Os jovens, o estudo e o trabalho no Brasil

Se você acha que educação é cara, experimente a ignorância. Derek Bok

Recentemente, durante o processo de seleção de novos funcionários para a filial da Havan em Campo Mourão, houve a formação de uma fila de interessados que atingiu cerca de 600 pessoas durante a noite. Detalhe: haviam 800 senhas para serem distribuídas, portanto, apesar de termos um número muito maior de desempregados no município, o total de senhas só foi preenchido durante o dia seguinte.

Segundo a perspectiva do pessoal da Agência do Trabalhador, esta situação deveu-se ao fato de que foi amplamente divulgado pela empresa que seria exigido o 2º. Grau completo para concorrer à qualquer vaga, e isso restringiu bastante a procura. Pois, segundo a Agência, a maior parte dos que procuram empregos não possui esta formação mínima exigida.

Apesar de sabermos que a formação no Ensino Médio não dará automaticamente a qualificação para o trabalhador, é cada vez mais presente a exigência de um nível de estudo maior por parte dos pretensos concorrentes ao mercado de trabalho.

E o motivo disso é claramente visível quando se observa a obra da loja, por exemplo. Utilizando tecnologia de construção avançada, o prédio a cada dia evolui mais rapidamente. Mas para operar essa tecnologia toda, o perfil dos trabalhadores, mesmo durante a construção, está mais exigente.

Por outro lado, existem cada vez mais opções para a busca do nível de ensino mínimo exigido pelo mercado. E o cenário educacional até vem melhorando nos últimos anos em alguns aspectos. Porém, conforme dados divulgados pelo IBGE em dezembro de 2018, de cada 100 alunos que ingressam na escola, apenas 59 concluem o ensino médio aos 19 anos. Ou seja, 36,5% dos brasileiros com 19 anos não têm ensino médio. Pior: desses 59 que recebem diploma de educação básica, 27,5% possuem conhecimento adequado em português e apenas 7,3% têm aprendizagem adequada em matemática.

Outra situação preocupante é que o país sequer ter conseguido ampliar o número de matrículas no ensino médio, ao contrário. As matrículas tiveram queda em 2017, e já contabiliza-se cerca de 1,5 milhão de jovens de 15 a 17 anos fora da escola. Segundo o MEC, em 2017 haviam 7.930.384 alunos matriculados no ensino médio no Brasil, o que representa uma queda de 2,5% em relação às matrículas de 2016.

A necessidade de trabalhar é a alegação mais comum para não estudar ou se qualificar entre as pessoas de 15 a 29 anos. Segundo a PNAD, em 2017, 25,1 milhões das pessoas de 15 a 29 anos de idade não frequentavam escola, cursos pré-vestibular, técnico de nível médio ou de qualificação profissional e não haviam concluído uma graduação.

Porém, em 2017, das 48,5 milhões de pessoas com 15 a 29 anos de idade, 23,0% (11,2 milhões) não trabalhavam nem estudavam ou se qualificavam, contra 21,9% em 2016. Ou seja, de um ano para o outro, esse contingente cresceu 5,9%, o que equivale a mais 619 mil pessoas nessa condição.

É preciso que o país reverta urgentemente essa situação, pois não estou nem falando em qualidade do ensino – isso daria uma outra pauta – e sim apenas do quantitativo. Sabidamente, países que conseguiram avançar socio-economicamente, sem exceção, investiram pesadamente em educação. Não há porque não acreditarmos que esse é o caminho.

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Carlos Alberto Facco – Secretário de Desenvolvimento Econômico de Campo Mourão | [email protected]