Por que o Brasil cresce menos do que pode

Fabio Giambiagi e Alexandre Schwartsman – dois importantes economistas que estudam a realidade econômica nacional há tempos, são autores da obra Complacência: Entenda por que o Brasil cresce menos do que pode, onde fazem uma análise de temas complexos da economia brasileira e procuram desmitificar e responder por que o país cresce tão pouco. Apesar de ser uma obra publicada em 2014, ainda se mostra atualizada em vários aspectos, principalmente porque alguns caminhos que os autores apontam que deveriam ser trilhados para garantir o crescimento – e que não foram – ainda não estão sendo seguidos, como: necessidades de investimentos em educação e infraestrutura, iniciar uma política de contenção de gastos, e a elevação da produtividade.  

Produtividade, inovação, superação: essas são as marcas do sucesso. E nós, nesse panorama, como estamos?, perguntam os autores.

Diante de um mundo globalizado, os autores apontam que o Brasil, de 1940 a 1980,  cresceu assustadoramente — 4,2% ao ano — devido a pequenos incrementos de educação e ao processo migratório das zonas rurais para as urbanas, pois o país caminhava aceleradamente rumo à industrialização.

Quando esse processo migratório da população chegou ao fim, o desafio de aumentar a produtividade para conduzir ao crescimento econômico sustentado passou a ser outro: crescer por incorporação de tecnologia. Ou seja: para que possamos buscar um novo ciclo de crescimento, o caminho é um só: sermos mais produtivos. E, para alçarmos patamares mais altos de produtividade nesta nova ordem que se globaliza, é fundamental que nos tornemos mais educados.

Na coluna do dia 16 de junho, falamos sobre a questão dos jovens e da educação principalmente no ensino médio. Os autores da obra, no tocante a faixas da população que possuem curso superior, apresentam vá­rios dados comparativos entre diversos países. Veja-se a comparação do Brasil com outros dois países de distintas realidades: sul-americano Chile e a européia Finlândia.

Dos 25 aos 64 anos, o Brasil possui 12% de sua população com curso superior; o Chile, 29%; a Finlândia, 39%. Dos 25 aos 34 anos, persiste a diferença. Brasil, 13%; Chile, 41%; Fin­lândia, 39%. Na faixa dos 35 aos 44 anos, a diferença de realidades continua arrasadora. Brasil, 12%; Chile, 30%; Finlândia, 47%. Dos 45 aos 54 anos, o Brasil possui somente 9% de sua população com curso superior; o Chile, 23%; a Finlândia, 41%. Por fim, dos 55 anos aos 64 anos, 9% dos brasileiros possuem curso superior, enquanto que, no Chile, são 21% e, na Finlândia, 31%.

Outro indicador que demonstra nossa precária situação da elevação da produtividade via educação é o Programa Interna­cional de Avaliação de Estu­dantes (Programe for In­ter­national Student Assessment — PISA). Giambiagi e Schwartsman alertam, quanto aos resultados, que a posição internacional do país é simplesmente constrangedora. Em termos relativos, nessas provas, é como se, numa Copa do Mundo de 32 ti­mes, o país ficasse na posição 29 ou 30. Afinal,  dos 40 países que participaram da competição, o país ficou na 33ª.  posição. Onde estão os campeões em educação? Resposta: na Ásia. Os três primeiros colocados — China, Cingapura e Coreia do Sul — são provenientes de lá.

Ainda nesse tema, Giambiagi e Schwartsman apontam que é preciso uma ação guiada por um sentido de direção de longo prazo. Nesse sentido, produzir mais, utilizando menos recursos, é elevar a produtividade que o velho guru do capitalismo mundial — Adam Smith — já mencionava há alguns séculos, no seu famoso livro A Riqueza das Nações. O desafio é imenso. Transcende gerações. Só nos resta, portanto, um caminho: o de elevar a produtividade. Afinal, a fatura um dia chega, e já estamos pagando o preço de tomadas de decisão equivocadas e da falta de coragem para as mudanças necessárias.

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Carlos Alberto Facco – Secretário de Desenvolvimento Econômico de Campo Mourão | [email protected]