Professor: quem ensinará amanhã?

Considero ser professor uma das funções mais complexas e decisivas para o futuro da sociedade, e isso sempre permeia minha mente. No entanto, a docência, assim como a educação em geral, atravessa uma crise que não surgiu de repente: ela vem se agravando há anos, resultado de perdas estruturais no sistema educacional brasileiro. Um estudo do Instituto Semesp projeta que faltarão cerca de 235 mil professores até 2040. Ao mesmo tempo, o Censo Escolar 2024 revelou a saída de 216 mil estudantes da educação básica, e ainda nem estamos considerando a evasão no ensino superior.

Esse desafio, porém, não é exclusivo do Brasil. Relatórios da UNESCO apontam para um déficit global de milhões de professores necessários para garantir a universalização da educação de qualidade. O declínio do prestígio da profissão, somado a salários pouco atrativos, excesso de burocracia e condições adversas de trabalho, afasta jovens talentos. E, mesmo onde ainda existe vocação para ensinar, muitos desistem diante da dura realidade da sala de aula.

Esse descompasso entre expectativas e realidade repercute no cotidiano escolar. O novo professor entra desmotivado e o aluno também. O PISA 2022 já apontava estagnação e queda em leitura e em outras áreas entre estudantes brasileiros, revelando um desafio duplo: formar profissionais capazes de inovar no ensino e, ao mesmo tempo, resgatar o interesse dos jovens pelo aprendizado. Baixos índices de leitura, pouco engajamento e falta de perspectiva criam um círculo vicioso difícil de romper.

A pergunta que fica é: como mudar esse cenário? Não podemos aceitar esse quadro como destino inevitável. A resposta passa pela valorização efetiva da carreira docente, com planos de carreira sólidos, melhores salários e condições de trabalho adequadas; pela revisão da formação inicial e continuada, aproximando universidades e escolas; por políticas públicas que incentivem o ingresso e a permanência de professores em áreas carentes; e pelo fortalecimento de uma cultura leitora que envolva família, comunidade e espaços públicos. Não menos importante é devolver prestígio social à profissão, mostrando que professores não são apenas transmissores de conteúdo, mas formadores de cidadãos e pilares do desenvolvimento.

O futuro da educação só se constrói com coragem, de investir, de valorizar e de reconhecer. Nossos professores não são meros transmissores de conhecimento, mas formadores de cidadãos e alicerces de todo o desenvolvimento humano. Claro que não há fórmulas prontas nem soluções mágicas nestas minhas poucas linhas de opinião; os desafios da educação exigem uma discussão profunda, compromisso e políticas consistentes.

Mas este texto pode ser um convite à reflexão: como sociedade, precisamos assumir nosso papel para que a transformação aconteça. Sigo acreditando que, se cuidarmos de quem cuida do futuro, ainda será possível escrever uma nova história para a educação.

Rosinaldo Nunes Cardoso é Administrador, Especialista em Gestão de Pessoas e Estratégias Competitivas, Mestre em Administração com foco em Empreendedorismo, Inovação e Mercado, e Diretor de Pesquisa e Gestão do IPPLAN – Instituto de Pesquisa e Planejamento de Campo Mourão.