Educação Superior: o caminho para o desenvolvimento de cidades, pessoas e economias
Não é novidade que o ensino superior vive uma crise silenciosa no Brasil, agravada após a pandemia da COVID-19. Dados do Censo da Educação Superior de 2022, publicado pelo Inep, revelam que o país registrou a menor taxa de crescimento de matrículas da última década. Foram apenas 0,9% de crescimento no número de alunos matriculados, bem abaixo dos 3,8% registrados em 2019, antes da pandemia. Esse dado acende um alerta sobre o futuro do nosso desenvolvimento social e econômico.
Enquanto o Brasil patina, o mundo avança. Segundo a OCDE (2023), a média de adultos com ensino superior entre os países membros é de 47%. No Brasil, esse índice é de apenas 21%, o que nos posiciona muito abaixo da média global. Países como Canadá, Japão e Coreia do Sul ultrapassam 60% da população adulta com diploma universitário, refletindo diretamente em maior desenvolvimento econômico, social e tecnológico.
Mas, afinal, por que um país, um estado ou um município deveriam se importar tanto com o acesso ao ensino superior? A resposta é simples e dura: uma cidade que não investe na qualificação das pessoas condena-se a um ciclo de estagnação econômica e perda de competitividade.
Quando olhamos para os municípios, esse impacto é ainda mais visível. Cidades com mão de obra qualificada atraem investidores, geram empregos de maior valor agregado e se tornam polos de inovação. Tomemos como exemplo a cidade de Eindhoven, na Holanda, que se reinventou após a crise da Philips, transformando-se em um dos maiores centros de tecnologia da Europa graças à força de suas universidades e centros de pesquisa. Nos Estados Unidos, Raleigh, na Carolina do Norte, tornou-se referência no desenvolvimento econômico a partir do fortalecimento de seu parque universitário, integrando ensino, pesquisa e desenvolvimento econômico.
O caminho é claro: sem educação, não há desenvolvimento. E os impactos da redução no acesso às universidades não param nas salas de aula. A evasão e a menor entrada de universitários geram efeitos dominós na economia local. O mercado imobiliário sente com apartamentos e repúblicas vazias. O setor de gastronomia, bares e restaurantes perde boa parte do seu público consumidor. A cultura, o lazer e até o transporte coletivo são diretamente afetados. A economia de uma cidade universitária pulsa com seus estudantes.
É aqui que entram responsabilidades compartilhadas. As empresas precisam olhar para seus colaboradores e enxergar neles potenciais universitários. Oferecer bolsas, horários flexíveis e parcerias com instituições de ensino não é custo — é investimento em produtividade, inovação e crescimento.
Por sua vez, as universidades devem se adaptar ao mercado. Não há mais espaço para grades curriculares desconectadas da realidade. É preciso formar profissionais capazes de resolver problemas reais, que dominem não só teoria, mas também prática, empreendedorismo, inovação e tecnologia.
E claro, a gestão pública tem um papel central. Estimular o acesso, apoiar financeiramente, criar programas de incentivo, transporte universitário, moradia estudantil, além de fomentar a aproximação entre academia e setor produtivo. O resultado? Uma cidade mais atrativa para investimentos, mais inovadora e com melhor qualidade de vida.
Se alguém ainda duvida do poder da educação, basta olhar para cidades como Cambridge (Reino Unido), que cresceu exponencialmente em torno da universidade, ou para o Vale do Silício, nos Estados Unidos, cuja existência só foi possível pela força de universidades como Stanford e Berkeley.
No fim, sou apenas um formador de opinião. Um sonhador — assumidamente — que acredita no papel transformador da educação. Acredito que uma cidade que investe nas pessoas, inevitavelmente, investe no seu próprio futuro. E que sem educação, nenhuma sociedade se sustenta, nem se desenvolve.
Rosinaldo Nunes Cardoso é Administrador, Especialista em Gestão de Pessoas e Estratégias Competitivas, Mestre em Administração. Diretor de Pesquisa e Gestão do IPPLAN – Instituto de Pesquisa e Planejamento de Campo Mourão.
Carla Caroline Holm é Doutora em Geografia, Mestre em Desenvolvimento Comunitário e Bacharel em Turismo pela Unicentro. Docente do Curso de Turismo da Unespar.

