Entre gerações e telas: o desafio de educar em tempos de desatenção coletiva

Quem entra em sala de aula carrega não apenas o peso de ensinar, mas o de inspirar em meio à desatenção coletiva. É preciso coragem para ensinar num tempo em que o conhecimento é contestado por opiniões rasas, e em que o esforço intelectual é tratado como detalhe.

Hoje, no Dia dos Professores, é impossível não refletir sobre o que significa, de fato, educar em um tempo em que a informação é abundante, mas a atenção é escassa. O ensino superior, em especial, vive um dilema silencioso: enquanto o mundo exige inovação e adaptação, cresce o coro de julgamentos vindos de quem nunca entrou em uma sala de aula, mas se sente no direito de avaliar o trabalho docente, o papel das universidades e até o valor do conhecimento.

Educar, no entanto, sempre foi mais do que transmitir conteúdos. É construir pontes entre gerações, contextos e linguagens. No ensino superior, esse desafio se amplifica. De um lado, professores formados em uma lógica de disciplina rígida e memorização. Do outro, estudantes de uma geração hiperconectada, imediatista, sensível, ansiosa e movida por propósitos. Não se trata de afirmar que uma geração é melhor que a outra, mas de reconhecer que são diferentes, e que o ensino que ignora essas diferenças está fadado à desconexão.

A universidade, com sua complexidade e imperfeições, segue sendo o espaço onde o pensamento crítico ainda resiste. É ela que sustenta a pesquisa, a ciência e o debate. Criticá-la sem conhecê-la é ignorar o papel que ela cumpre na formação de profissionais e cidadãos conscientes. O Brasil não avançará deslegitimando suas instituições de ensino superior, públicas ou privadas, como se fossem meros centros de custo. É na universidade que nascem as soluções para os problemas sociais, tecnológicos e ambientais que tanto exigem respostas do nosso tempo.

O modelo educacional, por outro lado, também precisa ser confrontado. Ainda insistimos em currículos engessados, avaliações padronizadas e metodologias que medem mais o silêncio do aluno do que sua capacidade de pensar. Em muitos casos, a lógica institucional valoriza a oferta de cursos e diplomas, mas negligencia a retenção de alunos, como se o abandono fosse uma estatística natural. Não é. A evasão é, em grande parte, sintoma de um ensino que perdeu o vínculo humano. Reter exige empatia: entender que o estudante de hoje concilia estudos, trabalho, cuidado com a família e, muitas vezes, fragilidades emocionais.

A tecnologia, celebrada como solução para tudo, também precisa de leitura crítica. Inteligência artificial, realidade aumentada, ambientes de aprendizagem virtuais e algoritmos adaptativos são ferramentas poderosas, mas não substituem o olhar, a escuta e o vínculo.

A inovação só faz sentido quando a pedagogia vem antes da plataforma. Pesquisas recentes têm demonstrado que o uso de tecnologias educacionais tende a gerar resultados expressivos quando está bem integrado com práticas docentes centradas no aluno, com suporte humano e interação significativa, propósito claro e adaptação aos contextos dos estudantes. A inovação, sem ética e sem sensibilidade, corre o risco de virar apenas marketing.

Como educador, não me coloco acima das críticas. Também carrego minhas resistências e falhas. Quantas vezes reproduzi métodos ultrapassados por comodidade? Quantas vezes deixei de ouvir um aluno que pensava diferente? A autocrítica é necessária, mas ela não pode ser confundida com autopunição. É um chamado à atualização, à escuta ativa, ao compromisso com a aprendizagem como processo compartilhado.

Por isso, incomoda profundamente ouvir discursos fáceis que diminuem o valor do professor. Quem entra em sala de aula diariamente carrega não apenas o peso de ensinar, mas o de inspirar em meio à desatenção coletiva. É preciso coragem para ensinar num tempo em que o conhecimento é contestado por opiniões rasas, e em que o esforço intelectual é tratado como detalhe.

Neste Dia dos Professores, celebro todos aqueles que, mesmo diante da indiferença e da desvalorização, continuam acreditando no poder transformador da educação e provocando reflexões; que entendem que educar é um ato de resistência e esperança.

Rosinaldo Nunes Cardoso é Administrador, Especialista em Gestão de Pessoas e Estratégias Competitivas, Mestre em Administração com foco em Empreendedorismo, Inovação e Mercado, e Diretor de Pesquisa e Gestão do IPPLAN – Instituto de Pesquisa e Planejamento de Campo Mourão.