A passividade brasileira

Com a chegada do novo ano, em poucos dias, os brasileiros começarão – uma vez mais – a receber uma verdadeira enxurrada de contas para pagar. Quase todas para alimentar a voraz e comprovadamente incompetente administração pública (tanto o primeiro pobre/poder executivo, como o primo rico/poder legislativo), independentemente se federal, estadual ou municipal. Vem aí o IPVA, IPTU, acerto com o leão do Imposto de Renda, etc.  O início do ano é o período de colheita de safra para o governo, embora a verdadeira sangria imposta a todos os brasileiros se estenda ao longo dos 12 meses do ano, por meio de uma exagerada carga tributária silenciosamente embutida em todo e qualquer produto ou serviço.

Aqueles que aguardaram ansiosos pelo 13º salários durante todo o ano, que alegraram-se neste mês com o dinheiro extra, constatarão que o benefício é dado com uma mão e sorrateiramente retirado com outra pelo governo, na maior cara de pau.  Pior é que os indicadores governamentais apontam queda na inflação – índice utilizado para o reajuste salarial da maioria dos brasileiros -, mas o contribuinte é assaltado com seguidos e imorais aumentos. Por exemplo, no gás de cozinha. È só lembrar quanto custava o botijão no final do ano passado e quanto custa hoje. E o que falar do preço dos combustíveis, que afeta sobremaneira a composição de preços de todos os demais produtos.

Mas tudo o que relatei até aqui não é novidade e se repete há décadas no país. Lamentável é constatar a passividade, a complacência, de nossa gente diante dos desmandos impostos a todos nós por aqueles que estão no poder, colocados lá justamente por nós. Somos nós que lá colocamos os nossos próprios algozes. É com o nosso dinheiro que é comprara a chibata que nos açoita. O brasileiro se mostra crítico na mesa do bar ou na roda de amigos, mas a tudo aceita com inacreditável e inconcebível passividade. Tivemos seguidos aumento nos combustíveis nos últimos tempos, por exemplo, mas todos parecem que já se acostumaram a pagar mais de R$ 4,00 o litro de gasolina. E isso enseja o governo a elevar novamente o preço em breve.

Todos reclamam e se mostram irados, do mais humilde cidadão ao grande empresário,  mas o que fazem de efetivo para dar um basta nesta situação de descalabro?  Onde estão as entidades classistas e outras instituições da sociedade civil organizada? Vã ilusão pensar que os nossos parlamentares ou outras esferas públicas farão alguma coisa para mudar essa situação. Esses parlamentares são os primos ricos desse confisco via cobrança de tributos. A verdade é que se a população não se mobilizar para dar um basta nos demandados governamentais a situação ficará, infelizmente, cada vez pior. Ou alguém duvida?

Em novembro do próximo ano teremos eleições de deputados estaduais e federais, de parte dos senadores, de governadores e presidente da República. Uma excelente oportunidade para o brasileiro demonstrar seu descontentamento e ao menos tentar mudar a situação. E o brasileiro não deve perder a chance de ao menos tentar mudar. Porém, o próximo sistema impõe limitações. A grande maioria dos nomes colocados à disposição pelo mais de 30 partidos existentes no país (que agora, mais do que nunca, mamam na farta teta do Fundo Partidário, constituído com os tributos que nós pagamos) será de velhas raposas da nossa política. Boa parte deles só não está na cadeia por corrupção e outros desmandos em razão de privilégios por eles mesmo criados. Há novos que ainda lutam, e não devemos deixar de observar.

É triste dizer, mas boa parte daqueles que hoje vemos no noticiário por saquearem os cofres públicos serão reeleitos em outubro próximo e vão mamar na teta e roubar por mais tempo, com o aval do eleitor. E os brasileiros continuarão a reclamar veemente, mas apenas na mesa do bar ou na rodinha de amigos. Enquanto eles se fartam com o dinheiro dos nossos tributos, os brasileiros morrem por falta de médicos e remédios nas unidades de saúde, o crime toma conta pela omissão e incapacidade do poder público, milhões estão alijados do mercado de trabalho e as escolas públicas deixam a desejar.

Somos esfolhados pelo poder público a cada minuto do ano, os serviços públicos são cada vez mais ineficientes, a máquina pública mostra-se em situação de obesidade mórbida, os marajás se multiplicam pior que coelhos e nada fazemos. Mas há alguns que se preocupam apenas em saber: o parlamentar apresenta projetos de leis, comparece nas sessões. Não tem sequer o interesse de ponderar as lutas e desapegos pelos recursos públicos em proveito que poucos parlamentares possuem.

Luiz Alfredo é vereador e advogado