O asco da política

“Não há nada de errado com aqueles que não gostam de politica, simplesmente serão governados por aqueles que gostam” 
(Platão)

Já escrevi aqui outras vezes que vivemos um momento em que o esporte preferido dos brasileiros é falar mal dos políticos. Não importa quem seja, de vereador a presidente, em qualquer estado ou município. É político? Então é safado, ladrão, corrupto, etc, etc. De quebra, incluímos nessa lista os funcionários públicos? É funcionário público? Então é folgado, ineficiente, trata mal o contribuinte, etc, etc. Também já destaquei que essa generalização é muito injusta, pois assim como existem bons e maus profissionais em quaisquer áreas, não é diferente na política ou no funcionalismo público.

Semana passada acompanhamos um momento em que estes comportamentos foram bem fáceis de perceber. A Câmara de Vereadores pautou a votação do projeto de lei que estabeleceria os salários dos próximos vereadores e prefeito. 

Não vou aqui entrar no mérito do projeto, se justificaria aumentos ou não. A questão que observei foi o comportamento, principalmente nas redes sociais (não fui às sessões) quanto ao processo em si. 

Em primeiro lugar, espalham-se notícias sem nenhum cuidado com a veracidade. Se por interesses ou apenas por ignorância, fato é que algumas informações não tinham nenhum fundamento. E aí entra o aspecto da política, que citei no primeiro parágrafo. Afinal, a teoria predominante é: se são os vereadores que estão na pauta, alguma coisa tem de errado. 

Então, não preciso verificar a veracidade das informações, basta “descer a lenha”. Entrar na onda, compartilhar, acrescentando mais algumas críticas. 

Não estou pretendendo defender os vereadores, apenas fazendo uma análise da situação. Porque obviamente todos tinham seus interesses. Alguns queriam um aumento de salário; outros, queriam ser os que defendiam que não era hora de aumentar, e com isso ganhar a simpatia dos eleitores; outros, de fora, querendo ser candidatos na próxima eleição, e também buscando seu espaço na mídia. Algumas entidades preocupadas com a situação financeira do município. 

O interessante nesses movimentos sociais é que a mesma pessoa que hoje defende a população e grita contra os políticos que estão nos cargos, amanhã é candidato. E, se eleito, passa a ser o algoz do seu próprio povo. Ou seja, era bom até ser eleito. Uma vez lá, é mais um político, do qual irão falar mal. Engraçado, né?

Parece que essa tal política cria uma cortina de fumaça, e deixamos de ver as pessoas por trás dos cargos. Parece que há um antagonismo entre ser político e ter valores. Um sentimento que vem se generalizando, no qual essas coisas não combinam. 

É verdade que muitos políticos fazem por merecer esses rótulos. Aliás, são os comportamentos deles que geram os nossos. Mas a questão é que vivemos um sistema democrático e representativo. Não podemos esquecer que temos que votar em alguém para que o sistema funcione. Significa escolher o melhor ou o menos pior para que seja eleito nosso representante. 

Dizem que a representatividade política de um povo nada mais é do que o extrato da sociedade. E é isso mesmo. Se queremos pessoas melhores nos representando, se queremos projetos melhores, se queremos projetos verdadeiramente de interesse do país, precisamos tirar a bunda da cadeira e nos esforçar um pouco mais do que clicar no compartilhar de qualquer fake news. Temos que conhecer, avaliar, estudar, pensar e participar. 

Carlos Alberto Facco – Secretário de Desenvolvimento Econômico de Campo Mourão | [email protected]