O hino da Proclamação da República, por Gilmar Cardoso

“Liberdade, essa palavra que o sonho humano alimenta, que não há ninguém que explique e ninguém que não entenda”. – eternizou-nos a poetisa modernista Cecília Meireles no livro Romanceiros da Inconfidência, de 1953.

O feriado da Proclamação da República é comemorado no dia 15 de novembro. A data lembra o momento que Marechal Deodoro da Fonseca rompe com a monarquia e se torna o primeiro presidente federativo do Brasil, implantando um governo republicano em 1889. O evento aconteceu no Rio de Janeiro, a então capital do país.

Destaque-se que o Brasil era o único país independente do continente americano governado por um imperador. A independência do país havia sido conquistada em 7 de setembro de 1822, através da assinatura do decreto por Dona Leopoldina e da ação de Pedro I.

O fato que potencializou o movimento republicano foi a abolição da escravatura, através da Lei Áurea, assinada em 13 de maio de 1888.

 Esta data foi instituída como feriado nacional pela Lei nº 662, de 06 de abril de 1949, pelo Presidente militar Eurico Gaspar Dutra, o 16º presidente do Brasil e o único oriundo do Estado do Mato Grosso.

Origem do Hino da Proclamação da República

Após a proclamação da República, o governo queria mudar vários símbolos e propôs um concurso para escolher o novo hino nacional. No entanto, diante das resistências, Marechal Deodoro optou por adotar o novo hino como da República e manter o antigo como hino nacional.

A fim de criar símbolos da nova identidade republicana, o governo provisório abre um concurso para eleger a versão oficial do Hino Nacional. Este é realizado em 20 de janeiro do mesmo ano, no Teatro Lírico do Rio de Janeiro.

Os vencedores foram José Joaquim de Campos da Costa de Medeiros e Albuquerque, autor da letra., Natural do Recife (PE) foi professor, jornalista, político, contista, poeta, romancista, dramaturgo, dentre outros. E a música do maestro Leopoldo Miguez, compositor. Natural de Niterói (RJ), foi um músico renomado em sua época, tendo concluído seus estudos musicais na Europa.

Esta foi escrita em linguagem rebuscada e ufanista e nem a letra, nem a melodia, conquistaram os militares e a população.

Apesar de terem ganho o concurso, a música de Leopoldo Miguez e a letra de Medeiros e Albuquerque, não foi utilizada para representar a nação. Os militares e a população sentiam-se identificados pela melodia do antigo hino nacional, que era entoada desde 1822. O hino foi preterido  e deixou de ser oficializado como o Hino Nacional.

Sendo assim, a música e a poesia foram aproveitadas para ser o Hino da Proclamação da República, através do Decreto n° 171, assinado pelo Marechal Deodoro da Fonseca em 20 de janeiro de 1890.

Seu 1º verso canta:

“Seja um pálio de luz desdobrado

Sob a larga amplidão destes céus

Este canto rebel, que o passado

Vem remir dos mais torpes labéus!

Seja um hino de glória que fale

De esperanças de um novo porvir!

Com visões de triunfos embale

Quem por ele lutando surgir!”

Enquanto sua conclusão entoa:

“Do Ipiranga é preciso que o brado
Seja um grito soberbo de fé!
O Brasil já surgiu libertado,
Sobre as púrpuras régias de pé.
Eia, pois, brasileiros avante!
Verdes louros colhamos louçãos!
Seja o nosso País triunfante,
Livre terra de livres irmãos!”

No refrão do Hino da Proclamação da República cantamos:

“Liberdade! Liberdade!
Abre as asas sobre nós!
Das lutas na tempestade
Dá que ouçamos tua voz!”

No ano de 1989, a escola de samba carioca Imperatriz Leopoldinense,  comemorou o centenário da República utilizando uma parte do refrão do Hino em seu samba enredo; conquistou seu terceiro título na elite do carnaval, se recuperando da última colocação obtida no ano anterior; e  e a partir daí, os versos “Liberdade, liberdade, abre as asas sobre nós” ficaram célebres em todo o país e são frequentemente cantarolados até os dias atuais:

“Liberdade, liberdade!

Abra as asas sobre nós (bis)

E que a voz da igualdade

Seja sempre a nossa voz!”.

GILMAR CARDOSO, advogado, poeta, membro do Centro de Letras do Paraná e fundador da Cadeira nº 01 da Academia Mourãoense de Letras.