre a necessidade do engajamento da comunidade para o desenvolvimento da região.

Reforçando, a ideia de fazer de nossa comunidade um lugar melhor para vivermos tem que ser uma ideia querida por todos.

Por todos, refiro-me à população, empresas e instituições, organizações do terceiro setor, que, aliás, vêm contribuindo bastante para a melhoria da coletividade. E não há nada de errado nisso, já que os governos em geral deveriam cumprir o seu dever, e as coisas seriam diferentes. Mas também ficar esperando as ações governamentais não adianta, até porque somente estas não bastarão para mudar nossa realidade.

A falta de credibilidade dos políticos e consequentemente do poder público, outrossim, não devem ser motivos para não agirmos, e sim, mais uma razão para juntar forças e trabalhar.

Às vezes fico imaginando como seria o Brasil sem os inúmeros Clubes de Serviço, Instituições Filantrópicas, Igrejas e Entidades Religiosas, enfim, este sem-número de pessoas engajadas em ações de ajuda ao próximo, que, a rigor, deveriam ser viabilizadas com os trilhões de impostos que recolhemos ano a ano.

Muitos estudiosos defendem que não é apenas o Estado que deve resolver os problemas da sociedade. Que as ações de empresas e do terceiro setor organizado também são necessárias e bem-vindas para a construção de ideias criativas e novas metodologias para o desenvolvimento humano. Mas então, porque vemos ainda tanto comportamento que demonstra o contrário?

Não adianta querer que a comunidade seja melhor se no cotidiano não se faz pequenas ações como ajudar o outro, não ser educado no trânsito, jogar lixo no chão. Óbvio, né? Mas como queremos ações de maior extensão e impacto, se não começamos com as pequenas coisas?

A participação em movimentos populares, Conselhos, Conferências, Audiências Públicas, etc, é outro indicador de que a população está interessada ou não em fazer mudanças. A participação é um direito do cidadão e o melhor caminho para expor sua opinião, defender seus direitos e debater as prioridades para o município. Se há dificuldade em compor Conselhos e ter presença em Audiências Públicas, isso é sinal de pouco engajamento.

Estas dificuldades, não exclusivas de nosso município, são reflexos de uma cultura brasileira que, desde seu descobrimento, foi descrito como um paraíso, onde se plantando, tudo dá. Ora, para que trabalhar mesmo?

Aliás, Marilena Chauí, em seu livro Brasil – Mito Fundador e Sociedade Autoritária (Editora Fundação Perseu Abramo), apresenta uma percepção de que este mito de um Brasil maravilhoso foi se arraigando no inconsciente do país ao longo dos séculos para firmar uma cultura de não-culpa e de opressão. Ou seja, a existência de uma sociedade em que as relações sociais se dão sempre entre um superior, que manda, e um inferior, que obedece. O outro jamais é reconhecido como sujeito nem como sujeito de direitos, jamais é reconhecido como subjetividade nem como alteridade, escreve ela.

O desafio é imenso. Nem por isso menos motivador.